Câncer: tendência mundial

Relatório da IARC aponta aumento dos casos em relação ao último levantamento e projeta 14 milhões de casos em 2018

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13 de setembro de 2018

CÂNCER: TENDÊNCIA MUNDIAL

Relatório divulgado ontem pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer da Organização Mundial da Saúde revela uma tendência de alta nos casos da doença. Em 2018, se estimam 18,1 milhões de novos casos no mundo e 9,6 milhões de óbitos. Há quatro anos, data do estudo anterior, esses números eram menores: 14,1 milhões de casos e 8,2 milhões de mortes.

A análise engloba 185 países e indica que um em cada cinco homens e uma em cada seis mulheres vão desenvolver um tumor oncológico em algum momento da vida. Entre os doentes, um em cada oito homens e uma em cada 11 mulheres morrerão por essa causa em 2018. Em todo o mundo, o número de pessoas que estará viva cinco anos depois do diagnóstico é estimado em 43,8 milhões.

Dos 32 tipos de câncer analisados, o de pulmão e o câncer de mama feminino são os mais comuns (com 11,6% de incidência cada). Na sequência vem o colorretal (10,2% de todos os novos casos diagnosticados); em quarto, o de próstata (7,1%); e, em quinto, o de estômago (5,7%). Os tumores pulmonares são a principal causa de morte pela doença: representarão 18,4% de todos os óbitos por câncer em 2018.

Na medida em que a população envelhece, a tendência é que os casos aumentem. A influência da idade média da população é clara quando se avalia a distribuição regional da enfermidade. Com apenas 9% da população mundial, a Europa, que passa por um processo de baixa natalidade e alta longevidade, concentra 23,4% dos casos globais. Nas Américas, que começam a acompanhar esse padrão, estão 13,3% dos habitantes do planeta e 21% dos novos diagnósticos.

EM FOCO

Folha promoveu um seminário sobre tecnologia contra o câncer e, hoje, traz algumas matérias sobre o assunto. Uma delas fala sobre uma nova abordagem que propõe o início dos chamados cuidados paliativos logo após o diagnóstico da doença. Tratam-se de terapias que visam melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas conta a reportagem, ainda são raridade no país, que só conta com 177 equipes atuando. Além disso, como era de se esperar, o acesso é desigual: a avenida Paulista tem mais equipes de cuidados paliativos do que o Norte e o Nordeste do país juntos.

Outra matéria aborda uma pesquisa sobre náuseas conduzida pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. O problema atinge até 60% dos pacientes que fazem quimioterapia e, no pós-operatório, chega a alcançar 80%. Em fase inicial, o estudo quer descobrir se polimorfismos genéticos, pequenas alterações na sequência do DNA, influenciam na metabolização diferente das drogas. O objetivo é que, no futuro, os remédios possam ser administrados de maneira personalizada e, com isso, ninguém tenha que passar pela fase de ajustes na medicação, que pode demorar e causar sofrimento.

POVO SAUDÁVEL

As artérias mais saudáveis do mundo pertencem a um povo indígena que vive na Bolívia chamado tsimané. A conclusão é de um novo estudo, publicado no The Lancet, que comparou a saúde vascular dos tsimané com a dos norte-americanos, concluindo que os últimos têm cinco vezes mais arteriosclerose do que os primeiros. A diferença está na dieta e no estilo de vida destes indígenas. A alimentação dos tsimané é baseada em carboidratos não-processados ricos em fibras, como arroz, mandioca, milho, nozes e frutas. Os homens gastam, normalmente, sete horas com atividades físicas relacionadas à caça, coleta, pesca e agricultura, enquanto entre as mulheres a média varia de quatro a seis horas. Gastam apenas 10% do seu dia sendo sedentários. Em comparação, o sedentarismo ocupa 54% do dia das populações industriais. E esse estilo de vida coletor-horticultor faz tanta diferença que os pesquisadores pensam em incluir o afastamento dele na lista dos fatores de risco para doenças no coração, que inclui itens como fumo e obesidade.

OUTRA DA DENGUE

Pesquisa da Universidade Federal da Bahia, Fiocruz e London School of Hygiene and Tropical Medicine indica que a dengue na gravidez tem consequências potenciais graves. A doença aumenta em 50% as chances de o bebê nascer com distúrbios neurológicos, e a incidência de malformações no cérebro (não incluída a microcefalia) é quatro vezes maior, informa O Globo. Entrevistada pelo jornal, a principal autora do estudo, Enny Paixão (UFBA), explicou que a associação passou despercebida pois foi só depois da epidemia de zika que se atentou para a relação entre esse tipo de vírus e distúrbios neurológicos congênitos.

O PSTU PROPÕE…

Mas não sabe explicar exatamente como concretizar as propostas, analisanossa editora Raquel Torres na série do Outra Saúde sobre as eleições. O foco da candidata à Presidência pelo partido, Vera Lúcia, é a estatização e a ampliação dos gastos públicos. A saúde não aparece explicitamente no programa enxuto, de apenas 16 páginas. Mas Vera já falou sobre a área, quando perguntada em entrevistas. Em uma delas, afirma que os grandes hospitais (“onde só tem acesso quem tem muito dinheiro, como  o Sírio Libanês”) e laboratórios, depois de estatizados, devem ser controlados pelos profissionais de saúde e usuários. Também defende aumentar em quatro vezes o salário mínimo e investir mais em saúde. O dinheiro sairia da suspensão do pagamento da dívida pública, do fim das isenções fiscais e da revogação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que seria substituída por uma Lei de Responsabilidade Social. “O plano não traz, porém, cálculos ou projeções de cenários que embasam essas escolhas, nem a explicação de como funcionaria esta Lei de Responsabilidade Social.  A vaguidão em relação a propostas tão radicais tem seu preço, e é algo explorado por jornalistas”, observa Raquel.

OUTRA CIRURGIA

Após piora, Jair Bolsonaro (PSL)  foi submetido a uma cirurgia de emergência na noite de ontem. O objetivo do procedimento foi retirar aderências que obstruíram o intestino delgado, e corrigir uma fístula surgida em uma das suturas feitas na operação inicial. Segundo a Folha, os médicos optaram pela intervenção quando ficou claro que o quadro do presidenciável evoluiu para ou uma obstrução completa do intestino delgado ou para o risco de necrose de partes do órgão, decorrências comuns em casos assim, e graves.

CLIMA TENSO

O psicanalista e professor da USP Christian Dunker falou ao Nexo sobre como o clima social influencia atos extremos de violência no universo da política, como o atentado contra Jair Bolsonaro. Segundo ele, o discurso de ódio e a polarização criam inimigos onde antes havia pessoas com pontos de vista diferentes. “Este tipo de discurso incita efeitos que a psicanálise situa no campo do imaginário, caracterizado pelas paixões de ódio ou fascinação, assim como espelhamento e inversão simétrica. Isso é um perigo pois atrai contra si pessoas e atitudes que valorizam os mesmos meios de violência e agressividade, só que em sentido inverso, criando uma espécie de barril de pólvora”, diz. Já o perfil do autor do ataque, Adélio Bispo dos Santos, que atribui sua ação a uma “ordem de Deus”, é comum na história humana.

“Os delírios são tentativas de estabilizar um mundo em desagregação e de reconstruir laços sociais. Delírios se tornam perigosos quando eles adquirem consistência social que sancionam e exigem uma “realidade suplementar” às suas figuras e temas, ou seja, por exemplo, quando um coletivo social começa a realmente acreditar que o mundo ou um país é controlado por uma conspiração de pessoas más, ou que nossos problemas serão resolvidos pela “eliminação” de tantas outras. Um delírio é um tipo de fantasia posta a céu aberto, e fantasias costumam captar um grupo (que com elas se satisfaz) em oposição a outros. Há políticos que pretendem catalisar explicitamente tais fantasias.”

VOLTA DA CPMF

Na Folha ontem, o professor de Direito da UFRJ Eduardo Maneira falou sobre a reforma tributária e defendeu que a melhor solução para fazer a ponte entre o que existe hoje e a simplificação de tributos, discutida no Congresso Nacional, é mesmo a volta da CPMF. Poderia render de R$ 70 bilhões a R$ 80 bi, calcula. E com uma alíquota de 0,38% pesaria muito pouco: alguém que movimente R$ 10 mil por mês, pagaria apenas R$ 38. Um ponto importante é sua defesa da vinculação da contribuição à Previdência Social. Ele propõe que na sigla CPMF, P não signifique mais “provisória”, mas “previdenciária”. O artigo de opinião conclui que um novo governo teria força política para reinstituir a contribuição.

MENOS MÉDICOS

Também na seção de opinião da Folha, o professor da Faculdade de Medicina da USP Raul Cutait vinculou o caso do Dr. Bumbum à abertura de cursos de medicina no país. O artigo parece partir da premissa de que o ensino médico no Brasil ia muito bem, com os jovens médicos aprimorando seu comportamento ético a partir do exemplo de seus professores, até que o governo (do PT) deu autorização para a abertura de mais vagas.

Aqui uma digressão: seria recomendável Cutait ler a reportagem que foi destaque na newsletter desta terça, que revela como os obstetras país afora fazem episiotomia à revelia da diretriz da OMS e sem autorização das pacientes, com o agravante de optarem por uma sutura conhecida como o “ponto do marido”, que “aperta” a vagina visando o prazer sexual masculino.

Mas voltando ao artigo, Cutait afirma que o diagnóstico de que o país precisa de “muitíssimos” mais médicos é equivocado. E que a política de criação de cursos em cidades do interior não faz sentido, pois a questão básica é a má distribuição de médicos, “ditada pelo mercado de trabalho”.

Diz ele: “Mantidas todas essas faculdades, em 2030 teremos mais de 30 mil médicos formando-se anualmente e até 2050 teremos ao redor de 1 milhão de médicos para uma população estimada de 230 milhões de pessoas, o que corresponde a praticamente quatro médicos por mil habitantes, sendo que o desejável é menos da metade desse número”. E continua mais adiante: “Acreditar que médicos das várias cidades ou de hospitais do SUS serão competentes para ensinar é uma grande falácia”.

É claro que a política de expansão de vagas (muito bem-vinda pelos grupos privados da educação superior) pode e deve ser criticada. Mas o artigo parece, no fundo, estar mais preocupado com a reserva de mercado do que com a saúde da população, como quer afetar.

DAQUI A POUCO

A Academia Brasileira de Ciências recebe às 10h o candidato à Presidência pelo PDT Ciro Gomes. A sabatina vai ser transmitida ao vivo, e deve tratar principalmente sobre o problema dos cortes na ciência e tecnologia e do incêndio no Museu Nacional. É o quarto candidato a aceitar o convite da entidade, que já recebeu Manuela D´Ávila (quando ainda era cabeça de chapa), João Vicente Goulart (PPL) e o vice na chapa do Novo Christian Lohbauer.

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