As derrapadas de Queiroga na CPI

Ministro da Saúde tentou se esquivar da maioria das perguntas, mas deixou claro que arroubos de Bolsonaro dão o tom no combate à pandemia

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Ao longo de aproximadamente dez horas, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tentou se esquivar das perguntas dos senadores na CPI da Pandemia. A estratégia foi em parte bem-sucedida, e ele conseguiu não ficar em maus lençóis com o governo. No processo, arranhou a própria imagem e deu importantes derrapadas. Ao lançar mão de evasivas diante de perguntas simples, ele reforçou a imagem construída dias antes por Mandetta e Teich de que, na prática, o Ministério da Saúde teve sua autoridade sanitária cassada por Jair Bolsonaro durante a maior crise sanitária do último século. 

Isso ficou claro quando Queiroga afirmou que não havia sido consultado pelo presidente sobre a edição de um decreto que proíba estados e municípios de adotarem medidas de isolamento social, e sequer tinha sido avisado sobre a eventual medida antes do anúncio feito por Bolsonaro, que jogou essa cartada na véspera do depoimento do ministro, em um evento no Palácio do Planalto no qual esbravejou que o decreto “não poderá ser contestado por nenhum tribunal”.

“O que o presidente falou comigo acerca desse tema é que ele queria assegurar a liberdade das pessoas. Com assegurar a liberdade das pessoas, eu concordo”, disse Queiroga que, no entanto, também afirmou que concorda com “um fechamento maior” em cidades onde o quadro epidemiológico “está muito grave”. 

E repetiu algumas vezes que as armas decisivas para o enfrentamento à pandemia são as medidas não farmacológicas, como o distanciamento social e o uso de máscaras, e a vacinação – não remédios. Provocado a comentar o fato de Bolsonaro ter promovido uma série de aglomerações, o ministro se limitou a dizer que “toda aglomeração deve ser dissuadida, independente de quem faça”.

Queiroga se viu obrigado a admitir que o número de doses de vacinas contratadas até agora é menor do que aquele que vem alardeando por aí. Confrontado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL) sobre um ofício enviado pelo próprio Ministério da Saúde, em resposta a um  pedido de informações do deputado Gustavo Fruet (PDT-PR) de que haveria 280 milhões de doses contratadas, primeiro manteve o número inflado de 560 milhões de doses. Teve que ser socorrido pelo secretário-executivo da pasta, Rodrigo Cruz, que apontou que o número ficava no meio: 430 milhões de doses. Na condição de testemunha da CPI, caso mentisse aos senadores, o ministro poderia acabar preso. 

Questionado inúmeras vezes sobre a cloroquina, Queiroga bolou a seguinte resposta: como a incorporação deste e outros medicamentos ao tratamento da covid-19 será debatida pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) ele não pode antecipar sua posição. “Segundo o decreto-lei que regulamenta a Conitec, eu sou instância final decisória. Então, eu posso ter que dar um posicionamento acerca desse protocolo, de tal sorte que eu gostaria de manter o meu posicionamento final acerca do mérito do protocolo para quando o protocolo for elaborado”, disse.

O atual ministro também se recusou a avaliar a campanha do presidente em defesa do medicamento, e disse que não recebeu nenhuma orientação de Bolsonaro sobre o assunto. Também afirmou que desconhece e não autorizou distribuição de cloroquina na sua gestão. Mas o Ministério da Saúde já distribuiu ao menos 127 mil comprimidos de hidroxicloroquina desde a sua posse, em 23 de março, segundo o site de medicamentos contra a covid-19 mantido pela pasta.

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