Pazuello culpa variantes e cala sobre medidas de prevenção

Ministro se coloca em posição confortável e diz que piora no quadro da pandemia se deve à P1, que já estaria em todo o país e esquece que Reino Unido e África do Sul tiveram sucesso na redução de casos com adoção de lockdown e restrições

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O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tem se colocado em uma posição confortável ao creditar a piora da pandemia no Brasil à circulação de novas variantes, especialmente a de Manaus – como se ela fosse irrefreável, uma surpresa do destino da qual não poderíamos escapar.

Ontem, em reunião com secretários de saúde, ele voltou a dizer que a cepa de Manaus é três vezes mais transmissível (o que, até onde se sabe, não foi calculado em lugar nenhum) e que, por isso, estamos enfrentando uma “nova etapa” da pandemia. E emendou: “Esse vírus ou essa cepa já faz parte do cotidiano e já está em muitos estados brasileiros. Não é uma situação de ‘não vamos deixar chegar aqui, em tal lugar’. Ela já está”.

Pois é… Poderia não estar, se os níveis federal e estadual tivessem feito alguma coisa para evitar seu espalhamento. Na verdade, ela poderia nem existir, se não houvesse condições ideais para que aparecesse. Por aqui, salientamos que, embora essa cepa já esteja em vários estados, não sabemos se é dominante nos locais que enfrentam maiores problemas agora, portanto não dá para saber se está mesmo relacionada ao caos generalizado que vai se instalando.

Nesta semana, o Ministério da Saúde anunciou ter descoberto ao todo 204 infecções relacionadas às novas variantes em vários estados, sendo 184 da brasileira e 20 casos da originada no Reino Unido. O problema é que não se sabe direito quantas amostras passaram por sequenciamento genético no mesmo período em que esses casos foram identificados – então não dá para estimar qual o percentual que as novas cepas representam em cada estado. De acordo com dados da Rede Genômica Fiocruz, foram feitos, no total, 3,7 mil sequenciamentos genéticos no Brasil, mas seria importante que o Ministério informasse os dados semanais. 

De todo modo, mesmo que possam ser mais transmissíveis ou escapar da imunidade, as novas cepas não se esquivam dos meios de prevenção que já conhecemos bem: ventilação, distanciamento social, máscaras de qualidade, higiene – e Pazuello sequer as mencionou.  

Reino Unido conseguiu conter as transmissões por lá, com lockdown rigoroso e muita vacina. A África do Sul também segurou sua curva e baixou tremendamente os casos, internações e mortes no último mês – sem vacinas, e estando  totalmente dominada pela cepa que até agora se mostrou mais preocupante. O que o país fez foi decretar restrições de mobilidade desde o fim de dezembro, que nem foram tão duras quanto as do Reino Unido, mas também alcançaram bons efeitos. 

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