O sincericídio da Nestlé

Meio trilhão dos lucros da gigante de alimentos vêm de produtos não saudáveis, segundo apresentação da própria empresa

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A maior empresa de alimentos do mundo foi flagrada admitindo que vende produtos que fazem mal à saúde. Uma apresentação da Nestlé que circulou entre os principais executivos da companhia este ano foi obtida pelo jornal britânico Financial Times. Nela, a gigante afirma que 63% dos seus produtos não alcançam a definição mínima de alimento saudável (3,5 pontos) da Austrália, uma das escalas mais usadas por cientistas no mundo. Esse naco representa nada menos do que metade da receita da multinacional, equivalendo R$ 537 bilhões.

Se os produtos são separados por tipo, a coisa é ainda pior: 96% das bebidas (com exceção do café puro) e nem 99% dos sorvetes e doces da companhia são minimamente saudáveis. 

Na apresentação, há um sincericídio que as autoridades sanitárias em todo o mundo – inclusive a OMS – deveriam ser obrigadas a ler várias vezes antes de apostar em acordos de reformulação em que a indústria promete reduzir certos ingredientes: “algumas de nossas categorias e produtos nunca serão ‘saudáveis’, não importa o quanto reformulemos”.

“Fizemos melhorias significativas em nossos produtos [mas] nosso portfólio ainda apresenta desempenho inferior em relação às definições externas de saúde em um cenário onde a pressão regulatória e as demandas do consumidor estão disparando”, também reconhece a apresentação da Nestlé.

Há bons exemplos da distância entre realidade e marketing no documento. “Perfeito no café da manhã para preparar as crianças para o dia”. É o que se lê na embalagem do Nesquik com sabor de morango, um produto que contém 14 gramas de açúcar em… cada porção de 14 gramas (na formulação dos EUA).

O Brasil é o quinto maior mercado para vendas da Nestlé, só atrás dos Estados Unidos, da China, França e Reino Unido.

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