Ricardo Barros no Roda viva… e muito mais

Segundo o ministro da saúde, “vamos ter que conviver” com a febre amarela

No programa Roda Viva, o ministro Ricardo Barros falou várias vezes na autonomia de estados e municípios. Mesmo para cometer erros. Imagem: O diário
No programa Roda Viva, o ministro Ricardo Barros falou várias vezes na autonomia de estados e municípios. Mesmo para cometer erros. Imagem: O diário
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BOTA NA RODA

E Ricardo Barros foi ontem ao Roda Viva. Foi perguntado sobre febre amarela, nova forma de repasse de recursos federais, baixos investimentos em vigilância, compras de ambulâncias, papel do Ministério no saneamento…

. “Vai acontecer todos os anos”, vaticinou. Também disse que a tendência é que o país todo se transforme em área de recomendação da vacina. Voltou a repetir que há vacinas para todos os brasileiros.

O erro foi das pessoas que estavam fora da área de risco e viajaram para áreas de recomendação da vacina sem se imunizarem, não do governo, afirmou Barros. Questionado pela repórter Fabiana Cambricoli (Estadão), que contou que, ao longo da cobertura, tem entrevistado muitos especialistas que garantem que as coisas não são bem assim e houve demora na ação do governo, mudou de argumento: “Por alguma razão o mosquito passou a circular onde não passava antes”. A identificação do mosquito, continuou, passa pelas mortes dos macacos. “Não temos como adivinhar por onde circula o vírus”.

“Tem”, rebateu a repórter Cláudia Collucci (Folha), afirmando que a vigilância dos corredores ecológicos está aí para isso. Barros fugiu do tema. Repetiu, diversas vezes, que a responsabilidade pelas decisões no enfrentamento da febre amarela são tomadas por técnicos e não por ele.

Aliás, nada é responsabilidade do ministro. Perguntado sobre como melhorar a vigilância nos estados e municípios, disse que esses entes são autônomos e defendeu a nova forma de repasse de dinheiro federal, que não determina mais as áreas em que devem ser aplicados os recursos. Questionado sobre o papel da pasta no enfrentamento aos determinantes ambientais, como saneamento ruim, que levam à proliferação de vetores, Barros disse que a população tem que fazer a sua parte. A bancada teve que lembrar ao ministro que isso é papel do Ministério, e não das pessoas.

FALTA APELO

Em sua coluna na Folha, Cláudia Collucci observa que embora casos e mortes confirmadas continuem crescendo, a febre amarela não atrai mais a população. “Um mês atrás, as pessoas dormiam em filas e disputavam a tapas a vacina (…). Agora, há unidades de saúde às moscas”. São Paulo e Rio de Janeiro, juntos, ainda não conseguiram atingir nem 20% do total de 20 milhões que deveriam ser imunizados. Várias cidades estão prorrogando a campanha. É o caso da capital paulista e de municípios do litoral como Santos, São Vicente e Praia Grande.

As hipóteses mais quentes são o Carnaval, que desviou as atenções, e o medo dos efeitos adversos da vacina – que existem, mas são alvo de boatos que se espalham pelo WhatsApp. Qualquer que seja a razão, os especialistas entrevistados pela repórter concordam num ponto: é preciso melhorar a comunicação pública. Explicar direito esses casos de reação à vacina, raros. Reforçar sua importância. “Entender esse comportamento arredio e repensar as estratégias de como atingir essas pessoas é uma tarefa da saúde pública que não pode mais ser postergada”, alerta a colunista.

SOBEM AS MORTES NO RIO

O número de mortes pela doença voltou a subir no Rio. Ontem, a secretaria estadual de saúde divulgou que já são 33 óbitos. Angra dos Reis registra a maior parte deles: sete (em 12 casos confirmados por lá).

PARA FICAR DE OLHO

O Ministério da Saúde publicou ontem o edital para que instituições de ensino públicas e privadas de todo país participem do Profags. O programa, criado este ano, pretende transformar os agentes comunitários e até os agentes de endemias em técnicos de enfermagem. São 250 mil trabalhadores-alvo. O investimento é de R$ 1,25 bilhão. A pasta quer que tudo esteja funcionando em março.

É bom ficar de olho em como vai acontecer essa formação. Por vários motivos. Primeiro, porque é muito dinheiro. O MS lançou, em 2009, um programa mais diversificado de formação técnica no SUS, que ia desde a hemoterapia até a radiologia por bem menos, R$ 60 milhões. Nele, investiu para transformar agentes de endemias em técnicos de vigilância em saúde. Agora, o governo quer que esses profissionais passem para outra área, a assistência.

Além disso, há polêmica entre os agentes. As entidades sindicais que os representam defendem, por exemplo, que eles completem o curso técnico específico para agente comunitário. E sejam qualificados para fazer alguns dos procedimentos da enfermagem, como medir pressão. Também é preciso estar atento para a qualidade dos cursos. Corre o risco de se transformar em um ralo de dinheiro público.

BOA NOTÍCIA

E hoje o Supremo Tribunal Federal deve conceder um habeas corpus que pode beneficiar 4.560 mulheres gestantes, lactantes ou que tenham filhos de até 12 anos e estão presas. A medida é destinada àquelas que ainda não foram condenadas. Se for mesmo aprovado, o próximo passo é que o plenário inteiro julgue. Aí, pode ser aprovada uma súmula que tornaria regra esse tipo de regime domiciliar.

#ABORTOLEGALYA

Na Argentina, a pressão para legalizar o aborto está grande. As redes sociais estão pressionando o Congresso com a tag #AbortoLegalYa e a campanha conseguiu a adesão de políticos, jornalistas e até membros do governo Macri.

TRISTES NÚMEROS

Cinco bebês morrem a cada minuto no mundo, segundo um novo relatório da Unicef. São 2,6 milhões de mortes por ano. Além do número ser alarmante, é cruel: 80% dos óbitos poderiam ser evitados, garante o organismo.

BOOM DAS BARRIGAS DE ALUGUEL

E na BBC, uma reportagem sobre como a Ucrânia vem se tornando, cada vez mais, o destino preferencial de casais em busca de barrigas de aluguel. A prática, legalizada no país, atrai mulheres pobres e o boom preocupa especialistas que temem que essas jovens possam estar sendo exploradas por agências e clínicas.

MATERNIDADE EM IMAGENS

O El País mostra as fotografias vencedoras do ‘Birth Becomes Her’: são partos, pós-partos, amamentação… Vale a pena conferir.

OUTRAS FOTOS

O Hospital das Clínicas divulgou as imagens da primeira cirurgia de separação de gêmeas siamesas, feita em Ribeirão Preto. O delicadíssimo procedimento durou sete horas. As meninas de 1 ano e 7 meses apresentam bom quadro clínico.

TOMA LÁ, DÁ CÁ… VENENO

Em entrevista ao De Olho nos Ruralistas, a pesquisadora da Fiocruz Karen Friedrich aborda negociação entre Planalto e agronegócio para aprovar a volta de agrotóxicos já proibidos no país. O pano de fundo era a reforma da Previdência, que foi abandonada (espera-se) pelo governo. Mas continua relevante porque mostra parte dos interesses e do modus operandi da bancada mais poderosa do Congresso.

FIM DA POLÊMICA

Hospitais oncológicos habilitados pelo SUS voltarão a ser responsáveis pela compra de L-asparaginase, remédio usado no tratamento da leucemia infantil. É o fim de uma polêmica que teve até bate-boca entre Ricardo Barros e a médica Sílvia Brandalise. No início de 2017, o governo passou a importar um medicamento chinês que custava 25% do preço do japonês, usado antes. As entidades médicas contestaram e a Justiça embargou o processo de compra. Mesmo assim a pasta abriu nova licitação, o que rendeu a técnicos um processo de improbidade administrativa.

O que mudou? É que agora, uma empresa brasileira obteve registro da Anvisa e os prestadores vão poder comprar desse fornecedor.

MEDICALIZAÇÃO EM ALTA

As distribuidoras de medicamentos tiveram alta de 9% nas vendas em 2017. No volume de unidades comercializado, o aumento foi de 5,2% na comparação com 2016. A previsão do segmento é ter uma expansão próxima dos dois dígitos neste ano. “O crescimento ocorre tanto com remédios, que, por serem produtos essenciais, mantiveram o crescimento durante a crise, quanto com higiene e cosméticos”, disse Cristina Amorim, representante do setor, à coluna Mercado Aberto da Folha.

MIL FITAS

No Valor, Beth Koike relata as várias estratégias usadas pelas operadoras de planos de saúde para ressarcir o SUS. O uso da rede pública por usuários que têm planos de saúde, nos últimos 17 anos, gerou um débito de R$ 7,5 bilhões. Desse total, só R$ 1,9 bilhão chegou aos cofres públicos.

DÁ PARA DESCOBRIR ANTES

Um estudo desenvolveu um teste de sangue e urina capaz de detectar autismo precocemente em crianças. Os pesquisadores descobriram um vínculo entre os distúrbios do espectro autista e danos às proteínas no plasma sanguíneo. Assim, vai dar para tratar antes essas crianças. Pioneira, a pesquisa foi publicada ontem no periódico Molecular Autism.

100% MONITORADO

Jaime Hancock, repórter de tecnologia do El País espanhol, relata o que descobriu depois de passar uma semana com uma pulseira que coleta 300 dados biológicos a cada 30 segundos.

TIPO ALTERED CARBON

Quer congelar seu corpo para, quem sabe, conseguir reviver no futuro? Uma empresa dos Estados Unidos cobra R$ 660 mil pelo serviço (e alega ter descoberto a técnica perfeita de criogenia). Não se sabe, é claro, se o investimento vai valer a pena.

AGENDA

A Câmara dos Deputados promove hoje seminário preparatório para a 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde. O enfrentamento à febre amarela é um dos temas.

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