Brasil progride na amamentação infantil – contra certos interesses

Uso exclusivo do leite materno até os 4 meses cresceu doze vezes, em três décadas. Metade dos bebês já é amamentada por pelo menos 16 meses. Propaganda enganosa do leite industrial pode ser vencida, mostram números

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Há esperança em uma nova pesquisa sobre a presença da amamentação na vida das crianças brasileiras de até dois anos. Trata-se do Enani – Estudo Nacional de Amamentação e Nutrição Infantil, encomendado pelo ministério da Saúde e produzido pela UFRJ, UERJ, UFF e Fiocruz. Os números, embora ainda não sejam ideais, estão melhorando bastante nas últimas décadas: no Brasil, quase todos os bebês (96,2%) foram amamentados ao menos uma vez, e metade deles é amamentada por mais de 1 ano e 4 meses – a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 2 anos. E aumentou em doze vezes, entre 2019 e 1986, o índice de bebês que se alimentam exclusivamente de leite materno até os quatro meses.

O pioneirismo da pesquisa está em ter recolhido, pela primeira vez, informações sobre amamentação cruzada, doação de leite e uso de mamadeiras e chupetas, além de fazer recortes por macrorregião, sexo, cor e outros indicadores. Entre os novos dados, um em especial desponta: um quinto das mães amamentou um filho de outra pessoa ou deixou que seu filho fosse amamentado por outra mulher. A prática da amamentação cruzada é mais comum nas regiões Norte e Sudeste, e acontece mais entre mulheres negras e pardas. Não é recomendada pela OMS por poder transmitir infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

Mas a amamentação exclusiva até os seis meses de idade, meta recomendada pela Organização, está sofrendo ataques… da indústria alimentícia. Nestlé e outras marcas investem pesado nas fórmulas infantis – inclusive tentando cooptar profissionais da Saúde, contam reportagens de O Joio e o Trigo. Tentam contornar regras de fiscalização e até criam embalagens que propiciam o engano. Apesar de contraindicadas até por guia do ministério da Saúde, são muitas vezes indicadas na maternidade, logo após o nascimento.

Imagem: Universidade Federal do Piauí

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