Assim a pandemia espalha ansiedade e cansaço

Numa reportagem do “New York Times”, panorama sobre como a fadiga pelo longo enfrentamento à doença, a solidão pelo isolamento social e o aparente excesso de controle social estão mexendo com os nervos das pessoas mundo afora

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Na véspera do segundo aniversário da pandemia, dois sentimentos disputam as expectativas das pessoas, especialmente nos países mais atribulados por sucessivas ondas da doença. O alívio pela queda forte dos casos graves refreou o medo e a dor dominantes no início de 2020. Mas existe agora muita ansiedade e cansaço, uma angústia instalada desde o anúncio de que o combate vai se prolongar.

“É muito improvável, muito improvável” que o vírus seja erradicado pelas vacinas, disse, em setembro passado, Mike Ryan, diretor de emergências de saúde da OMS (Organização Mundial de Saúde), em um comunicado à imprensa convocado para elucidar o assunto. Desde então essa perspectiva se consolidou, produzindo a sensação de que o uso de máscaras pode se prolongar por anos a fio.

O estado da economia também preocupa. As pessoas sentem que estão sem possibilidade de ascensão social, afirmam os especialistas. O New York Times reuniu dezenas de depoimentos para retratar esse sentimento. “Cresce a sensação de que a era covid se estenderá, como as pragas da antiguidade”, reporta o texto do colunista Roger Cowen.

“Estou tão cansado de todas essas rotinas”, disse ao jornal o jovem Chen Jun, empregado de uma empresa de tecnologia em Shenzhen, no sul da China, mencionando que precisou fazer três testes de covid em junho, e ficou em quarentena. “Estou começando a achar que nunca veremos o fim da pandemia”, lamentou-se. Na Rússia, há alguns dias, disseram a um homem para colocar a máscara e ele respondeu atirando, matando duas pessoas.

O jornal também falou com Maria Melchior, epidemiologista francesa. Frustrada por ter de voltar fazer reuniões virtuais, ela desabafa: “Não sabemos mais quando voltaremos ao normal”. E o que seria normal para ela? “Bom, pelo menos uma vida sem máscaras”. É difícil, na reportagem, separar o desconforto com o futuro dos efeitos mentais graves da pandemia.

O texto cita que a o adoecimento por depressão cresceu, nos países da Europa, conforme relatório recente da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). E lembra que o governo dos EUA alertou mais recentemente sobre a saúde mental dos jovens no país. De todo modo, vai ser preciso lidar, mesmo com todo o cansaço, com a perspectiva de conviver com a pandemia, e com as possíveis restrições que ela vier a exigir.

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