Hipertensão em alta no Brasil e no mundo

• Os preocupantes números da hipertensão no Brasil • Como Cuba enfrenta a doença • Caminhos para a reindustrialização • Desigualdades raciais na saúde • Novas medidas contra covid • A poluição que hoje vem das queimadas •

Foto: Pavel Danilyuk/SuperaFarma
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Na última terça-feira (19/9), a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou seu primeiro relatório (o documento pode ser lido aqui) sobre os impactos “devastadores” da hipertensão sobre a população global nos dias de hoje. O número de hipertensos no mundo dobrou em trinta anos – em 1990, eles eram 650 milhões, e a agência multilateral de saúde estipula que 1,3 bilhão de pessoas convivem com a pressão alta na atual década. Três quartos delas vivem em países mais pobres. Outra estatística anunciada é que quase metade das pessoas com hipertensão não sabem que a têm, o que redobra a importância do investimento em atenção primária, aspecto comumente negligenciado nos programas de controle da hipertensão. O Brasil vive uma crise particular: os dados do relatório sugerem que 45% dos brasileiros entre 30 e 79 anos têm pressão alta – algo como 50 milhões de pessoas –, enquanto a média global gira em torno de um terço da população dos países. 

Condição é adequadamente combatida em Cuba, diz relatório

Mas o relatório não se resume a notícias tristes. Na página 66, a estratégia de Cuba para o controle dessa condição de saúde é apresentada como um importante exemplo a ser replicado. A ilha socialista “é única no mundo em incluir atenção domiciliar continuada aos pacientes de hipertensão, a produção local dos medicamentos utilizados e a invenção, testagem e produção de mecanismos de medição de pressão sanguínea em seu programa”. Com o sucesso das iniciativas, o governo cubano resolveu declarar 2023 como o Ano do Controle da Hipertensão no país. 451 policlínicas espalhadas pelo território de Cuba são o ponto de apoio para equipes de médicos e enfermeiros que atendem de forma preventiva e curativa cerca de 2 milhões de cubanos hipertensos (menos de um quinto da população da ilha) registrados no programa estatal. “Uma forte infraestrutura de saúde pública e uma campanha nacional de esclarecimento da população e dos trabalhadores de saúde” fortalecem o controle da hipertensão, avalia o relatório.

Gadelha vislumbra a nova industrialização brasileira

A intervenção de Carlos Gadelha no seminário Saúde e Soberania, espaço de reflexão organizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na semana passada, foi destaque no site do CEE/FIOCRUZ. Na fala, o atual secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde tece reflexões sobre os caminhos possíveis da reindustrialização do Brasil, processo que o governo se propõe a iniciar. Para ele, “a grande chave para retomar uma nova industrialização brasileira está baseada na vida, na saúde e na sustentabilidade ambiental”, e por isso o complexo econômico-industrial da saúde cumprirá um papel decisivo nessa iniciativa. Gadelha questiona também a política de concessão de patentes até aqui adotada pelo Estado: “a patente de hoje é a vulnerabilidade do futuro”, diz o secretário. Extensa e densa, a matéria merece ser lida para além do que se pode destacar nos marcos desta pílula.

Por que pessoas negras têm pouco acesso à saúde bucal?

Novos dados compilados pela plataforma científica Cedra demonstram mais uma vez a desigualdade de raça no acesso à saúde no Brasil: segundo o levantamento, 29,2% dos negros brasileiros nunca foi ao dentista ou não se consulta com um profissional da área há mais de 3 anos – taxa 10% maior que a dos brancos. Além disso, diz o Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais, só 21,7% da população negra possui plano de saúde ou odontológico em 2019, enquanto mais que o dobro de brancos acessam os serviços da saúde suplementar. O estudo ainda aponta que, percentualmente, há duas vezes mais crianças negras que crianças brancas que não fizeram o teste da orelhinha. Ao Brasil de Fato, o presidente do Cedra afirmou que o estudo confirma que historicamente “existe um abismo entre brancos e negros” na saúde brasileira, mas revela que há “indícios que a pandemia da covid-19 tenha agravado essa situação e acentuado as desigualdades raciais em saúde”.

EUA e Brasil tomam medidas contra a covid-19

Como Outra Saúde deu em nota na semana passada, o coronavírus voltou a se alastrar com maior força nos Estados Unidos. Agora, a administração Biden ensaia retomar algumas das medidas que adotou contra a doença no período da pandemia. O Departamento de Saúde do governo estadunidense anunciou nesta quarta-feira (20/9) que está de volta a distribuição gratuita de testes de covid-19 em todo o país. Para solicitar até quatro testes por família, os cidadãos do país devem preencher seus dados em um site oficial – com alguns dias, orienta o governo, o material de testagem chegará ao domicílio indicado. Já no Brasil, o poder público projeta uma estratégia para proteger a população de forma mais ampla: o Ministério da Saúde está se preparando para inserir a vacinação contra a covid-19 no calendário de rotina a partir de 2024, segundo conta a Agência Brasil. A ideia é substituir o “caráter de excepcionalidade” do combate ao coronavírus, explica um diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Poluição: o alcance da fumaça dos incêndios florestais está se tornando global

Dois recentes relatórios científicos noticiados pelo New York Times confirmam uma má notícia para os Estados Unidos: a fumaça dos incêndios florestais, que se multiplicaram no país em especial a partir de 2016, já fez regredir em até 25% os ganhos em qualidade do ar que o país registrava continuamente desde a década de 1970. O jornal explica que os avanços hoje em risco se devem principalmente ao Clean Air Act, legislação norte-americana implementada em 1963 que foi uma das referências mundiais em controle da qualidade do ar. Porém, os estudos indicam que o impacto do fogo não se restringe ao território estadunidense. Segundo calculam os cientistas, cada pessoa do mundo teve, em média, 10 dias de exposição à fumaça de incêndios florestais entre 2010 e 2019 – e a concentração de ar poluído foi significativamente maior em países pobres. A África Central, o Sudeste Asiático e a América do Sul são os mais afetados – mas com a desigualdade global, são alguns dos que possuem menos recursos para responder à crise ambiental.

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