Reviravolta política na Islândia

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Após sério colapso financeiro, população toma as rédeas da política e demonstra que organização social é a melhor alternativa à crise do neoliberalismo

Por Marília Arantes

Há não mais que dez anos um governo conservador, composto por banqueiros em maioria, decidiu transformar radicalmente a economia da Islândia. Da tradicional ilha pesqueira, aumentaram suas expectativas de crescimento formando ali algo como um enorme fundo de investimentos. Em pouco tempo, internacionalizaram bancos e os tornaram independentes da economia real.

Após anos de boom econômico e muito capital volátil, o ano de 2008 representou uma ameaça para a Islândia e seu sistema financeiro. Não somente por uma crise que já se anunciava, mas como muitos analisam, pela falta de experiência e controle dos mecanismos bancários.

Então, assim que caíram os muros de Wall Street, em outubro de 2008 a Islândia foi o primeiro país a quebrar com a crise. Em desespero, o governo neoliberal tomou controle dos três maiores bancos do país para tentar estabilizar a economia. Sem maiores resultados, semanas depois entraram para a história como o primeiro país do Norte a precisar da ajuda do FMI. Receberam 2,1 bilhões de dólares do fundo que, por sua vez, passou a a intervir na economia do país.

A população reagiu e não demorou muito para que manifestações tomassem as ruas de Reikjavick, a capital. A presença do Partido Conservador na diretoria do Banco Central foi motivo de revolta. Eles haviam deixado a Islândia – que não devia nada a ninguém – com uma dívida que já ultrapassa seu PIB anual.

Como deixar nas mãos de irresponsáveis um resgate que será pago por sabe-se lá quantas gerações de islandeses? Por fim, a mobilização social conseguiu depor o governo. No dia 26 de janeiro, o então primeiro-ministro Geir Haarde entregou seu cargo ao governo provisório de Johanna Sigurdardottir, uma coligação da esquerda com o Partido Verde, a esperança em tons de verde e vermelho.

Pela primeira vez uma mulher homossexual governa uma nação, até pelo menos as eleições que acontecerão em maio desse ano. Embora seus planos de resgate não tenham sido anunciados, comenta-se que a solução de emergência considerada incluiria o país de vez na União Europeia. Contudo, a ideia não agrada a maioria, pois perderiam a exclusividade de pesca em extensões marítimas que conseguiram após anos de disputa com o Reino Unido.

Por mais que não se saiba que fim levará a soberania da Islândia, importante é que – independentemente de soluções oficiais – uma rede de solidariedade está se fortalecendo para superar a crise fulminante. E o mais interessante: as alternativas fogem às tradicionais receitas do socialismo do século 20.

Até agora são iniciativas horizontais e participações sociais espontâneas que estão aliviando as dificuldades imediatas: produção doméstica, trocas, compartilhamento, comunicação, improviso. A resposta de atitude política dos islandeses é um ótimo exemplo ao mundo – principalmente aos próximos que vierem a falir por aí.

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