Hipóteses por trás das internações em crianças e idosos

Estudo da Fiocruz aponta que hospitalizações por síndrome respiratória aguda grave vêm crescendo novamente no Rio

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Um estudo da Fiocruz, ainda em fase de conclusão, aponta que as internações de idosos por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) vêm crescendo de novo no Rio de Janeiro, após cerca de quatro meses de queda. Os gráficos mostram um aumento mais preocupante para os maiores de 80 anos, que têm um número de internações hoje próximo ao dos picos anteriores à vacinação. A análise também mostra aumento nas internações de crianças entre zero e nove anos, que estão no pior momento desde o início da pandemia. O estatístico Leonardo Bastos, autor do trabalho, diz que retomadas semelhantes para as mesmas faixas etárias estão em curso em São Paulo, mas em menor escala.

Se por um lado isso preocupa, por outro há também dados que trazem alívio: o aumento nas hospitalizações não se reflete nos óbitos. Para as crianças pequenas, as mortes estão semelhantes às observadas imediatamente antes da pandemia. Para os maiores de 80 anos, seguem estáveis num patamar semelhante ao observado entre julho e outubro de 2020 (que foi um período de baixa entre as duas ondas).

As explicações sobre a alta nas internações e a baixa nos óbitos não estão fechadas, e diferem dependendo da faixa etária analisada. Para crianças, Bastos acredita que podemos estar diante de infecções por outros vírus que costumam afetar a faixa dos 0 a 9 anos de idade e que estão camufladas pelo SARS-CoV-2.

“Vamos supor que uma criança dê entrada no hospital com SRAG causada por outro patógeno, mas também esteja infectada com o coronavírus. Ou seja, ela teve uma segunda infecção. Nesse caso, não se trata de uma SRAG causada por covid, e sim de uma SRAG em pessoa com covid confirmada. É uma possibilidade que levantamos tendo em vista que o padrão de aumento registrado nessa faixa etária não se repete entre outros grupos de menores de idade, como o de 10 a 19 anos”, explica, n’O Globo. 

No site da Fiocruz, ele completa que a alta demanda nos laboratórios tem levado a se testar primeiro para covid-19 e, dando positivo, não se fazem testes para outros vírus que provocam doença grave nas crianças pequenas.

Quanto aos idosos, uma hipótese é que muitos estejam se descuidando após a vacinação, aumentando suas chances de contrair o vírus. Outra é que os casos estejam se concentrando entre quem não tomou as vacinas. Os números também podem refletir a perda da proteção dos imunizantes ao longo do tempo – a alta veio antes nos maiores de 80, que se vacinaram primeiro, semanas depois nos septuagenários, então nos sexagenários. Há também a possibilidade de a alta ter a ver com a baixa proteção da CoronaVac para maiores de 80 anos, que foi observada recentemente em outra pesquisa. Essa foi a vacina tomada por grande parte dos idosos dessa faixa. Seja qual for a explicação, a manutenção das mortes num nível baixo é uma boa notícia, e é preciso ver o que acontece daqui por diante: “Pode ser que as vacinas sejam mais eficazes em evitar óbitos, ou que essas pessoas hospitalizadas que vemos agora ainda não tenham morrido”, pondera o autor, na Folha. 

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