Novo teste pode alavancar pesquisas com Alzheimer

Exame de sangue experimental identifica doença anos antes dos sintomas. Cientistas esperam avançar em testes clínicos com medicamentos

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Uma equipe de cientistas de vários países anunciou ontem uma boa descoberta: um exame de sangue experimental desenvolvido por eles conseguiu diagnosticar a doença de Alzheimer de forma precisa, barata e pouco invasiva. O teste foi usado em mais de 1,4 mil pessoas na Suécia, nos Estados Unidos e na Colômbia, e mediu a quantidade da proteína fosfo-tau217, cuja concentração é elevada no sangue de pessoas com a doença. Segundo os autores, foi possível prever a demência com uma precisão que variou entre 89% e 98% – mas ainda são necessários estudos com populações mais diversas e em ensaios randomizados antes que o exame possa estar disponível. Os resultados foram apresentados na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer e publicados na revista JAMA.

Faz vários anos que pesquisadores buscam desenvolver esse tipo de teste porque, hoje, o diagnóstico é feito apenas com de testes de memória, exames cerebrais e análises do líquido espinhal depois que os sintomas já apareceram (e mesmo depois que os pacientes já morreram). A questão é que os sintomas só aparecem anos, ou décadas, depois da doença. Um exame de sangue permitiria rastrear o problema em pessoas com histórico familiar de Alzheimer desde cedo, muito antes que apareça qualquer comprometimento cognitivo. 

Uma vez que não há cura, a notícia traz inevitavelmente a pergunta: se um diagnóstico precoce baseado em exame de sangue estivesse à disposição, para que serviria? No curto prazo, provavelmente haveria poucos benefícios na vida dos pacientes, como atenta o jornalista Gary Schwitzer no Health News Review. Há uma esperança de que identificar precocemente proteínas tau poderia ajudar na pesquisa de medicamentos; porém, ainda não se sabe se essas proteínas são causa ou consequência da doença. 

Mas desenvolver tratamentos que possam ser usados em estágios iniciais da doença é, sem dúvidas, uma meta. E a dificuldade no diagnóstico precoce é algo que limita muito os estudos clínicos com potenciais remédios. Se um exame de sangue preciso for descoberto, mais gente vai poder se inscrever nesse tipo de ensaio, o que deve impulsionar a busca por terapias. Em outras palavras: saber que se tem a doença de Alzheimer 20 anos antes de ela se manifestar não traz necessariamente benefício individual (na verdade, conviver com a sombra de uma doença sem cura pode ser bem ruim), mas abre caminho para pesquisas futuras.

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