A China observa suas transnacionais

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Deixá-las lucrar “livremente” no exterior está provocando desgaste político crescente

Dirigentes e cientistas sociais chineses estão voltando os olhos, com preocupação crescente, para um problema espinhoso. Estimuladas a conquistar novos mercados (e, particularmente, novas fontes de matérias-primas) no exterior, as transnacionais do país estão adotando práticas muito semelhantes — e, às vezes, piores — que as de empresas ocidentais. Estes procedimentos desgastam a imagem da China junto a parte da opinião pública internacional, e mesmo a aliados históricos. A apreensão é sincera; ainda não está claro, contudo, se ela será suficiente para reverter as ações das empresas chinesas, ou se acabarão prevalecendo as razões econômicas e de poder.

O relato de um debate recente, a este respeito, pode ser encontrado em texto da Agência IPS. Qin Hui, um reconhecido estudioso chinês de História Econômica, fez conferência sobre o tema, há dias, em Kunming, capital da província de Yunnan, próxima à fronteira com o Vietnã. Afirmou que as companhias chinesas operantes no exterior tendem a adotar “os piores padrões sociais e ambientais possíveis, em qualquer situação”. Foi apoiado por Zhang Xizhen, da Escola da Estudos Internacionais da Universidade de Beijing. Para este, “o governo chinês encorajou as empresas a buscar o exterior, mas não adotou medidas concretas para verificar seu comportamento”.

A formação e expansão das transnacionais chinesas é um fenômeno recente, que se apoia nas enormes reservas em moedas fortes acumuladas pelo pais. Só nos dez primeiros meses de 2009, elas investiram 58 bilhões de dólares — 25% mais que no mesmo período do ano anterior. Em continentes como a África, já são uma presença tão importante quanto suas congêneres norte-americanas ou europeias. Atuam em setores tradicionalmente problemáticos, dos pontos de vista ambiental e social: extração de matérias-primas e construção de grandes obras.

Na condição de novatas, têm apelado para expedientes duvidosos, para conquistar espaço. Atuam com desenvoltura em países onde suas congêneres ocidentais sentem-se constrangidas, por pressões da opinião pública (como Mianma, onde há ditadura militar primitiva e Sudão, cujo governo patrocina ações genocidas).

Em outras partes, repetem os métodos que fizeram a má-fama de suas rivais. Em Zâmbia, mortes em série, ocorridas em mineradoras chinesas, provocaram levantes populares em 2006 e obrigaram o presidente Hu-Jintao a evitar a região do cobre, em sua visita ao país, um ano mais tarde. No Vietnã, o controle quase completo das minas de bauxita pelos chineses levou, no ano passado, o general Vo Nguyen Giap, herói das guerras de independência, a unir-se aos dissidentes e ambientalistas, para exigir providências do governo comunista.

Nos últimos tempos, o governo chinês parece estar mais consciente da gravidade do problema. Os ministérios do Comércio e da Proteção Ambiental, afirma-se, trabalham em normas para regular a atuação externa das empresas com sede em seu país. Em recentes viagens internacionais, o presidente Hu Jintao e o vice Xi Jinping mantiveram contatos com executivos de transnacionais chinesas. Teriam pedido respeito a normas locais e aos direitos das comunidades.

A dúvida é: será possível um comportamento menos predatório, tendo em vista o padrão de desenvolvimento adotado pela China? Ou a sede quase insaciável de matérias-primas e a necessidade de maximizar sempre os lucros — duas  características centrais deste modelo — acabarão levando o “Império do Centro” a seguir passo por passo a trilha dos países capitalistas pioneiros?

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