O Ibope, o comício, as polêmicas

Diferença entre Haddad e Bolsonaro diminui; no Rio, apoio e crítica ao PT

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24 de outubro de 2018

O IBOPE, O COMÍCIO, AS POLÊMICAS

O novo Ibope, divulgado ontem, dá 57% dos votos válidos para Jair Bolsonaro (PSL) e 43% para Fernando Haddad (PT). O capitão da reserva perdeu dois pontos desde a última pesquisa, divulgada dia 15. E Haddad oscilou dois pontos para cima. Mas a movimentação fica dentro da margem de erro. A rejeição a Haddad diminuiu de 47% para 41%, e a de Bolsonaro aumentou de 35% para 40% desde o último levantamento.

Ontem, Haddad escreveu no Twitter que vai ganhar a eleição. Ele participou de um comício nos Arcos da Lapa, Rio de Janeiro, com artistas como Caetano Veloso, Chico Buarque e Mano Brown que criticou o PT: “Se nós somos o Partido dos Trabalhadores, o partido do povo tem que entender o que o povo quer. Se não sabe, volta para a base e vai procurar saber”, disse o rapper – que foi vaiado por parte da militância. “Eu compreendo, entendo e respeito o que disse o Mano Brown. Respeito muito. Primeiro porque ele veio aqui. Ter vindo aqui tem um significado muito importante. O que ele disse é sério. Tem irmãos e irmãs nossos que estão na periferia revoltados com tudo que está acontecendo e com razão. Nós precisamos dar razão às pessoas para conquistar as pessoas. Não estou falando dos coxinhas que sempre nos odiaram – estou falando das pessoas estão revoltadas porque estão desempregadas, que deixaram a universidade porque não têm como se manter. Porque saem de casa procurando um destino, procurando um trabalho e não encontram. Essas pessoas, nós precisamos abraçar daqui para domingo. Nós precisamos sentar para conversar. Nós precisamos dialogar – eles não são nossos inimigos”, respondeu Haddad em seu discurso.

Por seu turno, o capitão reformado do Exército declarou que as políticas afirmativas são uma “maneira de dividir a sociedade” e que não há desigualdade no Brasil. Também que não época dele, “não tinha essa história de bullying” e que a luta das minorias é “coitadismo” e “não pode continuar existindo”. “Coitado do negro, coitada da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense”, listou Bolsonaro, em entrevista à TC Cidade Verde, do Piauí.

No outro extremo do país, no Rio Grande do Sul, Bolsonaro foi entrevistado ao vivo em um programa da rádio Guaíba. A condição para conceder a entrevista foi que ninguém, além do âncora do programa, lhe fizesse perguntas. O jornalista Juremir Machado, que estava há 10 anos no programa, revelou o combinado no ar. E pediu demissão ao vivo, descrevendo a situação como “humilhante” e caracterizando o caso como censura.

Uma reportagem do Intercept Brasil aponta que o candidato do PSL à Presidência é o político que mais tenta censurar publicações na internet. A apuração dá conta de tentativas oficiais, via Judiciário. Mas há mais coisas entre o céu e a Terra… Nós, do Outras Palavras e dos veículos a ele ligados, vivemos há pouco mais de um mês uma estranha coincidência desde que um artigo negativo para Bolsonaro saiu: sempre que um texto assim é publicado, o site é derrubado. Estamos sob o ataque de robôs.

Questionado por uma brasileira em Paris sobre por que não voltava ao país para lutar contra a eleição de Bolsonaro, Ciro Gomes disse que está “muito cansado” e que o PT “errou” porque preferiu “disputar com Bolsonaro no segundo turno”. A informação é da coluna de Monica Bergamo.

O político está entre os lembrados pelo artista e escritor Nuno Ramos no ótimo texto intitulado Gente frouxa publicado na Folha ontem. “Vocês vão deixar isso seguir, a câmera lenta do suplício, o passo a passo da catástrofe, até a coroação final desse palhaço?”, começa. “Sua alma não está sendo vendida ao diabo, Fernando Henrique? […] Marina Silva demorou duas semanas para declarar seu voto! É incrível! Batemos palmas? Inauguramos uma estátua de bronze? E Ciro, rodando a Europa? Estará magoado? Quem sabe um terapeuta? Uma xícara de chá, para iniciar a lenta dança de aproximação para as eleições de 2022, que provavelmente nunca chegarão? Gente sem momento, sem desejo, sem energia”, critica. Nuno não poupa nem o próprio jornal, que proibiu que a redação chamasse Bolsonaro de “extrema direita”. “Seria o quê, então –média direita? Três quartos de direita?”.

Em tempo: João Amoêdo, do Novo, declarou um oblíquo apoio a Bolsonaro. Segundo o candidato, ele votará domingo “mais uma vez contra o PT”, partido que, na sua opinião, “deveria ter seu registro no mínimo questionado”.

ESSA TAL DE LIBERDADE

Dada a repercussão da foto em que diretores (sim, eram dois e não um) do CREMERJ posam com o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) imitando armas com as mãos na festa de posse da nova diretoria, a autarquia federal resolveu se pronunciar.  Em nota publicada ontem, o CREMERJ afirma que é “apartidário” e “sempre defenderá o direito assegurado na Constituição de as pessoas poderem se expressar livremente, conforme seus pensamentos”. O texto diz que “qualquer coibição à liberdade de opinião” não terá o apoio da entidade. “Neste período eleitoral, há um notório conflito de opiniões, mas é preciso reforças que as eleições são oportunidade de exercício da cidadania e da liberdade de escolha”. A nota não menciona a foto, nem pede desculpas pelo comportamento dos diretores.

PRA FICAR DE OLHO

Na segunda, uma juíza confirmou o veredicto favorável dado em 10 de agosto ao jardineiro Dewayne Johnson contra a Bayer no processo envolvendo a Monsanto. A decisão fortalece o entendimento de que os produtos à base de glifosato Roundup e Ranger Pro, carros-chefes da empresa, causaram câncer em Johnson. Mas o julgamento reduziu substancialmente a indenização de US$ 250 milhões para US$ 39 mi. E a Bayer promete continuar apelando nos tribunais, sempre com o argumento de que não ficou provado cientificamente que os produtos são os responsáveis.

CUSTO HUMANO

O fotógrafo argentino Pablo Piovano percorreu 15 mil km registrando moradores de zonas com alta contaminação de glifosato. O resultado – impactante – pode ser conferido na série O custo humano dos agrotóxicos.

CONTRA PESSOAS TRANS

Nexo explica o que está em jogo na investida da administração Donald Trump de redefinir gênero na lei federal de direitos civis. Um memorando do Departamento de Saúde (equivalente ao ministério por lá) obtido pelo New York Times argumenta que as agências governamentais precisam se alinhar a partir da definição de gênero “em uma base biológica clara, fundamentada na ciência, objetiva e administrável” e que “sexo significa o status de uma pessoa como homem ou mulher com base em traços biológicos imutáveis, identificáveis antes ou depois do nascimento”. Para o órgão, deve valer o que está escrito na certidão de nascimento – para sempre, salvo refutação por “evidência genética confiável”. Existem 1,4 milhões de americanos que se reconhecem com um gênero diferente do que nasceram. Caso a definição passe, eles “vão deixar de existir, do ponto de vista federal”, alerta o Nexo.

CROWDFUNDING

As vaquinhas online são usadas por pessoas e entidades para levantar fundos para todo tipo de projetos. E tratamentos médicos estão entre eles. Uma pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association alerta que, desde 2015, US$ 6,7 milhões foram arrecadados nos Estados Unidos para financiar a realização de tratamentos experimentais sem embasamento científico e potencialmente perigosos. Uma parte dessas campanhas é promovida por pessoas que não têm condições de arcar com os custos. Mas, segundo os pesquisadores, há uma “nova economia do crowdfunding” em que clínicas promovem, e lucram, com terapias arriscadas ou inócuas.

TÁ NA LEI

O reajuste salarial dos agentes comunitários de saúde e de combate às endemias já está na lei 13.708, sancionada 14 de agosto. Michel Temer havia vetado justamente isso, mas a categoria conseguiu articular com parlamentares que derrubaram a mudança semana passada, restaurando a redação original do projeto de lei aprovado pelo Congresso.

LADO B

As vendas do suplemento biotina vão de vento em poupa, segundo as empresas que a fabricam no Brasil. Mas pouca gente sabe que a vitamina pode alterar o resultado de exames laboratoriais, como análises de tireoide, hepatite, gravidez, testosterona e vitamina D. Além disso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia afirma que não há comprovação científica da sua eficácia. A biotina é usada para combater queda de cabelos e fortalecer unhas. Da família da vitamina B, a biotina pode ser suprida por alimentos: cereais integrais, nozes, vísceras de animais.

NÃO É SIMPLES

Todo mundo já ouviu falar que a obesidade é cada vez mais prevalente nas populações mundo afora. Mas o quadro é mais complexo, demonstram duas médicas em texto publicado na BBC. É que nove entre dez países vivem um “fardo duplo”, em que o sobrepeso se combina à desnutrição. A situação é verificável numa mesma comunidade, família e até em uma mesma pessoa, que pode estar acima do peso e desnutrida; ou no peso certo e ter mais gordura que músculos na massa corporal. Dentre os muitos números presentes no artigo, as autoras chamam atenção para um dado brasileiro: 36% das meninas brasileiras entre cinco e 19 anos estão acima do peso, e 16% delas está abaixo do peso considerado saudável.

NO ÚTERO

Na ficção, a série Grey´s Anatomy ajudou a popularizar a cirurgia fetal, em que problemas como espinha bífida podem ser corrigidos em operações feitas com o bebê no útero. Mas na vida real, a técnica está longe de ser tão comum. No Reino Unido foi usada pela primeira vez. Uma equipe de 30 médicos do hospital universitário de Londres realizou duas cirurgias do tipo, com sucesso. O procedimento, em breve, vai estar disponível em duas unidades, pelo NHS, o sistema público de saúde.

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