Campeã de mutações, ômicron é bloqueada pelas linfócitos T

Pesquisas indicam: estas células asseguram que as defesas imunológicas já desenvolvidas – inclusive por vacinas ou cepas anteriores – mantêm proteção. No Brasil, novo estudo reafirma a efetividade dos quatro imunizantes aplicados

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O tremendo susto com a ômicron não é a única notícia agitando o universo pandêmico, este ano. Também há novidades positivas. As imunologistas Wendy Burgers e Catherine Riou, da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, mostraram, por exemplo, que as pessoas, em geral, já devem dispor de alguma proteção contra a variante ômicron. Mesmo que ela tenha um arsenal preocupante de mutações que, em princípio, poderiam driblar a defesa imunológica criada pelas vacinas e pela ampla circulação do coronavírus nos últimos dois anos.

O alívio relativo, dizem as pesquisadoras, deve-se à ação de personagens pouco comentadas do sistema imunológico – os linfócitos T, responsáveis por reações protetoras de longo prazo, nos organismos. A ação direta das vacinas anticovid busca outra estratégia: produzir anticorpos, moléculas de reação de defesa imediata. Desde que souberam da ômicron, informou a revista Nature, em 11/1, Catherine e Wendy entenderam que precisariam encontrar respostas para algumas perguntas importantes.

O genoma da ômicron, explica a revista, tem mais de 30 mutações na região que codifica a proteína “spike”, usada nas vacinas da covid-19. Ou seja, a grande eficácia das vacinas, até agora, poderia não continuar valendo para o caso da ômicron. “Com duas a três vezes a quantidade de mutações (das outras variantes), isso nos fez pensar: ‘Hmmm, precisamos responder a essa pergunta depressa’”, disse Wendy. E a resposta foi feliz: os linfócitos T não reagem apenas à proteína spike. Reconhecem os vírus por vários aspectos e os atacam de várias maneiras.

Ainda não se sabe, claro, como vão funcionar na prática as defesas dos linfócitos T já acionadas nas pessoas. Mas as expectativas são boas. Outros estudos estão sugerindo que a “memória” dessas guerreiras orgânicas será útil contra a ômicron. Uma semana antes do trabalho noticiado pela Nature, pesquisas da Universidade de Melbourne e da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong deram deram resultados similares sobre a ação dessas células.

Em outro contexto e em outra área de pesquisa, uma investigação brasileira também chegou a resultado reconfortante. O estudo, liderado por dois estudiosos da Fiocruz – Julio Croda e Manoel Barral-Neto – reafirmou a eficiência dos quatro imunizantes aplicados no país (Coronavac, AstraZeneca, Janssen e Pfizer). A efetividade das vacinas já havia sido estabelecida, mas agora se reafirmou o resultado examinando em base ampla de dados sobre indivíduos infectados. O estudo mostra que os imunizantes brasileiras induzem respostas robustas dos linfócitos T, não apenas de anticorpos.

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