Anúncio da CureVac frustra grandes expectativas

Farmacêutica alemã anunciou eficácia global de 47% em análise preliminar da fase 3. Imunizante de RNA mensageiro despertou cedo interesse por características favoráveis, como estabilidade no armazenamento e preço mais baixo

Artur Widak/NurPhoto via Getty Images
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A farmacêutica alemã CureVac informou ontem que, em análise preliminar dos ensaios de fase 3, sua candidata a vacina contra a covid-19 só teve 47% de eficácia global contra a covid-19. O percentual está abaixo do piso sugerido pela OMS, que é de 50%.

Havia grande expectativa rondando a CureVac, que trabalha com RNA mensageiro há duas décadas, desde quando a BioNTech (parceira da Pfizer) e a Moderna ainda nem existiam.

A empresa começou a desenvolver o imunizante cedo, em janeiro do ano passado. Conseguiu que, mesmo com tecnologia de mRNA, seu produto final tivesse estabilidade para ser  mantido a 5° C, ao contrário das concorrentes.

Firmou parcerias com gigantes farmacêuticas, como Bayer e Novartis, para transferência de tecnologia e aumento da produção (a Bayer está atuando também no desenvolvimento).

Além disso, apostou em uma dosagem quase dois terços menor do que a da Pfizer, o que permitiria maior produção e preços mais baixos.

Ainda não havia acordos de compra com nações mais pobres, mas a Europa tinha pedido mais de 400 milhões de doses – o que sempre é uma chance de liberar outras opções para o resto do mundo.

Por tudo isso, o anúncio de seus números foi muito frustrante, embora não se trate ainda de uma análise final. O estudo envolveu 40 mil voluntários em dez países da Europa e da América Latina, e até agora foram observados 134 infecções ao todo; segundo o protocolo, para concluí-lo, é preciso chegar a 160. Mas não é muito provável que o cenário melhore. 

Como tem acontecido, os dados foram divulgados apenas em um comunicado à imprensa que dá poucos detalhes. O texto diz, por exemplo, que os números “sugerem eficácia em participantes mais jovens, mas não permitem concluir sobre eficácia na faixa etária acima de 60 anos”.

A empresa afirma também que o fato de os testes terem sido conduzidos em um ambiente de muitas variantes (a contrário do que aconteceu com a Pfizer e a Moderna) pode ajudar a explicar a baixa eficácia. 

Dos casos relatados no estudo, 124 foram sequenciados para identificar a variante que causou a infecção. Apenas um caso foi atribuído à versão original do Sars-CoV-2, enquanto 57%  foram ligados às chamadas variantes de preocupação – no entanto, o documento não especifica quais foram elas. 

O restante correspondeu a outras cepas, incluindo a Lambda, que tem se espalhado na América do Sul e esta semana a OMS decidiu classificar como “variante de interesse”. Essa variante estava em 21% das amostras. 

A CureVac já estava pesquisando uma vacina de segunda geração, projetada para lidar com novas variantes, e vai continuar a empreitada. Há uma parceria com a GSK nesse sentido. 

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