Próstata: o exame regular é necessário?

Há polêmica sobre a importância de submeter pacientes assintomáticos ao exame clínico, teste de PSA e biópsia prostática. Há muitos falsos-negativos e possíveis sequelas

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Um aspecto da matéria principal do boletim Outra Saúde em 4/11 chamou atenção do leitor Henrique Sater, médico sanitarista muito presente nas lutas pelo SUS. Segundo ele, são “questionáveis” as evidências que recomendam rastrear periodicamente o câncer de próstata com urologistas, em pacientes assintomáticos.

A matéria trata de um tema mais amplo: a redução do número de atendimentos médicos durante a pandemia, que poderá ter consequências graves para a Saúde pública. Mas o questionamento de Sater procede. De acordo com diversos pesquisadores, os males trazidos pelos exames de PSA e de toque são maiores que os benefícios – e a campanha Novembro Azul deveria mudar de foco.

Já em 2015, aliás, a Sociedade Brasileira de Medicina da Família & Comunidade divulgou nota em que sustenta: “Fazer PSA com ou sem toque retal não diminui a mortalidade geral dos homens, e muda muito pouco a mortalidade específica por câncer de próstata”. Além de pouco eficaz na prevenção, o procedimento teria “potenciais malefícios, quase sempre relacionados à realização desnecessária de biópsia prostática (que pode provocar sangramentos, febre, infecção prostática e retenção urinária), ao impacto psicológico causado por um resultado falso-positivo, e às sequelas do tratamento”.

Rob Janett, médico e professor das escolas de Medicina de Harvard e Brown Alpert, entrevistado por equipe da Telessaúde RS, da UFRGS, concorda. Ele afirma que é muito fácil, para o médico, pedir exames. Mais difícil é estabelecer uma relação com o paciente em que entenda seu histórico, objetivos e desejos, para chegarem juntos à conclusão sobre a feitura ou não do rastreamento. Para ele, a campanha do Novembro Azul traria muito mais benefícios se abordasse temas como violência, prevenção de acidentes automóveis, prevenção de ISTs, detecção precoce de câncer de intestino. Para esses problemas, há tratamento com evidências científicas muito mais robustas.

Já a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda o exame periódico, mesmo sem sintomas, como registrado em nossa matéria. Fica registrada a polêmica.

Imagem: Instituto Claro

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