Bolsonaro, sobre o Mais Médicos: “Não quero meu país nessa ideologia que está vindo aí”

Ainda em 2013, o então deputado explicou ser contra o programa porque achava que todo cubano era um agente a serviço da ditadura

Foto de Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

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19 de novembro de 2018

Por Raquel Torres, do Outra Saúde

O presidente eleito Jair Bolsonaro considerou “irresponsável” a decisão cubana de sair do Programa Mais Médicos, por “desconsiderar os impactos negativos na vida e na saúde dos brasileiros e na integridade dos cubanos”. Tem repetido que é injusto ter trabalhadores cubanos em uma atividade que considera como “trabalho escravo”, porque os recursos recebidos não são repassados integralmente aos profissionais (o governo cubano retém cerca de 70% do valor). No seu plano de governo, falava em “salvar” os “irmãos cubanos”. E até declarou que vai oferecer “asilo” aos cubanos que querem permanecer aqui.

Mas seu discurso não é sempre tão humanitário assim. Como mostra esta matéria do Brasil de Fato, em 2016 ele propôs, junto com seu filho Eduardo Bolsonaro, proibir que os familiares dos médicos intercambistas trabalhassem com carteira assinada no Brasil. A emenda não passou, e os familiares dos cubanos do Mais Médicos continuaram tendo o direito de trabalhar legalmente. Tempos depois, em agosto deste ano, durante a pré-campanha, Bolsonaro discursou: “Vamos expulsar com o Revalida os cubanos do Brasil”.

Seus motivos para ser contra o Mais Médicos foram explicados em um pronunciamento feito no Congresso Nacional em 2013, quando o programa estava em discussão. E não tinham muito a ver com as condições de trabalho desses médicos:

“Qualquer cubano, antes de ter qualquer profissão, é um agente do Estado. E vocês querem lotear centenas de municípios com células de agentes do Estado que têm um compromisso com a ditadura cubana. E entre essas pessoas tem aqueles que tomam conta desses médicos entre aspas. Por que Cuba, um país miserável (…) forma tantos médicos? Por quê?”, questionou, sinalizando que se trata de uma estratégia para disseminar o regime. “Por que vocês querem impor esses agentes cubanos no nosso país? Para ter células de centenas de Araguaias pelo Brasil adentro?”

Como de praxe, ele ridicularizou quem denuncia os abusos da ditadura civil-militar brasileira, ironizando o que chamou de “Comissão da Verdade da Dilma”. “Não quero meu país nessa ideologia que está vindo aí. Vão impor uma ditadura em nossos país. Vocês não conhecem a ditadura, vocês vão ter”. De acordo com o então deputado, o Mais Médicos era “a ditadura se impondo no nosso país pela via pacífica”. Para Bolsonaro, basicamente, seria um conluio entre Cuba e o PT para implantar o comunismo no Brasil – a mesma ideia esdrúxula que conquistou tantos votos para ele nessas eleições. Depois de exaltar o fato de que “nós aniquilamos esses bandidos lá no Araguaia”, ele finalizou declarando: “Coloco minha posição contrária a isso, por razões ideológicas, sim”.

Saiba mais sobre o fim da participação cubana no Mais Médicos aqui.

E veja o vídeo do pronunciamento:

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