MPF investiga mais um possível ensaio clandestino com proxalutamida

Superintendente de hospital em Gramado disse, em entrevista em março, que a institução conduzia uma “pesquisa” com pacientes de covid-19. MPF suspeita que se trate da mesma empreitada realizada de forma irregular em hospital militar de Porto Alegre

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Por Leila Leal

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Pode ter ido mais longe o suposto ensaio clínico clandestino com a proxalutamida, a “nova cloroquina” de Bolsonaro, no Rio Grande do Sul. O Ministério Público Federal do estado abriu um inquérito civil público para apurar se os testes irregulares em pacientes com covid-19 aconteceram também em um hospital na cidade de Gramado no início deste ano, segundo o jornal gaúcho Zero Hora

A suspeita do MPF é que o experimento faça parte do mesmo “estudo” conduzido no  Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre, que também é alvo de investigação. As primeiras denúncias apontam fragilidades na obtenção do consentimento dos pacientes para participação na “pesquisa” e a ausência de autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e da Anvisa, além da infração das normas sanitárias no uso da droga. 

A nova investida do MPF foi motivada por uma entrevista concedida por Marcio Slaviero, superintendente do Hospital Arcanjo São Miguel, de Gramado, a uma rádio local em março. Na ocasião, ele teria mencionado que a instituição conduzia uma “pesquisa” com a proxalutamida para tratar pacientes internados com covid-19. Segundo o jornal, ele chegou a informar a duração dos testes – 20 dias – e afirmou ter a “impressão” de que os resultados seriam positivos, após alguns pacientes terem respondido bem ao “tratamento”. 

Como contamos aqui, após o escândalo a Anvisa decidiu suspender temporariamente a  importação e o uso de produtos que contenham a droga – um medicamento experimental contra o câncer de próstata – para a realização de pesquisas em humanos no país. A decisão, unânime, foi tomada pelo órgão no início deste mês. Na ocasião, a Anvisa informou ainda sobre a abertura de investigação e a instauração de um processo administrativo para apurar possíveis irregularidades na apresentação dos documentos necessários à obtenção da licença para importação do medicamento. 

Um lembrete: o major-médico Christiano Perin, chefe da UTI do Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre na época dos supostos experimentos, se esquivou das acusações e negou coordenar a iniciativa. Ele citou  o endocrinologista Flávio Cadegiani e o infectologista Ricardo Zimerman como responsáveis pelo experimento. Os dois, conhecidos nas redes sociais por defenderem o “tratamento precoce” e questionarem a eficácia das vacinas, participaram da pesquisa que embasou a criação do TrateCov, aplicativo do Ministério da Saúde que receitava cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina a pacientes supeitos de infecção por covid e que durou apenas dez dias no ar. 

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