Moniz Bandeira e o futuro da América Latina

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Em entrevista na Argentina, historiador fala sobre o eixo EUA-Colômbia, as mudanças em Cuba e a Conselho de Defesa do Sul

(Por Marília Arantes, da redação)

Pouco procurado pela imprensa brasileira, que tem pouco apetite pela profundidade, o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira concedeu há dias, ao jornal argentino Clarin, uma entrevista que merece atenção. Eis algumas de suas visões:

> Sobre as causas da incursão colombiana no Equador e os riscos de tensões prolongadas na América do Sul:

A paz interna não interessa elite colombiana, que precisa manter-se em conflito para ganhar com ajuda externa dos EUA. Por isso, o difícil prever o fim da instabilidade entre vizinhos, na América do Sul. O ataque às FARC em território equatoriano teve o aval de Bush e pode estar relacionado com um objetivo geopolítico dos EUA: interromper o envolvimento da França (e de Nicolas Sarkozy) na região, visto como sombra à influência de Washington. Além disso, um acordo para liberação de reféns fortaleceria Chávez, que a Casa Branca quer ver pelas costas.

> Sobre o futuro de Cuba:

Moniz Bandeira crê que, não haverá, sob governo Raul Castro, mudança estrutural – mas, sim, um processo gradual de abertura. Conduziria, como na China, a um capitalismo de Estado. Implicaria ampliar a relação da ilha com o Mercosul – em especial o Brasil (a Venezuela seria um parceiro insuficiente).

> Sobre o Conselho de Defesa da América do Sul e as relações Brasil-Argentina

Desde a guerra das Malvinas, os militares brasileiros mudaram seus cenários de guerra. Passaram a enxergar a hipótese de um conflito contra um país mais forte, do “bloco ocidental” (porém, do Norte). Isso ampliou a presença militar na Amazônia, que se tornou região muito sensível: qualquer ato hostil pode ser visto como motivo para guerra. Também distensionou as relações com a Argentina, vista então com o oponente mais provável.

A recente iniciativa brasileira, em favor do Conselho de Defesa da América do Sul, reflete o surgimento, na diplomacia, de uma visão sul-americanista. Ele é viável e poderia isolar os EUA, em aliança estratégica com a Colômbia.

 M A I S

Na Biblioteca do Le Monde Diplomatique Brasil, pastas sobre América do Sul, Colômbia, Equador e Venezuela.

 

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8 comentários para "Moniz Bandeira e o futuro da América Latina"

  1. nibrahc disse:

    Carta de esclarecimento dirigida a “Folha de São Paulo” da entrevista de Moniz Bandeira.
    04 de junho de 2010
    Carta de esclarecimento dirigida a “Folha de São Paulo” sobre a difamação da família Goulart pelo historiador Moniz Bandeira quanto à ação promovida contra os E.U.A.Prezado Diretor Editorial da Folha de São Paulo, Otavio Frias Filho.
    O historiador Moniz Bandeira, através do seu veículo de comunicação, declarou ser objetivo de nossa família a promoção pessoal e interesse econômico diante de ação por nós promovida contra o governo dos E.U.A. com o uso de verbas secretas da CIA em 1964. A ação foi baseada na declaração pessoal do réu confesso e ex-embaixador americano Lincoln Gordon, no ano de 2002, para rede Globo de televisão e rede Bandeirantes e amplamente divulgadas à época. Faz-se necessário de minha parte esclarecer que:
    1) Pela primeira vez, ainda que em grau de recurso, o governo americano terá que apresentar-se em um fórum estrangeiro para dizer se aceita ou não ser processado sob uma jurisdição que não a sua, por atos cometidos contra um Estado independente, no caso o Brasil. Acostumados a praticar invasões, terrorismo, subornos, assassinatos de líderes que não servem aos seus interesses, golpes de Estado e todos os atos que praticam subterraneamente em todo o mundo, os E.U.A serão finalmente colocados em cheque.
    2) Se os E.U.A não aceitarem ser julgados fora de seu território e de suas leis – assim como fizeram em seu país contra o Estado do Vaticano (caso de pedofilia) e o Estado do Chile (caso Letellier), terão que submeter-se a um fórum internacional por haver descumprido a Carta da OEA de não intervenção em governos de outros povos.
    3) Lamentavelmente, nosso tribunal decidiu apenas que, por hora, o Governo Americano se apresente ao tribunal brasileiro através de notificação e não de citação (talvez esse seja um atropelo ao nosso Código de Processo Civil), para dizer se aceita ou não a jurisdição brasileira ou se entendem ser a intervenção em nossa constituição em 1964 um ato de império ao qual não devem explicações à cidadania brasileira.
    4) Será que nossos magistrados, ao decidirem assim, temiam que no caso de citação do embaixador americano, o acusado poderia não se apresentar e o processo correr à revelia?
    5) Diante dos fatos de relatos de agentes, geralmente os historiadores se pautam pela dúvida – e infelizmente não pela certeza – de que não tenha havido premeditação na morte de Jango. Cabe a esses pesquisadores buscar o esclarecimento e não o esquecimento. Por que querem impedir o prosseguimento do MP? Nós queremos apenas o exame químico capaz de dizer se houve ou não envenenamento premeditado. Outros parecem que não querem o mesmo.
    Pergunto-me o que terá levado Moniz a “virar a casaca” a esta altura da vida? Talvez a possibilidade de ser nomeado cônsul honorário em Heilderberg, sem ao menos pertencer aos quadros do Itamaraty no governo Fernando Henrique? Será que recebeu alguma cobrança de setores do Itamaraty para advogar contra o processo que a família move contra os E.U.A? Vale ressaltar que o atual embaixador do Brasil na Alemanha, Everton Vieira Vargas, um gaúcho de Santo Ângelo protegido de Samuel Pinheiro, grande amigo de Moniz, é filho de um de um sargento que – corre à boca pequena – andou pelo DOI-CODI. Coincidência???
    A entrevista de Moniz só faz reforçar minha convicção de que setores oficiais do Brasil e do Uruguai, remanescentes do período ditatorial, estejam desesperadamente tentando sepultar o caso, lançando injúrias sobre minha família.
    Tal atitude mostra apenas o temor que sentem de uma eventual investigação do caso pela justiça argentina, país onde ocorreu o óbito. Poderia ser o tiro de canhão capaz de abrir uma brecha na muralha da impunidade, da revisão da anistia que Moniz não quer contra a qual obteve reforço através da lamentável decisão de nosso STF.
    João Vicente GoulartDiretor
    PresidenteInstituto Presidente João Goulart
    http://www.institutojoaogoulart.org.br
    Fonte: http://www.institutojoaogoulart.org.br/blog_home.php?blog=1

  2. erico disse:

    O Brasil tem de para de bla bla bla , falaçao e conversa fiada e desenvolver armamentos modernos e de última geraçao para ser respeitado no mundo , como caças militares , porta-avioes , submarinos , tanques , navios militares , misseis , foguetes e bombardeios e até secretamente armas nucleares. Vamos parar de ser inocentes e ingenuos , se nao for assim , como vamos proteger a Amazonia , os mega campos de petroleo , os maiores do mundo , a única agricultura capaz de suprir o mundo e a maior reserva de água doce do mundo , vamos acordar BRASILLLLLL .

  3. Angela disse:

    Em terra de cego … quem tem olho é rei. Um dito popular folclórico que retrata bem como se lidera e forma opinião com informações seletivas e cada vez mais facilitadas por usuários de uma tempo de interatividade tecnológica e redes on-line. O autor – militância e ideologias à parte do presente espaço reflexivo – é articulado e tem a desenvoltura de quem vive história… como sujeito de história. A complexidade contemporânea para um mapeamento dos grandes interesses internacionais localizando-os numa geopolítica de globalização econômica resvala para um estado de perplexidade. Ensaiar opiniões auxilia a construção do pensamento, a ponderação e toda troca de idéias fortalece balizamentos com potencial fidedigno do tempo (Edgar Morin melhor diria, de ” Necrose”). Mas sempre me preocupa discursividade peremptória… com todo respeito pela erudição de um militante do olhar observador político em escala internacional. É com pesar que se admite não estimar neste novo século, sensatez e bagagem civilizacional, para um revisitar de paradigmas, abusando de metalinguagem, provavelmente sem se dar conta… amadurecidos e sofridos, mas não entorpecidos: por favor! A Diplomacia é estratégia de ação e civilidade, e não está circunscrita a postulados teóricos – com miopia pejorativa. Qual o projeto de paz que se pratica nas gestões de Estado? Comunicação não pode ser reduzida a ” matérias” pra fechar tablóides. Insuflar estados de espírito de antagonismo permanente é confundir e desmobilizar a sociedade para edificar dimensionamentos de estatura da realidade. Vejo inteligências invejáveis não se dando conta que praticam (ainda) um maniqueísmo (mal e bem) identificados nas forças líderes mundiais. Processos de abertura e ação coorporativa com inclusão social para promoção de mudanças estruturais num continente como o latino americano exige interlocução, visibilidade e pauta de metas com dimensionamento de ações de diálogo, negociações, fortalecendo princípios que se deseja legitimar como o Estado de Direito e as práticas democráticas.
    Lidamos com questões estruturais em escala planetária! O comentário local sem dimensionar o cenário global pode tornar-se… ” um solilóquio”. Objetivando:o futuro da América latina não pode ser reduzido a um mapeamento de tensões ” provisórias”. Ou a uma historiografia que mantém os atores nacionais , classicamente em conflitos numa ribalta ” do lugar comum”. Havemos de amanhecer! E por que não um pouco de suavidade no modo de “desentranhar” as faces e facetas de espaços de estado na “agonia” de espelhamentos de uma ” trama” perversa do capital e das forças institucionalizadas do “legado da mais valia”? Um mundo de mercados e proliferação tecnológica é factualmente competitivo … e desalentador sob o prisma da qualidade de vida humana e de uma paz que não se consuma, ou que mantem na corda bamba da diversidade e diferenciação dos poderes seculares… que criativamente (embora paradoxalmente) ” regulam” todo forma de emancipação pela consciência (ingerência em educação e cultura) e por novos exercícios de relacionamento… em escala ponderando o quantitativo das nações e o desafio ” da multiplicação dos pães” ao governar.
    Trabalho! Equalizar a estrutura ocupacional é determinação inexorável de vontade política! Operatividade e produtividade ” sem esteio” concreto nos coloca ” na rinha” de ” vislumbres” do próximo passo… do outro, tido como parceiro e ofensor potencial,sempre.
    Nossa capacidade inventiva fenomenal nos afasta da simplicidade, da generoisidade factual, do compartilhamento do que poderia ser um prisma de vida boa… construindo pontes para o futuro das novas gerações. No horizonte … a belicosidade campeia e as utopias de um mundo melhor pra se viver vão sendo fragmentadas e ruínas existenciais constróem valas e cancros amontoados nas retóricas e na inação dos que já sentem a contaminação dos seus ânimos, sonhos e esperanças…uma coletividade de vozes auto-silenciadas pela perda da fé num futuro que não se vislumbra mais.
    Novos arautos do tempo sentenciam com crônicas e ensaios a escassez “do próprio solo leitor” que pensam fertilizar.
    Havemos de amanhecer! Lembram disso?

  4. Luiz Fernando de Carvalho disse:

    Não apreciar um hegeliano profundo e erudito como o professor Moniz Bandeira é flertar com a ignorância.

  5. Vianna disse:

    Assisti estupefato pela TV Cultura de 31 de março, a um programa de entrevista a diversos jornalistas, contemporâneos dos acontecimentos que culminou com o golpe militar de 31 de março de 1964. Dentre eles, não me recordo se Vilas Boas Correa ou, Marcio Moreira Alves, saiu um comentário acerca de três artigos de autoria de Moniz Bandeira, escritos no jornal carioca Correio da Manhã, incitando a derrubada do governo de João Goulart. Se isso for verdadeiro, qualquer coisa que ele tenha dito ou escrito a respeito da influência ou ingerência conspiratória dos EEUU com vista a implantação da ditadura militar no Brasil, nas pessoas do general Vernon Walter e do embaixador Lincoln, ficam sem credibilidade, ainda que invoque seu passado trotskista-leninista.Um pena, mais uma ilusão que se vai…

  6. Moisés Neto disse:

    Mais uma vez Moniz Bandeira se mostra lúcido em suas interesantes interpretações/leituras da conjuntura americana.

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