CPI avança na quebra de sigilos

Devassa em mensagens trocadas e ligações realizadas e recebidas atingirá 19 personagens-chave do projeto de livre circulação de vírus do governo Bolsonaro

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Ontem, a CPI da Covid deu um passo concreto em direção ao esclarecimento da atuação do governo Bolsonaro na pandemia. Com chiadeira dos senadores da base aliada, o colegiado aprovou a quebra de sigilo telefônico e telemático de 19 pessoas. A devassa de mensagens trocadas e ligações realizadas e recebidas, dentre outros dados, atingirá um elenco variado de personagens que colaboraram oficial ou extraoficialmente para o caos sanitário brasileiro. 

No cordão daqueles que podem ser responsabilidades administrativamente estão os ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), assim como ex-integrantes do Ministério da Saúde – coronel da reserva Élcio Franco – e gente que dá ordens lá até hoje, caso de Mayra Pinheiro (Gestão do Trabalho e da Educação), Hélio Angotti (Ciência, Tecnologia e Insumos), Arnaldo Medeiros (Vigilância em Saúde) e Francieli Fontana (Programa Nacional de Imunizações).

Já na lista do povo sem cargo mas com poder de influência despontam o médico Paolo Zanotto, que defendeu a criação de um “gabinete das sombras” em reunião com a participação de Jair Bolsonaro, e o bilionário Carlos Wizard que circulou por semanas nos corredores do Ministério da Saúde com tanta moral que chegou a anunciar à imprensa que mandara cancelar a compra de ventiladores pulmonares. Mais tarde, ele se uniu ao folclórico Luciano Hang para fazer lobby pela vacinação privada e, hoje, foge da CPI: os senadores não conseguem contatar o empresário convocado a depor. A situação pode ficar animada a ponte de Omar Aziz (PSD-AM) determinar uma condução coercitiva para levá-lo ao Senado, segundo o Estadão.

O médico cloroquiner Luciano Dias Azevedo, apontado pela colega Nise Yamaguchi como o autor da famosa minuta de decreto para ampliar o uso da hidroxicloroquina, não ficou de fora. Nem o bolsonarista da vez, Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, autor de outra iniciativa “paralela” num contexto político em que o adjetivo abunda. O auditor do Tribunal de Contas da União é o autor do relatório com a tese de que há supernotificação de mortes por covid-19 no Brasil.

Destacamos ainda um alvo que representa a confluência entre o gabinete paralelo e o gabinete do ódio: o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, também terá seu sigilo quebrado.

Os senadores do G7 acreditam que os requerimentos, que preveem a quebra dos sigilos de abril do ano passado até o presente momento, poderão dar acesso às provas mais robustas da investigação contra Bolsonaro. “Teve cloroquina a torto e a direito. A troco do que, ninguém sabe. E agora o presidente disse que vai recomendar ao Queiroga fazer um decreto para quem já foi vacinado ou teve covid não usar máscara. É brincadeira”, criticou Aziz.

Como era de se esperar, a votação dos requerimentos foi tumultuada. O mais atuante dos titulares governistas, Marcos Rogério (DEM-RO), afirmou que “perde o Brasil” com o que chamou de medidas extremas e indevidas. O vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), rebateu que o “Brasil perdeu 480 mil vidas”.

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