A ONU reconhece emergência alimentar

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Aumento do consumo de carne e uso de terras para produção de combustíveis vegetais estão multiplicando preços e ameaçando a comida dos mais pobres

O Programa Mundial de Alimentação, das Nações Unidas (WFP, em inglês), considerado a maior agência humanitária do mundo, lançou, durante a Páscoa, um apelo eloqüente aos países que lhe destinam fundos. Precisa de 500 milhões de dólares suplementares, em seu orçamento, para 2008. Do contrário, será obrigado a cortar as rações de 90 milhões de pessoas, em 80 nações a que presta assistência.

O pedido, também dirigido a doadores individuais, é motivado por uma alta espantosa nos preços dos alimentos, em todo o mundo. Só em 2007, a elevação foi de 40%, e a tendência altista vem desde 2004, segundo cálculos da FAO, outra agência da ONU. Embora possa, a médio prazo, favorecer os trabalhadores no campo (onde se concentram três quartos dos habitantes mais empobrecidos do planeta), o movimento está provocando emergência alimentar. Acredita-se que poderá ser mais grave que a do início dos anos 70 — a maior do pós-II Guerra.

Dois fatores estão estimulando a alta dos preços. O primeiro é a mudança nos hábitos alimentares de centenas de milhões de pessoas, principalmente na Ásia. O consumo médio de carne dos chineses saltou, nos últimos vinte anos, de 20 para 50 quilos ao ano. Alterações semelhantes estão em curso na Índia e no sul e sudeste da Ásia. Isso provoca um enorme aumento do consumo de alimentos. São necessários três quilos de cereais para produzir um quilo de carne de porco — e oito quilos, para um de carne de boi.

Do ponto de vista mais imediato, o vilão são os combustíveis vegetais — especialmente o milho, cuja eficácia para movimentar motores é paupérrima. Ainda assim, subsidiado nos Estados Unidos por fortes incentivos monetários aos produtores e por altas taxa sobre a importação (de etanol de cana, por exemplo), o milho cultivado para álcool está roubando espaço de todos os cereais destinados à alimentação humana e animal.

As conseqüências políticas da alta de preços são profundas. Países como o Brasil poderão ganhar acesso a grandes mercados de álcool de cana. Para evitar que isso gere devastação ambiental e concentração de riquezas, terão de adotar medidas que redistribuam os ganhos dos grandes produtores, e impeçam a devastação de ecossistemas como a Amazônia, o Pantanal e o cerrado. Outra tentação perigosa são os alimentos transgênicos. Diante da escassez de comida, será preciso apresentar alternativas que tornem desnecessário seu cultivo.

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9 comentários para "A ONU reconhece emergência alimentar"

  1. Acredito q o problema não é a quantidade de pessoas e sim a má distriuiçao dos alimento!
    brigado vlw

  2. Acredito que a questão da defesa do direito alimentar de milhares de pessoas no mundo desse ser aprofundada e fortalecida. No que tange a questão dos fatores que implicam no enfraquecimento dessa militância, mais particularmente a produção de biocombústiveis, penso que que é inexorável a substituição do paradgna energético baseado no petróleo para a energia à partir da biomassa. Sendo o que tem que ser problematizado é a forma como esta nova fonte energética deve ser produzida no mundo. Acredito que não podemos pensar essa produção no sistema tradicional da monocultura, altamente concentradora de renda e ambientalmente incoerente com os esforços do combate ao aquecimento global e sobretudo concorre para diminuição da produção de alimento no mundo. Isso sim tem que ser combatido e não o biocombustíveis em si!

  3. erico disse:

    O grande consumo da China e da India que estao se urbanizando rapidamente e crescendo suas economias até 10% ao ano , também estao se ocidentalizando , ou seja, estao adquirindo abitos alimentares do ocidente , como se alimentar de carnes , leite , etc. Vamos tomar a China como exemplo , com 1.350.000.000 hab. consumia 4 litros de leite em 1980 por habitante hoje em 2008 consome 25 litros por hab.carnes em geral a China em 1988 consumia 20kg por hab. hoje consome 50kg de carne por hab. Isso tem influencia global no preço dos alimentos em todo o mundo e ainda tem a India com 1.150.000.000hab. , mais sudeste asiatico com mais de 500.000.000 hab. se urbanizando e nao plantando mais nada já que estao nas cidades mais precisam se alimentar , o Brasil tem que aproveitar tudo isso , ele é o único com 300.000.000hectares para produzir de tudo

  4. marco disse:

    … Se eu fosse extremista diria que é um tubo de ensaio dos produtores de trasgenicos… vai dizer que não pode ser?
    pois quem regula a produção de commodtes é o mercado financeiro, e seu objetivo maior é conseguir monopólio, lembra do jogo de infancia?
    …Comida tem um monte, bioconbustiveis podem ser convencionados, como por exemplo daq mamona, não precisa de terra boa pra cultivar esta espécie, é como praga nasce até me areia, na africa em regiões que a terra é terrivelmente ruim e tem muito sol, eles poderiam produzir riquesas e comprar alimento, pois o que custa pra produzir alimento é dinheiro e não terra agricultavel, em resumo, o Georges Soros, esteve no final do ano passado comprando usinas de alcool do brasil e em outros paises da AL, vc acha que ele dá ponto sem nó?

  5. RUbens disse:

    Há anos que esta crise alimentar vem sendo anunciada, justamente por aqueles que tinham interesse na utilização de combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral) e não têm interesse no desenvolvimento de qq tipo de biocombustível. Como vemos os defensores dos combustíveis fósseis como sendo os “caras do mal” seu anúncio foi desqualificado.
    No Brasil, um país ensolaradíssimo há um pontencial gigantesco e quase infinito para ser explorado com a energia solar. Vejam só este dado: UM DIA DE SOL (unzinho só) pode gerar de energia 320.000 o que ITAIPU produz em um ano. DE NOVO. Um dia de sol no Brasil pode produzir trezentos e vinte mil vezes a energia que Itaipu produz em um ano. O único problema é que esta energia ( limpa, barata, abundante) prejudicaria os cartéis do petróleo e a industria automobilística movida quase totalmente a petróleo.

  6. Ana Krisn disse:

    Nao acredito na falta de alimentos, isso nao existe; O que existe é a ma distribuicao do mesmo e um desperdicio esacerbado!

  7. Allan Nunes (Programador, Brasília). disse:

    De nada adiantaram os brados, nem hão de adiantar; até eu começo a reconhecer que necessito urgentemente de um carro, depois penso no que vou comer.

  8. matsuba disse:

    A única saída, ao meu ver, é a redução do nível de consumo do ser humano. Assim como o consumo de carne aumenta a pressão humana sobre os ambientes naturais, nosso padrão de vida, baseado no consumo inconsciente e individualista só faz com que nos aproximemos de uma crise ecológica sem precedentes.

  9. Renato Gianuca disse:

    Devemos comemorar o fato de que milhões de pessoas, no mundo inteiro, estão se alimentando mais e melhor. Mas, na realidade, era inevitável esse paradoxo: enquanto cresce a produção de alimentos, paralela ao seu consumo, há uma surda disputa por terras.
    Afinal, a terra onde os alimentos são produzidos é a mesma terra de onde sairão os biocombustíveis, considerados indispensáveis à medida em que o petróleo vai escasseando. É uma difícil opção: plantar alimentos? Ou plantar biocombustíveis? Sempre lembrando: as áreas de plantio são escassas, em todo o Planeta. Enquanto isso, as catástrofes relacionadas às mudanças climáticas vão reduzindo, ano a ano, as áreas de cultivo. Qual a saída, se houver ?
    Renato Gianuca (jornalista, Porto Alegre (RS).

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