Novo imunizante pode impulsionar vacinação

Vacina da Novavax mostrou alta eficácia e pode ser mantida em geladeira comum. Dados sobre variantes ainda são limitados, mas produção pode beneficiar países de baixa e média renda.

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Mais uma vacina contra covid-19 apresentou resultados excelentes em um ensaio de fase 3 e pode em breve ajudar a impulsionar a vacinação no mundo: a Novavax anunciou ontem que é 90% eficaz contra doença sintomática. É um valor muito próximo ao das vacinas de mRNA da Pfizer e da Moderna, às quais a maior parte do planeta ainda não tem acesso. E com uma enorme sobre essas duas: pode ser armazenada em geladeira comum. Além disso, no ensaio, teve poucos efeitos adversos.

O estudo envolveu 29.960 voluntários nos Estados Unidos e no México, e os dados se referem a 77 infecções registradas: 63 no grupo placebo e 14 entre os que receberam a vacina. Houve dez infecções moderadas e quatro graves entre os que receberam placebo, mas, no braço da vacina, todos os casos foram leves. 

Além de o resultado geral ser muito animador, há também o fato de que, segundo a empresa, o imunizante foi 93% protetor contra as variantes de preocupação e as variantes de interesse. Mas é preciso ressaltar que a maior parte dos voluntários infectados com variantes estava com a Alfa (identificada primeiro no Reino Unido e hoje dominante nos EUA). Aparentemente, não houve nenhum registro com a Delta (originada na Índia), e poucas infecções foram causadas pela Gama (identificada no Brasil) e Beta (na África do Sul). Então, não dá para concluir muita coisa em relação a essas três.

Em tempo: essa vacina usa uma tecnologia diferente das outras já em uso e combina abordagens novas e antigas. Está muito bem explicado neste texto antigo do New York Times, mas, em resumo, é o seguinte: os cientistas pegam um vírus de mariposa chamado baculovírus e inserem nele informação genética para fazer a proteína spike do SARS-CoV-2. Depois, deixam o baculovírus infectar as células da mariposa; essas células infectadas produzem proteínas spike, que os cientistas coletam e montam em nanopartículas. As nanopartículas mimetizam a estrutura molecular do coronavírus, mas não podem se replicar. A vacina é cheia delas, junto com um adjuvante, que aumenta a resposta imunológica.

Para onde não tem

A Novavax foi uma das empresas fomentadas pela Operação Warp Speed, quando, em 2020, o governo Donald Trump lhe repassou US$ 1,6 bilhão para contratar 100 milhões de doses futuras. Foi um tremendo investimento, até porque a empresa nunca havia lançado nenhuma vacina no mercado, como lembra o New York Times.

Agora, o novo imunizante chega tarde para os EUA, onde a oferta de outras opções já é mais do que suficiente.  Há o resto do mundo, porém. A farmacêutica até pretende pedir autorização para uso à FDA (agência dos EUA), mas acredita que a aprovação deve sair primeiro em outros países.

A empresa fez um acordo com a Gavi Alliance para entregar 1,1 bilhão de doses para a Covax Facility, e está firmando parcerias com fabricantes da Índia e da Coreia do Sul para aumentar a produção. As solicitações para aprovação serão feitas no terceiro trimestre; antes disso, é preciso completar as fases finais de qualificação do processo e a validação do ensaio. A Novavax afirma poder fabricar 100 milhões de doses por mês até lá. A promessa é que, depois, a produção mensal aumente para 150 milhões. 

O porém dessa história é que há alguma evidência – limitada – de que a variante Beta pode escapar da imunidade produzida por essa vacina. Em janeiro, quando a Novavax divulgou seus primeiros resultados preliminares, ensaios realizados no Reino Unido e na África do Sul retornaram dados muito diferentes: no país europeu, onde metade dos casos identificados já eram da variante Alfa, a eficácia geral foi de 89,3%; já no país africano, onde a Beta reinava, ela foi de 49,4%. Mas esse estudo envolveu um número pequeno de voluntários e vários deles eram HIV-positivos, o que pode prejudicar as vacinas. Ou seja: os resultados de ontem corroboram o que foi encontrado no Reino Unido, mas ainda não é possível avaliar como a vacina se comporta com a Beta.

No entanto, todas as vacinas até aqui têm mostrado alguma proteção contra as variantes, especialmente contra hospitalizações e mortes, de modo que o otimismo com a Novavax é muito justificado. Alem disso, a empresa está investigando uma versão reformulada voltada especificamente para a Beta.

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