O que significam os números de vacinados nos hospitais?

Hospitalizações na capital paulista caíram quase 70% desde maio. Alto percentual de vacinados entre os pacientes é esperado porque praticamente a população adulta inteira já recebeu ao menos uma dose. Entenda

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A coluna de Mônica Bergamo trouxe ontem, na Folha, duas informações a partir de um levantamento da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. A primeira, e mais relevante, é que as hospitalizações na cidade caíram 68% desde o fim de maio, quando havia 1.993 pessoas internadas – sendo 1.132 em UTIs, que operavam com lotação máxima. Esses números de maio contrastam com os registrados agora, no último dia 13: 629 internações, sendo 300 em UTIs. Uma redução drástica.

A segunda informação é que, dos pacientes hospitalizados neste momento, 51,6% já tinham tomado as duas doses das vacinas contra a covid-19 (ou a dose única da Janssen) e 30,1% tinham tomado a primeira dose, mas ainda não a segunda. Ou seja, mais de 80% estavam ao menos parcialmente protegidos. Esse tipo de dado causa um estranhamento: se as vacinas são muito eficazes contra hospitalizações e mortes, não deveria ser o contrário – não deveria haver muito menos vacinados nos hospitais?

Na verdade não, ou pelo menos não nesse caso, quando o percentual de vacinados na população já é muito alto. Na cidade de São Paulo, praticamente todos os adultos já tomaram a primeira dose (o percentual já até ultrapassa os 100%, mas porque envolve pessoas de outros municípios que se vacinaram lá) e 65% estão totalmente vacinados; além disso, 81% dos adolescentes receberam a primeira dose. 

Sabemos que nenhuma vacina oferece proteção completa, então o risco de hospitalização sempre existe. No limite, se 100% da população estiver vacinada, uma única internação vai significar que 100% dos internados estão vacinados. “A adesão à vacinação foi total na cidade. Portanto, muitos dos internados, a partir de agora, estarão vacinados”, explica, ainda na coluna, o secretário-adjunto Luiz Carlos Zamarco, que coordenou o trabalho.

O importante é ver que, proporcionalmente, a população não vacinada vai ter muito mais internados. Por exemplo: num grupo de mil pessoas com uma cobertura parecida com a de São Paulo, em que 98% tenham tomado pelo menos a primeira dose, teríamos 980 vacinados (parcial ou totalmente) e 20 não vacinados. Imagine que, neste grupo, quatro pessoas vacinadas estão no hospital, contra apenas uma sem vacina. Isso significa que 80% dos hospitalizados haviam recebido a vacina.

Porém… Essas quatro pessoas são apenas 0,4% do grupo vacinado. Já a única pessoa sem vacina que está no hospital significa 5% dos não-vacinados – assim, o risco de precisar se hospitalizar nesse grupo é quase 13 vezes maior. O exemplo é hipotético, mas serve para sublinhar o que se precisa ter em mente para entender números que, à medida que a vacinação avança, devem se tornar cada vez mais comuns.

Em tempo: o Instituto de Pesquisa Clínica Carlos Borborema divulgou esta semana os primeiros resultados do CovacManaus, um estudo de acompanhamento de cinco mil pessoas com comorbidades vacinadas na capital amazonense. Após seis meses, 2,6% dos participantes tiveram uma infecção confirmada por covid-19, 0,1% foram hospitalizadas e apenas uma pessoa morreu (0,02%).

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