As consequências do atraso

Se Bolsonaro tivesse aceitado comprar CoronaVac em outubro, país teria hoje o dobro de vacinados e 80 mil mortes a menos. Segundo Dimas covas, seriam 52 milhões de doses a mais até maio

Foto: Jefferson Rudy / Agência Senado
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Se o governo Bolsonaro tivesse aceitado de pronto a oferta de vacinas feita pelo Instituto Butantan em outubro do ano passado, o país poderia ter até agora 100 milhões de doses da CoronaVac; mas, como o acordo só foi assinado em janeiro deste ano, foram entregues 47,2 milhões. A informação foi dada pelo diretor do Butantan, Dimas Covas, à CPI: “Em janeiro, os parceiros internacionais, a Sinovac, já tinham outros compromissos. O ambiente internacional era outro, de falta de vacinas. Portanto, ainda era possível o fornecimento de 100 milhões de doses, mas num outro cronograma, não mais até maio. Nós já estávamos falando em agosto e setembro deste ano”, disse ele.

As consequências disso foram rapidamente calculadas pela imprensa: com quase 53 milhões de doses a mais, o país poderia ter ao menos dobrado o número de pessoas com o esquema vacinal completo hoje. Em vez de 21 milhões de pessoas totalmente vacinadas, seriam cerca de 50 milhões. Até 89,7 mil idosos poderiam ter deixado de morrer, segundo uma estimativa do Estadão com base no  Sivep-Gripe, sistema federal que traz registros de internações e óbitos por covid-19 e outras doenças respiratórias. O número é próximo ao calculado pelo epidemiologista Pedro Hallal, da UFPel.

O depoimento de Dimas Covas liga explicitamente o nome de Jair Bolsonaro à falta de vacinas no Brasil e às mortes que resultam disso. De acordo com ele, as ações e declarações do presidente contrárias à CoronaVac inviabilizaram as negociações. Outubro foi o mês em que o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello anunciou a intenção de compra, no que foi imediatamente desautorizado pelo chefe. À Comissão, Pazuello declarou que o episódio do “um manda, outro obedece” não teve efeito nenhum no andamento das tratativas. Mas Dimas afirmou o contrário: embora ele não tenha de fato recebido nenhum ofício cancelando a intenção de compra, na prática, a negociação ficou parada por quase três meses. 

Ele acrescentou ainda que só houve movimentação do governo federal, em janeiro, porque outras iniciativas não deram certo: “Houve a tentativa de buscar vacinas na Índia, que não foi bem sucedida, e houve a dificuldade da própria AstraZeneca em fornecer as vacinas e, portanto, naquele momento, a única vacina disponível era a vacina do Butantan”. Se o governo federal não retomasse a conversa, São Paulo e outros estados pretendiam se virar por conta própria: 17 estados já haviam feito termos de intenção de compra.  Com os números de  Covas, fica claro que os efeitos da obstinação política de Bolsonaro em negar a CoronaVac anda vão se estender durante meses.

Por conta da omissão do governo federal apontada ontem, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou um requerimento para que o Ministério da Saúde e a Casa Civil prestem informações sobre o depoimento.

A propósito: Bolsonaro entrou com mais uma ação no STF contra medidas restritivas impostas por estados para controlar a pandemia. Quer derrubar decretos de Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Norte.

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