Assim progridem as vacinas brasileiras contra a covid

Reportagem aponta ao menos cinco em fase de testes. Destacam-se a ButanVac e a de spray nasal. Podem ser importantes para baratear a produção e compor o calendário de imunização periódica contra a doença

Employees work on the production line of CoronaVac, Sinovac Biotech’s vaccine against COVID-19 coronavirus at the Butantan biomedical production center, in Sao Paulo, Brazil, on January 14, 2021. – Sao Paulo state is due to begin immunizing its 12 million citizens from January 25. Beijing has already sent 10.7 million Coronavac doses and the supplies needed to make another 40 million doses. The health ministry, though, has yet to divulge when it will launch a nationwide immunization program. (Photo by NELSON ALMEIDA / AFP)
.

O sucesso brasileiro na vacinação, a despeito das interdições do governo Bolsonaro, deve ser comemorado, mas é preciso também entender seus limites e apostar em novas soluções. Evidências da queda de eficácia dos imunizantes contra a covid disponíveis são cada vez mais sólidas – o que exigirá, provavelmente, doses de reforço periódicas. Como já tratado no Outra Saúde, o orçamento da União para 2022 ignora completamente o fato de ainda estarmos em pandemia: o valor proposto para compra de imunizantes será de apenas R$ 3,9 bilhões – 56% do disponível em 2021. A aprovação de vacinas criadas e produzidas no Brasil pode ser um caminho para cessar a dependência de farmacêuticas estrangeiras e diminuir os custos.

Uma reportagem da revista Pesquisa Fapesp dá um panorama detalhado do ponto em que estão as cinco iniciativas de vacina brasileiras que já terminaram ou estão prestes a encerrar os testes pré-clínicos com animais, à espera de autorização da Anvisa para passar à próxima fase. A mais avançada delas é a ButanVac, produzida em colaboração internacional com participação do Instituto Butantan. É a única que já passou da fase 1 de testes clínicos, realizada com 120 pessoas. Na fase 2, deverá fazer experimento com 4 mil voluntários. Dimas Covas, diretor do Butantan, promete entregar 80 milhões de doses por ano ao ministério da Saúde, mas pontua: não será substituta à CoronaVac, também produzida pelo instituto, mas complementar à imunização contra a covid. Cada uma tem uma vantagem específica – a mais antiga oferece uma maior diversidade de antígenos, a futura ButanVac estimula uma resposta imune mais forte.

Há ainda quatro outras vacinas em fase de testes. A Versamune-CoV-2FC, parceria entre a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, a startup brasileira de biotecnologia Farmacore e o laboratório norte-americano PDS Biotechnology; a UFRJvac, da Universidade Federal do Rio de Janeiro; a Flu-CoV, desenvolvida pela UFMG, Fiocruz, Butantan e FMRP-USP; e a vacina por spray nasal produzida pelo InCor com a Faculdade de Medicina da USP. Seus projetos, de um modo geral, estão em busca de alcançar uma imunidade mais duradoura e adaptar-se às variantes locais da covid – benefícios somados ao barateamento da produção.

A reportagem da Pesquisa Fapesp é interessante por trazer a situação detalhada de cada uma delas, além de gráficos de como funcionam e qual tecnologia utilizam. Destacamos aqui a explicação da vacina de spray nasal da USP/InCor: “Um dos problemas das vacinas atuais, aplicadas de forma intramuscular, é que elas estimulam a produção de anticorpos no sangue, mas não nas mucosas do trato respiratório. Assim, a pessoa não sofre – ou sofre pouco – os efeitos da doença, mas pode desenvolver a infecção e transmitir o vírus por gotículas ou aerossóis expelidos pelo nariz e pela boca.” Vale a leitura atenta para compreender melhor como poderá ser feita a imunização da população brasileira contra a covid nos anos a seguir.

Leia Também: