De olho na OMS

O que esperar da Assembleia Mundial da Saúde em tempos de ocaso da organização?

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IMPORTANTE PRESTAR ATENÇÃO

Começa hoje a Assembleia Mundial da Saúde, que reúne em Genebra representantes dos 194 países-membros da OMS. Nossa reportagem da semana explica qual é a importância do evento, que vem minguando junto com o protagonismo da organização na definição dos rumos da saúde global. Iniciativas recentes, como a da primeira-ministra da Alemanha Angela Merkel de “convidar” a OMS para traçar um plano internacional de saúde junto com outras organizações, como Unicef e Banco Mundial, colocam em evidência as fragilidades do organismo que vem sofrendo pressões de todos os lados. Num cenário político cada vez mais complexo, todos os olhos estão voltados para a atuação do novo diretor-geral, o etíope Tedros Ghebreyesus, que faz sua estreia na condução da assembleia. Será ele capaz de corrigir os rumos da OMS? E, também: como fica a atuação dos países sul-americanos na assembleia com a crise da Unasul?

E, no fim de semana, Tedros tentou chamar atenção para aquela que é sua principal bandeira: a cobertura universal em saúde. Segundo ele, só 45% da população mundial tem acesso a serviços de saúde adequados. O Estadão destaca que o diretor-geral pretende aprovar um projeto para ampliar a cobertura e “salvar 29 milhões de vida até 2023”. A matéria diz ainda que uma das prioridades do Brasil na Assembleia vai ser fortalecer o papel dos BRICS.

O calote do Brasil na OMS, que já era conhecido, foi lembrado pelo mesmo jornal. Somos o segundo maior devedor, com US$ 12 milhões pendurados (não foram pagas integralmente as contribuições obrigatórias do ano passado). Acima de nós, só os EUA, que devem enormes US$ 110 milhões. Mas o caso deles é mais tranquilo porque o grosso do dinheiro que vai para a OMS não vem das contribuições obrigatórias, mas de extras que significam hoje 25% do orçamento total do organismo.

Pois é. O país é atualmente o segundo maior mantenedor da OMS, atrás apenas da… Fundação Bill & Melinda Gates. No aniversário de 70 anos da OMS (que, ao contrário do que informa o Estadão, não é comemorado hoje, mas no último 7 de abril), o Outra Saúde analisou como a Organização está cada vez mais dependente de instituições filantrópicas, em especial a dos Gates, e como isso influencia a tomada de decisões.

A GRIPE

Falando nele, Gates se encontrou com Donald Trump para discutir a necessidade de uma vacina universal para a gripe, e disse que o presidente estava “super interessado“. Em coluna na Forbes, Bruce Y. Lee defende a criação da vacina para evitar a gripe sazonal (a atual não é tão eficaz) e também para evitar uma possível pandemia futura. E diz que a fundação Gates vai destinar US$ 12 milhões (o mesmo valor do calote brasileiro, note-se) apenas para  isso.

Por aqui, na sexta, o Ministério da Saúde publicou balanço da vacinação contra a doença e afirmou que ela atingiu menos da metade do público-alvo. Foram imunizadas 28,4 milhões de pessoas (a meta é 54,4), e faltam duas semanas para o fim da campanha. O Estadão diz que uma das razões para isso é a desconfiança, e entrevista pessoas que desistiram de continuar tomando a vacina porque tomavam e ficavam seriamente gripadas assim mesmo.

EBOLA

Foram confirmados mais três casos na República Democrática do Congo, os três em região urbana. A OMS não declarou emergência global, mas apontou grande risco de o surto se espalhar no país, e nove países vizinhos foram alertados.

MENOS FARMÁCIA POPULAR

O Ministério descredenciou mais de 1.700 estabelecimentos (5% do total). Segundo a pasta, o motivo são suspeitas de irregularidades. “É um número muito alto. Não consigo entender como se levou tanto tempo para se identificar o problema”, desconfia o presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo, Nelson Mussolini, em entrevista ao Estadão.

DOAÇÃO DE LEITE

O Ministério lançou na sexta-feira uma campanha para incentivar a doação de leite humano, que vai para bebês prematuros e de baixo peso. A rede de Bancos de Leite brasileira começou a se desenvolver há mais de 30 anos e é a mais complexa do mundo. São 219 bancos espalhados por todo o país, e tem também pontos de coleta, além de coleta domiciliar (a localização e os contatos todos os bancos estão neste link). Mas, apesar de considerada bem-sucedida e um modelo internacional, a rede ainda consegue suprir só 60% da demanda.

POR QUE NÃO PRIVATIZAR?

O sanitarista Gastão Wagner responde, no Repórter SUS. Ele fala do desmonte do Sistema e critica que o Ministério da Saúde tenha se transformado em “garoto propaganda” e incentivador do mercado da saúde.

EFEITOS FASCINANTES

Há 179 anos o Ocidente descobriu algo que já era usado há milênios: a maconha. O médico irlandês William Brooke O’Shaughnessy viveu um tempo na Índia, ficou impressionado e escreveu sobre isso em um artigo científico em 1839, onde dizia que a cannabis era usada por “todo tipo de pessoa” e que tinha efeitos “fascinantes” como a “felicidade eufórica”, “a sensação de voar”, um “apetite voraz” e “um intenso desejo afrodisíaco”.

Mas o médico tinha interesse em explorar o potencial medicinal da planta. Ele foi o primeiro a estudar isso, e fez experimentos em vários animais (não só ratinhos, mas até cachorros e cavalos) e, depois, em humanos, tanto adultos como crianças. Começou então a usar a maconha em tratamentos de seus pacientes. Não conseguiu curar ninguém, mas concluiu que dava pra melhorar sintomas, inclusive convulsões. A BBC diz que seus estudos geraram uma “febre médica” da cannabis no ocidente na década seguinte.

“ONDE TEM CRIANÇA, TEM PEDÓFILO”

A afirmação é da nadadora Joana Maranhão, ela própria vítima de seu treinador durante a infância. Ela esteve em uma audiência pública na Câmara para discutir um projeto de lei da deputada Érika Kokay (PT-DF), que pretende obrigar entidades esportivas a adotar medidas de prevenção à violência sexual (a matéria é da Folha).

ANTIMANICOMIAL

Marcando o Dia Nacional da Luta Antimanicomial (18/5), o Saúde Popular e o Brasil de Fato  entrevistam especialistas que explicaram o movimento e as demandas, e falam das mudanças que o governo federal fez – para pior – na saúde mental. O Brasil de Fato lembra também o hospital psiquiátrico que ficou mais conhecido pelos maus tratos, e que acabou impulsionando o movimento: o de Barbacena, em Minas.

Essa história é conhecida e, em 2013, foi tema de um ótimo livro da jornalista Daniela Arbex, O holocausto brasileiro. Daniela também falou sobre a data em sua coluna, na Tribuna de Minas, em que critica a nova orientação do governo.

JUROU MAS NÃO CUMPRIU

Entre 2015 e 2016, OSS em São Paulo receberam  R$ 84 milhões, mas descumpriram metas. Segundo a Rede Brasil Atual, relatórios com esses dados foram enviados à secretaria estadual de saúde pedindo que o ressarcimento dos valores fosse cobrado, mas o então secretário, David Uip, não acabou.

BOLSONARO

Ele tem dito que problemas na saúde bucal na gestação levam a 30% dos partos prematuros, mas o Truco, da Agência Pública, foi checar. Basicamente, não dá pra saber direito de onde ele anda tirando esse dado: “De acordo com pesquisas e especialistas, não é possível estabelecer as exatas causas de prematuridade, e a saúde bucal não está nem entre os principais fatores de risco”.

ARGENTINA E O SETOR PRIVADO

No programa de TV Periodismo para Todos (Jornalismo para todos), assumidamente de oposição ao presidente argentino Mauricio Macri, o jornalista Jorge Lanata falou ontem à noite do vice-chefe de gabinete, Mario Quintana (nada a ver com o nosso). Ex-presidente da rede Farmacity, ele conserva ações nela. São só 3% das ações, mas, segundo Lanata, Quintana tem 53% dos votos na empresa e é diretamente responsável pela tomada de decisões.

ABORTO: CONTRA A DESCRIMINALIZAÇÃO

Isso mesmo. Na Argentina, o movimento pela descriminalização vem com força. Um projeto está sendo analisado no Congresso e, em duas semanas, terminam as audiências que discutem o tema. Mas, como sabemos, a toda ação corresponde uma reação contrária… E ontem foi dia de mobilização nacional “pela vida” – já é o segundo, dois meses atrás aconteceu o primeiro. Segundo o La Nación, convocadas pelas redes sociais, 350 mil pessoas marcharam em Buenos Aires e 3,6 milhões em todo o país. Levavam bandeiras da Argentina e paninhos da mesma cor. Na capital, cantaram o hino nacional e a marcha terminou no Congresso. “Na frente estava ‘Alma’, o modelo em escala de um bebê de cerca de 12 semanas que se tornou algo como o ícone da Marcha da Vida”, diz a matéria.

O FIM DA HEPATITE C

O Brasil quer eliminar a doença até 2030, diz a BBC. Há um mês, o Ministério da Saúde universalizou o acesso a tratamentos com antirretrovirais, que são mais efetivos, de menor duração e com menos efeitos colaterais. A taxa de cura chega a 90% (no tratamento antigo, é 50%).

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