Para apagar o incêndio

Aviões da FAB levam oxigênio a Manaus, Venezuela libera estoque da White Martins e governo federal pede ajuda aos EUA – mas nada vai ser suficiente se circulação do vírus não baixar

Foto: Divulgação / FAB
.

Este texto faz parte da nossa newsletter do dia 15 de janeiro. Leia a edição inteira.
Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

O MPF e outros quatro órgãos públicos decidiram pedir na Justiça Federal que a União apresente um plano de abastecimento, promova a transferência de pacientes para outros estados e requisite cilindros, tanto da indústria nacional quanto de outros estados. O documento ainda pede que o governo federal reative usinas localizadas no Amazonas para produzir oxigênio e apoie o estado nas medidas de contenção da covid-19. “A gente tem oxigênio pelo país, a gente não tem uma logística estabelecida porque tem um vácuo no governo federal. As pessoas são tiradas do oxigênio, elas sufocam e morrem. Elas são colocadas em máscaras e essas máscaras duram pouquíssimo tempo. Basicamente é isso”, diz o procurador Igor da Silva Spindola, no Estadão, ressaltando que cabe à União coordenar a entrega do insumo.

Para apagar esse incêndio, a corrida agora é pelo envio de mais cilindros. O transporte é complicado: como há risco de explosão, não é qualquer avião que pode fazê-lo. E, segundo a Procuradoria da República no Amazonas, o fim do oxigênio ontem aconteceu devido a problemas na aeronave que levaria o insumo, identificados pela manhã. 

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello,disse que seis aeronaves da FAB vão ser usadas nesse transporte, mas há que se confirmar se isso vai mesmo acontecer. Segundo o Estadão, há menos aviões disponíveis do que deveria, por pura falta de manutenção. “Dos 12 aviões cargueiros Hércules C-130 que a FAB tem, uma média de apenas três ou quatro estão voando.  No momento, um está efetivamente em operação e o segundo, saindo da fase de manutenção, possivelmente ainda esta noite, para também fazer o transporte de cilindros de oxigênio de São Paulo para Manaus”, diz a reportagem.  No fim da noite, o G1 informou a decolagem desses dois aviões. Ao todo, eles vão transportar 386 cilindros.  

A White Martins, que produz oxigênio hospitalar em Manaus, já está com sua produção no limite e mesmo assim só consegue metade da quantidade necessária para atender à cidade hoje. Disse, aliás, que já havia comunicado formalmente a situação tanto ao governo do estado como ao governo federal, solicitando apoio. Segundo a empresa, a demanda cresceu cinco vezes em apenas duas semanas. O volume necessário hoje é de 75 mil metros cúbicos por dia – mais que o dobro dos picos de abril e maio, quando nos chocamos com o colapso na cidade pela primeira vez. E ainda há uma demanda diária de outros 15 mil metros cúbicos no resto do estado

A empresa afirmou que buscaria o estoque de suas operações na Venezuela. Sim, a Venezuela de Nicolás Maduro. O presidente orientou que sua diplomacia atendesse ao pedido. A remessa está confirmada, mas ainda não sabemos que volume de oxigênio será conseguido nela. Além disso, o governo do Amazonas requisitou o estoque de outras 11 empresas, via notificação extrajudicial. E o governo federal pediu que um avião dos Estados Unidos ajude no transporte.

Os cilindros extras que estão chegando podem ajudar a segurar a situação por alguns dias, mas, como o número de pessoas necessitando de internação não para de aumentar, já existe a preocupação com o que vai acontecer quando essas novas remessas acabarem também. 

Verdade seja dita, a falta de oxigênio só confirma o que se sabe desde o começo da pandemia: quando a circulação do coronavírus é muito alta, não há sistema de saúde que dê conta – muito menos em locais onde os serviços já eram precários. Para estancar os novos casos, o governador Wilson Lima finalmente emitiu um novo decreto restringindo a circulação de pessoas e permitindo apenas as atividades essenciais nos próximos dias. Será que agora vai vingar?

Resposta-padrão

Eduardo Pazuello tem algumas explicações para o que anda acontecendo em Manaus, e avaliou a situação em transmissão ao vivo com o presidente Jair Bolsonaro. Falou sobre algumas obviedades, como a precariedade na infraestrutura hospitalar, mas também culpou as chuvas. E, é claro: a falta de “tratamento precoce”… Porque tudo poderia ter sido evitado com um fajuto kit-covid. Já o presidente gastou pouca saliva falando do problema na cidade, restringindo-se à defesa da cloroquina.

Pois é. Na mesma live, Pazuello disse que a ciência não comprovou a eficácia do uso de máscaras e do isolamento social. E arrematou, cravando que sol, felicidade, boa alimentação e esporte ajudam a combater a doença. 

Em tempo: o Ministério lançou um aplicativo para orientar profissionais de saúde no manejo dos casos. Poderia ser bom, mas é só mais um estímulo à prescrição de remédios sem eficácia comprovada:  hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina.

A prefeitura de Manaus e o governo do Amazonas se renderam. Segundo o Estadão, recomendaram ontem, pela primeira vez, o tal “tratamento precoce”. 

Leia Também: