Renan fala em “crimes contra humanidade” e cita ditadores condenados internacionalmente na abertura da CPI

Agora, estratégia do governo é chamar médicos que defendem cloroquina

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A CPI da Pandemia foi instalada ontem – e o primeiro dia de funcionamento do colegiado foi de derrotas seguidas para o governo Jair Bolsonaro. Os aliados do Planalto lançaram mão do ‘kit obstrução’: foram mais de duas horas tentando barrar a eleição do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), e depois a indicação de Renan Calheiros (MDB-AL) como relator. No processo, o governista Ciro Nogueira (PP-PI) rachou com os colegas da base aliada e votou não em Eduardo Girão (Podemos-CE), mas em Aziz.

Já o filho 01, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), fez queixas sobre a “ingratidão” do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que manteve a instalação da comissão, a despeito da liminar que barrava a indicação de Renan: “Pacheco diz que decisão [do STF] não se discute, se cumpre. Mas passados alguns dias, a Justiça determina que Renan não seja relator, e ele diz que não vai cumprir”. Segundo o senador, Pacheco não teve “consideração” pelo governo por não ‘buscá-lo’ para ouvir o ponto de vista do Planalto. E a despeito de todo o histórico familiar, chamou o presidente do Senado de “irresponsável” porque “em algum momento as audiências e as sessões terão que ser presenciais”, e isso seria um risco para parlamentares e funcionários. 

Mas nada disso deu certo – e, para completar, no meio da confusão para impedir a assunção de Renan à relatoria, os senadores foram informados que o Tribunal Regional Federal da 1ª Região havia caçado a liminar do juiz Charles Renaud Frazão de Moraes que impedia o emedebista de ser nomeado.

‘Empossado’, o emedebista fez um discurso duro contra Bolsonaro: “Não foi o acaso ou flagelo divino que nos trouxe a este quadro. Há responsáveis, há culpados, por ação, omissão, desídia ou incompetência e eles serão responsabilizados. Essa será a resposta para nos reconectarmos com o planeta. Os crimes contra humanidade não prescrevem jamais e são transnacionais. Slobodan Milosevic [ditador sérvio, 1941-2006], e Augusto Pinochet [ditador chileno, 1915-2006] são exemplos históricos. Façamos nossa parte”, disse.

Renan anunciou que vai requisitar todos os documentos do governo federal sobre a aquisição de vacinas, aquisição de medicamentos ineficazes contra a covid-19, crise de Manaus… O martelo sobre o plano de trabalho será batido amanhã, durante a segunda reunião do colegiado. 
Há um acordo que prevê que o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, seja o primeiro a ser ouvido, na terça-feira que vem. Dessa forma, a comissão seguiria a ordem cronológica, chamando depois Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga. 

Já são mais de 170 requerimentos apresentados ao colegiado. Muitos deles fazem parte da estratégia do governo. Parlamentares aliados querem ouvir médicos que defendem o uso de cloroquina & cia, como Nise Yamaguchi – que na quinta-feira passada, esteve no Palácio do Planalto para uma reunião. Também faz parte dessa estratégia tentar desviar o foco do governo federal para estados e municípios, com solicitações de informações sobre o uso dos recursos transferidos pela União na pandemia. 

“Os requerimentos dependem da aprovação da maioria da comissão – os governistas estão em minoria, com quatro dos 11 membros titulares”, destaca uma matéria d´O Globo.

Em tempo: Uma reportagem no site da revista Nature entrevistou cientistas brasileiros e mostra ao mundo uma lista enorme de críticas a Jair Bolsonaro, dentre elas a que o presidente provocou “uma crise épica na saúde pública”. 

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