Vacinas em baixa

Pela primeira vez em 16 anos, todas as vacinas indicadas para menores de um ano ficaram abaixo da meta

.

Essa e outras notícias aqui, em dez minutos.

(Quer receber de manhã cedinho a newsletter do Outra Saúde por e-mail? Clique aqui)

VACINAS EM BAIXA

Pela primeira vez em 16 anos, todas as vacinas indicadas para menores de um ano ficaram abaixo da meta do Ministério da Saúde (95%). E muito abaixo: a maioria está com índices entre 70,7% e 83,9%, e só quem se destaca é a BCG, com 91,4% (que, em geral, é aplicada nos bebês na maternidade, antes da alta). A cobertura também diminuiu em bebês e crianças maiores. O Ministério da Saúde diz que “dados iniciais” não apontam a difusão de informações falsas e de movimentos contrários à vacinação como predominantes para a queda, mas é preciso combatê-los. E o governo estuda aumentar o horário de funcionamento dos postos e fazer parcerias com escolas, porque, em campanhas de vacinação, este é um fator alegado por famílias para o atraso.

A POLÍTICA DA POLÍTICA

No debate sobre as drogas, é grande a tentação de simplificar, apontando um lado do ‘bem’ e um do ‘mal’. Dayana Rosa, que é administradora pública, mestre e doutoranda em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ, esteve no mês passado no Fórum legalização das drogas – ouvindo os dois lados: quais são os conflitos de interesse envolvidos? Decidiu contar pra gente, em artigo escrito especialmente para o Outra Saúde, como o debate se desenrolou. Entre os palestrantes estava o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que impulsionou a mudança na Política Nacional sobre Drogas no sentido de orientá-la para a abstinência e a internação em comunidade terapêuticas.

“Estava clara a defesa do parlamento federal e da produção e fiscalização das leis, em um ano eleitoral e quando um dos palestrantes é pré-candidato. Estava claro também que não eram três contra três, mas um palco para os agentes da proibição classificarem o que é ou não adequado a partir de sua escala de valores conservadora”, escreve Dayana. O fórum foi organizado pela Associação Brasileira Psiquiátrica de Brasília (ABPbr) durante o II Congresso Brasileiro de Impulsividade e Patologia Dual.

VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

Como anunciamos aqui, foi divulgado ontem o relatório de Inspeção Nacional em Comunidades Terapêuticas, com informações colhidas em visitas a 28 estabelecimentos, nas cinco regiões do país. Elas atendem, em sua maioria, usuários de drogas, e todas apresentaram violações de direitos humanos. Supressão da alimentação, uso de violência física, privação de sono e contenção por remédios ou amarras são algumas das práticas denunciadas pelo relatório. Além disso, só 10 das instituições tinham alvará sanitário – mas todas recebem recursos públicos. Vale lembrar que, este ano, o governo federal anunciou um investimento de mais de R$ 80 milhões nessas comunidades.

AÇÃO DE EXTERMÍNIO

Um padre em São Paulo tem sido alvo de ofensas e ameaças nas redes sociais há algum tempo: é Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua. Na Carta Capital, ele diz que há uma política de higienização em todas as gestões da prefeitura de São Paulo, mas que só piora. “Há uma ação de extermínio dos moradores de rua”, afirma.

FOI CORRUPTO

O ex-secretário de saúde do estado do Rio, Sérgio Côrtes, deu entrevista para a Veja. Reconheceu que foi corrupto, embora não “um corrupto como os outros”. Disse que o sistema o seduziu, que se arrepende, que tem vergonha de os filhos carregarem seu nome e que pensou em se matar. Está aqui.

É AGORA (OU NÃO)

Está para ser votado hoje, em comissão especial da Câmara, o Pacote do Veneno. A votação do parecer do deputado Luiz Nishimori (PR-PR) sobre o projeto vem sendo adiada desde abril.

Preocupada: a ONU divulgou documento em que critica o Pacote. “Nós manifestamos a preocupação de que as múltiplas alterações propostas ao marco legal e institucional existente referente aos agrotóxicos possam enfraquecer significativamente os mecanismos de proteção que são vitais para garantir os direitos humanos de agricultores, comunidades que vivem em torno de locais de aplicação de agrotóxicos, e da população que consume os alimentos produzidos com base nestes produtos químicos”, afirma o texto, que deve ser encaminhado ao Ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, e ao Presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

ATENÇÃO AOS COSMÉTICOS

Muitos deles – inclusive os infantis – têm moléculas que podem alterar o equilíbrio hormonal. Um estudo de pesquisadores da USP e dos EUA e publicado na Environmental International analisou amostras de urina e mostrou que as crianças brasileiras estão expostas a altos níveis dessas moléculas. Essa exposição é perigosa em adultos, mas muito mais em crianças, porque o balanço hormonal delas é fundamental para o desenvolvimento.

VIDA SAUDÁVEL E OBESIDADE

O Ministério da Saúde divulgou ontem uma pesquisa indicando que, nas capitais brasileiras, as pessoas têm apresentado hábitos mais saudáveis (como maior prática de exercícios, maior ingestão de frutas/hortaliças e menor consumo de açúcar e refrigerantes). Mesmo assim, a obesidade e o excesso de peso cresceram, principalmente nos jovens: em dez anos, a obesidade cresceu 110% entre pessoas com 18 a 24 anos, quase o dobro do aumento em todas as faixas etárias, que foi de 60%.  Já no excesso de peso, o aumento geral foi de 56%, e as diferenças entre grupos etários foram um pouco menores. As regiões Norte e Nordeste são as que mais preocupam. A pesquisa, chamada Vigitel, foi feita por entrevistas telefônicas com mais de 50 mil pessoas acima de 18 anos, e o dado usado para o cálculo de obesidade e sobrepeso é o Índice de Massa Corporal, que relaciona peso e altura.

NOVAS DOENÇAS (E AO MENOS UMA NÃO-DOENÇA)

A OMS divulgou ontem a nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11), com 55 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte. Ela vai ser apresentada para adoção dos países membros no ano que vem e vai entrar em vigor em 2022. Novidade: agora existe um capítulo sobre medicina tradicional.

Uma das grandes mudanças é que a transexualidade, antes descrita como doença mental, agora aparece em um novo capítulo sobre saúde sexual, como ‘incongruência de gênero’. Segundo a Folha, a organização diz que “há claras evidências científicas” de que não é doença, mas é importante manter a condição na CID para garantir que essa população tenha melhores ofertas de cuidado à saúde.

A compulsividade por videogames, por outro lado, entrou na CID como nova condição de saúde mental. o “, e o “transtorno dos jogos eletrônicos” foi incluído entre os que podem causar adicção.

“CAFONA”

Falamos aqui sobre os dados mais recentes de prevalência de HIV entre homens que fazem sexo com homens. Este texto na Vice critica a matéria da Folha que tratou do tema, classificando-a como “cafona” e “trabalhada no catastrofismo”. Diz os ‘replies’ à matéria no Twitter vêm acompanhados de comentários extremamente homofóbicos e afirma que é preciso dar a notícia sem cair na cilada do pânico moral e da culpa individual mas, sim, focando no desmonte do SUS, no congelamento de gastos, na falta de financiamento público para ONGs e na ausência de discussão sobre homossexualidade e transgeneridade nas escolas (verdade seja dita, a matéria da Folha não cita a Emenda 95, mas fala da redução das campanhas públicas, do fechamento de ONGs e de como a bancada conservadora freia o debate nas escolas).

O texto da Vice traz informações importantes. Por exemplo, diferencia Aids e HIV (uma pessoa infectada só transmite a HIV se tiver Aids, ou seja, níveis detectáveis no sangue) e diz que a chance de uma pessoa negra ter Aids é 2,4 vezes maior que a de pessoas brancas. O problema, portanto, seria mais relacionado às desigualdades sociais do que ao moralismo.

VISITA

A presidente da Fundação Bill & Melinda Gates, Sue Desmond-Hellmann, veio ao Brasil pela primeira vez e falou ao Globo sobre seu interesse no país: entender a prioridade da atenção básica no SUS e pensar “em termos mais regionais” no controle da malária. Disse também que o Brasil é “exemplo e laboratório” com seus programas contra a fome e o Bolsa Família.

SEPARAÇÃO

G1 traz um enfoque diferente esta semana ao falar do procedimento, inédito no Brasil, de separação de duas gêmeas que nasceram unidas pela cabeça, comandado pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, da USP. Na matéria, o legado que as cirurgias vão deixar para a comunidade científica e para a realização de novos procedimentos complexos. Ao todo serão cinco cirurgias e duas já foram finalizadas. Os artifícios usados vão desde moldes feitos por impressão 3D ao uso de neurotransmissores que funcionam como ‘GPS’ do cérebro, e mostram a necessidade de investir em tecnologia nacional. Se fosse feita nos Estados Unidos, a separação das gêmeas custaria R$ 9,5 milhões. No Brasil, deve ficar em R$ 200 mil (custeados pelo SUS, faltou dizer na matéria).

RAIVA

No interior de São Paulo, os casos de raiva animal aumentaram 87% em 2017 e, só este ano, cresceram mais 53%. Gado, cavalos e porcos são as principais vítimas, mas um cão e um gato também morreram – a infecção desses bichos preocupa pela proximidade com humanos.

VIOLÊNCIA, MÍDIA E SAÚDE

O vídeo do seminário do Icict/Fiocruz sobre o tema já está disponível online.

AGENDA

Hoje, às 11h, o Canal Saúde discute políticas de habitação e suas implicações na saúde.

E, amanhã, Leonardo Boff vai estar na Fiocruz para conversar com o ex-ministro José Gomes Temporão, a juiza Andréa Pachá, as pesquisadoras Liliane Penello e Marisa Maia, e o jornalista e cartunista Claudius Ceccon , sobre A ética do cuidado: atenção sustentável na saúde. Se você não estiver por lá, não se preocupe: vai ter transmissão ao vivo.

Leia Também:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *