Ucrânia: imperialismo e guerra da informação

Papel da mídia como máquina de propaganda está claro: para o Império, urge retomar a hegemonia e destruir adversários asiáticos, como Rússia e China. É preciso fazer a crítica desse jogo a partir de um ponto de vista dos trabalhadores

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Por César Bolaño

Título original: O conflito de Donbas: imperialismo e guerra de informação. Desafios à economia política da comunicação e da cultura

Nossos inimigos dizem: A verdade está liquidada.
Mas nós dizemos: Nós a sabemos ainda.
(Brecht)

O atual conflito entre Otan e Rússia em torno das operações militares desta na Ucrânia desde o final de fevereiro de 2022, no contexto da guerra do Donbas – iniciada logo após o golpe de Estado de 2014 e a consequente declaração de independência das repúblicas populares de Lugansk e Donetsk –, é um momento crucial na crise estrutural do capital que, ao mobilizar, expõe o complexo institucional e os atores que se articulam na organização e funcionamento do imperialismo. Um dos elementos fundamentais desse complexo é o sistema global de comunicação que, numa situação extrema, de guerra, passa a funcionar prioritariamente de acordo com a lógica da propaganda, deslocando aquela da publicidade momentaneamente para o segundo plano. Nestas condições, é obrigação histórica dos estudiosos da economia política da comunicação e da cultura (EPC), esclarecer a coerência dessa articulação e as contradições envolvidas. Este artigo visa apresentar esse desafio ao campo através de algumas reflexões preliminares, feitas no calor da hora.

A situação atual do imperialismo guarda certas similitudes, que por certo não se podem exagerar, com aquele momento, durante o governo Reagan, em que se dá uma espetacular inversão de tendência que a professora Maria da Conceição Tavares (1997) chamou “retomada da hegemonia americana”, em termos econômicos, políticos e militares, após uma década de crise do dólar e de avanço, na concorrência internacional, nas principais indústrias definidoras da dinâmica capitalista ao longo de todo o período expansivo do pós-guerra, a automobilística e a eletroeletrônica sobretudo, das empresas europeias, em especial a alemã, e japonesas principalmente. A recuperação do poder do dólar deu-se graças a um tipo de “keynesianismo bastardo”, nas palavras da professora, assentado num aumento das taxas de juros que redirecionava os fluxos de capital para os Estados Unidos, transferindo a crise para fora, primeiro para os países endividados do terceiro mundo e para o leste europeu, onde o sistema soviético, que já enfrentava a sua própria crise estrutural, seria obrigado a responder ainda ao desafio econômico imposto pelo projeto norte-americano de “guerra nas estrelas”. Como resultado, ocorre a derrocada do regime e do conjunto do que Robert Kurz (1991) chamou “socialismo de caserna”.

Por outro lado, Ronald Reagan promoveu um forte enquadramento político dos seus sócios europeus, explícito no veto à construção do gasoduto transiberiano, entre a Alemanha e a Rússia, passando pela Ucrânia. Esta última, com o final do sistema soviético adquire uma autonomia que só lhe fora dada antes, na história moderna, pela Alemanha nazista, que utilizou o seu território como plataforma de ataque à União Soviética, como já fizera antes Napoleão contra o império czarista. A Ucrânia, expandida pela cessão de territórios por parte dos bolcheviques, desde 1922, transformara-se em um grande e rico país, tensionado, não obstante, por uma divisão interna que se mostraria, em breve, altamente desagregadora. Ao longo dos “dez anos loucos” do Leste Europeu, após a queda do sistema soviético, três movimentos ocorreram, fundamentais para a formação da conjuntura atual:

1. As lideranças nazistas ucranianas que, ao contrário do que ocorreu com as alemãs, foram poupadas nos julgamentos de Nuremberg e mantidas a salvo na Europa e nos Estados Unidos, ou seus sucessores, melhor, no jogo político, retornaram ao país, onde voltaram a organizar-se enquanto força de ataque, que teria um papel crucial no golpe de 2014, que deslocou o país da área de influência da Rússia para a da União Europeia.[1]

2. A Otan, ao invés de extinguir-se, como ocorreu com o Pacto de Varsóvia que, ao desfazer-se, liberou uma série de países para integrar-se à aliança ocidental, cresceu para o leste, inclusive pela incorporação dos novos países surgidos da destruição, que ela própria promoveu, da antiga Iugoslávia.

3. A China, da sua parte, implementou um arrojado movimento de reestruturação, iniciado durante o governo Nixon, que tratou de aproximar-se do país – aproveitando o interesse do presidente Deng Xiaoping na implantação do plano de reformas que levaria ao modelo de “um país, dois sistemas” – para inserir uma cunha nas relações entre o gigante asiático e a União Soviética. O sucesso do plano levaria a China à condição de grande concorrente dos Estados Unidos no início do século XXI, em lugar das enquadradas economias da Alemanha e do Japão. Um aspecto fundamental para a consolidação da retomada da hegemonia norte-americana reside na reestruturação produtiva iniciada nos anos 1980. O caso das reformas e privatizações do setor de telecomunicações mundo afora, por pressão dos Estados Unidos, após as mudanças regulamentares lá ocorridas em 1984, é muito representativo, pois se trata de um dos três setores da convergência tecnológica (ao lado da informática e da radiodifusão), que estão na base da expansão do paradigma digital, elemento chave da terceira revolução industrial, tanto no que se refere à reestruturação industrial, com a implantação dos sistemas de produção flexível de base microeletrônica, quanto ao surgimento e expansão da internet e das plataformas digitais, com impactos sobre o mundo do trabalho e o conjunto da economia e da sociedade, em nível mundial.

Informação e comunicação adquirem, nessas condições, uma centralidade inusitada no modo de produção, ao tempo em que as formas de legitimação se alteram, com a implantação de um novo sistema global de cultura, para usar a expressão de Furtado (1978), fundado em formas de comunicação extensamente horizontalizadas e interativas, cuja aparência democrática esconde a essência de sistema técnico destinado ao controle e à vigilância em escala massiva e global, com uma capacidade de manipulação ampliada e concentrada em poucas empresas norte-americanas, cujo poder de censura tem se mostrado superior àquele da Indústria Cultural do século XX.

Enquanto esta última se estruturava, na segunda metade do século passado, em torno dos sistemas de televisão regulados, à semelhança das telecomunicações, pelo Estado nacional, ou diretamente operadas por ele, sob o princípio mundialmente estabelecido de soberania nacional nesses setores – ainda que a produção de conteúdo fosse em grande medida concentrada no oligopólio global de Hollywood e da indústria fonográfica norte-americana –, o novo sistema apresenta-se como instrumento que o imperialismo controla diretamente na sua totalidade e em cada uma das suas partes. É claro que as contradições são de toda ordem e o caráter necessariamente interativo do modelo de regulação algorítmica adotado torna a questão muito complexa, abrindo brechas inclusive para a existência de meios independentes e alternativos, os quais, não obstante, têm sofrido crescente acosso nos últimos anos. [ Em todo caso, o que interessa apontar aqui é a capacidade que tem essa complexa estrutura – que não elimina o poder concentrado da velha Indústria Cultural, mas o subsume e potencializa – de organizar o consenso e o exercício da hegemonia em nível internacional.

Um estudo da cobertura da intervenção russa na Ucrânia, articulando a produção e distribuição de conteúdo informativo, desde as grandes agências de notícias até a sua replicação nas redes sociais, passando pela ação da mídia hegemônica e pelas ações de censura das plataformas digitais, nos diferentes países, mostrará, como em inúmeros outros casos, o elevado grau de integração do sistema global de cultura em benefício do imperialismo na construção do consenso. É claro que em ambos os lados do conflito, os sistemas de comunicação vinculados subordinam-se a interesses superiores, políticos e militares, mas é flagrante a superioridade do sistema integrado do imperialismo, que abrange as grandes agências de notícias, as plataformas digitais norte-americanas e toda a mídia hegemônica mundial, amplamente capilarizada. Toda essa estrutura tem sido usada, desde, ao menos, o final do século passado, em estratégias de guerra híbrida, como nas chamadas primaveras árabes e revoluções coloridas – entre as quais inclui-se o golpe de Estado na Ucrânia em 2014 – e em processos de lawfare, como os que ocorreram por toda a América Latina contra a chamada onda rosa da primeira década do século XXI.

O fracasso da política neoliberal, com suas recorrentes crises, desde os anos oitenta do século passado, culminando, até aqui, com a grande crise de 2008; o avanço da economia chinesa, o soerguimento da Rússia e o sucesso de iniciativas como a dos BRICS; o desgarramento da América Latina em relação aos interesses norte-americanos e o crescimento econômico que lograram, puxado pela China, a integração da economia sul-americana e a incapacidade dos Estados Unidos de reverter a situação a seu favor trazem à tona a crise de hegemonia que se imaginava poder ter sido superada. A escalada da crise para o plano político e militar, a derrota no Afeganistão depois de 20 anos de ocupação norte-americana, a incapacidade de resolver a seu favor a situação do Oriente Médio, como explicita o caso da Síria, o fracasso das políticas de sanções econômicas contra inúmeros países insubordinados, tudo indica uma tendência à débâcle que deveria ser o tema dos partidos e organizações de esquerda.

Seria necessário neste momento, não neste texto, retomar os debates no seio do marxismo que, nos anos trinta do século passado, opunham perspectivas ditas objetivistas e subjetivistas em relação às possibilidades de superação do capitalismo, herdeiras, na verdade, das discussões a respeito da posição da classe operária diante da primeira guerra mundial, que dividiram os trabalhadores nas duas tendências representadas pela social-democracia alemã, de um lado, e o bolchevismo do outro. Não quero ir tão longe. O fato é que o debate sobre a tensão entre as possibilidades objetivas, dadas pelo próprio desenvolvimento das forças produtivas, de colapso do sistema, de um lado e, de outro, a ação consciente da classe trabalhadora, sem a qual a tendência ao colapso se resolve não numa revolução socialista libertadora, mas na pura barbárie, esse debate chegou a ser retomado nos anos setenta do século passado, mas foi deixado de lado, a partir dos anos oitenta, sob o influxo, no campo intelectual, do pensamento pós-modernista e pós-estruturalista, que levaram ao surgimento de uma extensa família de novos revisionismos que, em linhas muito gerais, acabam por referendar a perspectiva objetivista extrema da transformação automática do sistema, pelo simples desenvolvimento das forças produtivas.

A classe trabalhadora, da sua parte, sofreu e vem padecendo de uma derrota histórica de grandes dimensões, em duas frentes combinadas: as políticas neoliberais, que retiram direitos historicamente conquistados, e a reestruturação produtiva, que provoca uma mudança radical na própria estrutura da classe, através de uma extensa robotização e a subsunção do trabalho intelectual (Bolaño, 2002), segmentando-a em duas partes, uma das quais submetida a uma precarização sem precedentes, enquanto a outra perde a autonomia de que chegou a desfrutar no período de vigência do regime de acumulação taylorista-fordista-keynesiano, passando por situações comparáveis àquelas do período original de transição da subsunção formal à real, estudado por Marx, embora a questão de pesquisa atual seja não tanto a de estabelecer um ponto de corte nessa passagem em relação ao trabalho intelectual, mas basicamente a dos limites à subsunção desse tipo particular de trabalho, dadas as suas especificidades e as formas da sua integração nos processos produtivos, através dos softwares e algoritmos que promovem a mediação técnica realizada, no tempo de Marx, pela máquina ferramenta.

Nessas condições, a classe trabalhadora não se tem apresentado como força contra hegemônica diante da profunda crise sistêmica, potencializada pela pandemia do coronavírus. À falta de uma opção revolucionária desse tipo, avançam os movimentos de classe média, as revoluções coloridas e a extrema-direita mundial, que adota uma conveniente postura antissistêmica, enquanto implanta, nos países, como o Brasil, em que logrou chegar ao governo, uma política neoliberal ainda mais radical, inspirada na experiência pioneira do Chile de Pinochet. Na Ucrânia, a integração das milícias nazistas, a partir do golpe de 2014, ao regime político, serve de apoio a uma situação de permanente tensão, que inclui a manutenção, por oito longos anos de uma guerra de baixa intensidade, mas nem por isso menos mortífera, às portas de uma Rússia que procurava, desde a chegada de Vladimir Putin ao poder, recuperar-se das derrotas sofridas desde a derrocada da União Soviética, avançando, especialmente na atualização da sua estrutura militar, setor em que, como o aeroespacial, preserva a dianteira tecnológica, ainda que, no que se refere ao desenvolvimento capitalista em geral, tenha-se tornado essencialmente, nas últimas décadas, um (grande) exportador de matérias primas, petróleo e gás.

As provocações da autodenominada aliança ocidental, por sua vez, com o anúncio de uma iminente incorporação da Ucrânia à Otan, explica-se completamente pela ótica geopolítica da polarização entre potências atlânticas e eurasianas, que acabou sendo adotada pelo imperialismo quando decidiu avançar com a Otan para o leste. A adesão da Ucrânia e sua militarização, como até as paredes da Casa Branca e do Pentágono sabem, é uma condição inaceitável para os russos, especialmente diante do silêncio da chamada comunidade internacional, durante oito anos, frente à guerra no Donbas, após o sangrento golpe de 2014, e da memória, ainda fresca, da intervenção da Otan na Iugoslávia.[3] Do ponto de vista do imperialismo, a escalada da guerra na Ucrânia é interessante por vários motivos:

1. Desde o final da guerra fria e a desintegração da Iugoslávia, a Otan, como afirmou o chanceler Celso Amorim, é “uma aliança militar em busca de um inimigo”: o terrorismo islâmico, a corrupção, regimes antidemocráticos selecionados, supostamente desrespeitadores dos direitos humanos. A Rússia e a aliança eurasiana, por fim, repõem o problema em seus termos clássicos, justificando a existência da máquina de guerra ocidental, que pode assim gastar seus estoques, dinamizando a indústria bélica, especialmente dos Estados Unidos, com efeitos supostamente positivos, em algum momento, sobre a demanda efetiva. O envio de enormes quantidades de armas para a Ucrânia vai nesse sentido, mas o mais preocupante, do ponto de vista da segurança global é o aumento do armamento da Europa, muito especialmente da Alemanha, onde o crescimento também dos grupos neonazistas tem causado fundadas preocupações, dada a história do país.[4]

2. Para os Estados Unidos, o ataque à Rússia serve principalmente à necessária unificação do bloco imperialista sob seu comando, visando à retomada da hegemonia, como ilustra, mais uma vez, o veto ao gasoduto Nord Stream 2, finalmente adotado pela Alemanha que, como a França e o conjunto da União Europeia, é impelida a aceitar condições que ferem seus interesses econômicos imediatos, beneficiando, ao contrário, a indústria de gás de xisto dos Estados Unidos, assim como as empresas petroleiras norte-americanas.

3. Nesse sentido, têm razão aqueles que falam em uma reação da potência imperialista ao desafio representado pela aliança eurasiana, lembrando que a Rússia representa apenas o início de um movimento que visa, em última instância, o seu principal concorrente no plano econômico, a China, contra a qual também brande ameaças de balcanização em nome da defesa de identidades oprimidas, direitos humanos e democracia, ao contrário da Ucrânia, defendida em nome, não da identidade russa oprimida no Donbas, por exemplo, mas da integridade territorial pilotada pelo regime de extrema direita e suas brigadas nazistas.

Claro que pode haver outras, perceptíveis em análises mais finas, considerando cada um dos atores individuais, mas em linhas gerais, essas são as determinantes econômicas do conflito, ligadas ao desejo de retomada da hegemonia, para o qual diferentes instrumentos são mobilizados, inclusive de ordem militar.[5] Na verdade, todo o imbroglio confirma o fato de que, em conjunturas críticas, como a atual, os interesses do Estado, enquanto representante do conjunto da classe capitalista, são absolutamente prioritários em relação aos interesses particulares dos capitais individuais ou, no caso, das nações capitalistas particulares na defesa dos seus capitais nacionais. Em todo caso, não deve restar muitas dúvidas de que, aparte do aprofundamento da crise global, com aumento da inflação, problemas de abastecimento de trigo, energia e matérias primas fundamentais, afetando as cadeias de valor, é a Europa, no interior do bloco imperialista, quem sofrerá mais no que se refere à concorrência das suas empresas em nível internacional e das condições de vida da sua população, com a “guerra econômica” contra a Rússia.

É interessante examinar o problema usando o conceito de poder econômico de Furtado (1967), definido como a capacidade dos agentes que o detêm de, através de suas ações, promover mudanças de parâmetros que obrigam os demais agentes a reposicionar-se, com o que logra ampliar a sua participação no excedente, lembrando que se trata de uma questão de hierarquia, em que o poder é assimetricamente distribuído, sendo que o movimento daqueles que não dispõem de nenhum poder será meramente adaptativo. No caso em exame, por exemplo, as ações dos Estados Unidos, desde o fim da União Soviética, foram no sentido de romper as resistências dos seus aliados e das vozes dissidentes internas em relação à opção pela expansão da Otan, que culmina com a formação, hoje, de um consenso em relação às respostas da Rússia – um agente com um grau de poder que o capacita a realizar movimentos reativos que alteram também os parâmetros, obrigando a novos ulteriores reposicionamentos –, visando a consolidar o seu comando no interior do bloco imperialista.

Uma vez conquistada a subordinação dos países europeus, não apenas estes deverão pagar, por exemplo, pelo seu gás, cerca de 40% mais caro que o russo, mas a referida guerra econômica – baseada em sanções, inclusive no plano microeconômico, em cada mercado – têm impactos reversos eventualmente mais graves para eles que para os Estados Unidos,[6] para não falar na crise humanitária que a guerra os obrigará a enfrentar, com a aglomeração de uma massa importante de refugiados nas suas fronteiras. Assim, a Europa torna-se mais dependente, perdendo graus de liberdade e, portanto, poder econômico, ao colocar-se na linha de frente da guerra, sob o comando da Otan e dos Estados Unidos da América.

É claro que o mesmo poderia ser dito em relação à Rússia, que, em resposta aos inéditos pacotes de sanções econômicas, deverá reforçar laços com a China, segunda maior potência econômica mundial, embora neste caso se trate basicamente de um reforço do bloco eurasiano – do qual a Europa, e a Alemanha em particular, decidiu desgarrar-se – como associação estratégica de caráter defensivo. Até que ponto essa associação poderá barrar a asfixia econômica a que se promete submeter a Rússia, através de bloqueio econômico radical, sequestro de reservas, exclusão de acesso ao sistema SWIFT e ao sistema financeiro internacional, é uma questão em aberto. A adesão ao boicote por parte das grandes empresas oligopolistas ditas ocidentais, incluindo japonesas e sul-coreanas, mostra que se trata de uma ação do conjunto do capital monopolista global.[7] O significado dessa ação concertada em termos de concorrência internacional em setores específicos será certamente matéria de estudos a partir de agora.

Do exposto até aqui, pode-se concluir que estamos diante de mais um momento da tentativa, por parte do imperialismo norte-americano e seus sócios europeus, de reconstituição das bases da exploração, visando uma retomada do desenvolvimento capitalista, para além da pura lógica do capital fictício dominante ao longo de todo o período neoliberal. A tradição marxista ensina que é preciso entender as condições objetivas que limitam o processo de acumulação, refletindo-se na baixa da taxa de lucro e no avanço das diferentes formas de valorização fictícia do capital, indicando, em última instância, a existência das condições concretas para a derrocada do capitalismo, o que, no entanto, só poderá ocorrer pela ação organizada consciente da classe trabalhadora, a qual ainda padece, neste momento, como já apontado, das consequências da reestruturação produtiva e do ataque contra ela desfechado ao longo dos últimos mais de quarenta anos pelas políticas neoliberais à torta e à direita.

O aprofundamento da crise decorrente da guerra, que atingirá de forma mais aguda, pode-se presumir, a classe trabalhadora europeia, se não a atirar de vez nos braços da extrema-direita – como tem ocorrido, até aqui, em ampla medida, com a norte-americana, atraída pelo discurso nacionalista de Donald Trump, que promete aproveitar-se eleitoralmente do desastre que tem sido a administração Biden – pode reavivar suas tradições revolucionárias e abrir terreno para o derrumbe, o que por certo depende da posição que os partidos de esquerda adotarão frente à guerra e à crise. Não se pode esquecer a experiência histórica da longa crise dos anos 1930, seguida da Segunda Guerra Mundial, que serviram, no bloco ocidental, em vez da derrocada final da ordem capitalista, a uma espetacular restauração das bases da exploração, que garantiriam uma trajetória ascendente inusitada e inesperada do capitalismo.

A tomada de consciência, pela classe trabalhadora, do seu papel diretor na superação do capitalismo sempre será dificultada pelos revisionismos de todo tipo e pelos feitiços e trapaças que maneja o capital, o que inclui, no que nos interessa mais de perto, a existência de uma indústria da consciência, elemento central para garantir que a opinião pública internacional aceite e apoie o esforço de guerra. As características dessa indústria especial têm sido estudadas pela economia política da comunicação e da cultura, que deve ganhar relevância no interior do campo da comunicação neste momento em que outra guerra, derivada, está sendo travada em nível global: a guerra da propaganda.

Abre-se, então, todo um horizonte de análise que deveria mobilizar os estudos nesse campo, o qual se tem definido, desde a constituição das suas diferentes escolas nacionais (Bolaño, Lopes, Narvaez, 2019), como parte do pensamento marxista. Considero prioritárias as seguintes linhas de pesquisa na área neste momento:

1. Esclarecimento da estrutura do sistema imperialista e suas contradições internas, considerando, de forma integrada, como procurei fazer aqui, a articulação, no plano institucional, das esferas econômica, política, inclusive militar, e cultural. Neste último caso, encontra-se o sistema de legitimação da dominação, que vem passando por uma transição fundamental da velha Indústria Cultural do século XX para o novo sistema global de cultura, baseado na internet e nas plataformas digitais e outros meios de comunicação mediada por algoritmos, que servem à regulação do conjunto, ao controle do trabalho, da opinião pública e à vigilância.

2. Esta análise deve estar solidamente fundamentada teoricamente nos termos da crítica da economia política, mas seu objetivo é essencialmente esclarecer os processos históricos que conduziram à atual configuração daquele sistema integrado – econômico, político e cultural – referido, que o leva a organizar-se e a funcionar de determinadas formas, seguindo determinadas lógicas e cumprindo, cada um dos seus elementos, determinadas funções, que lhe conferem certa coerência e efetividade em meio a suas contradições.

3. Num plano mais concreto, a análise da guerra especificamente, no campo da EPC, deve esclarecer como, nessas condições, a lógica estatal da propaganda adquire preponderância no sistema de comunicação, deixando em segundo plano aquela, econômica, da publicidade que, não obstante, permanece determinante, em última instância, na perspectiva de conjunto do capital monopolista. No caso em tela, é preciso considerar a existência, ao lado do sistema imperialista global, de um bloco opositor, ainda que também capitalista e organizado até aqui como parte constitutiva do sistema global de cultura. Essa polarização, evidentemente, em tempos de conflito bélico, torna a propaganda instrumento de guerra de ambos os lados, embora a hegemonia, também nesse aspecto, seja do bloco imperialista.

Assim, por exemplo, a mobilização unitária do imperialismo contra a Rússia, inclui a ação decisiva do capital monopolista de empresas como Apple, Sony, Disney, Netflix, Microsoft, ou das plataformas Google e Youtube, que aderiram ao programa unificado de censura, que passa pela proibição da RT e da Sputnik em todo o território europeu. O ataque concertado à liberdade de expressão e ao direito à informação e à comunicação só encontra justificativa na necessidade de impedir a divulgação de visões alternativas dos fatos, para além daquela única divulgada pelo conjunto da mídia corporativa, um caso eloquente, mas em hipótese alguma inédito, de controle da informação, visando a manipulação da opinião pública. Da sua parte, a Federação Russa acabou por bloquear o Facebook e restringir o Twitter em seu território, num movimento reativo que não esconde a assimetria de poder comunicacional entre as duas posições.

4. Análises comparativas da cobertura do conflito por parte dos diferentes meios de comunicação de massa de ambos os lados são, assim, necessárias, incorporando ferramentas de outras disciplinas, bem como o monitoramento das ações de censura e de controle da informação, os ataques aos jornalistas que atuam no terreno, como no caso do espanhol Pablo González, preso na Polônia quando cobria o movimento dos refugiados da Ucrânia, fronteira de onde provinham fortes denúncias de racismo e tratamento violento contra trabalhadores e estudantes africanos e indianos por parte de autoridades ucranianas. Também a checagem das informações é fundamental, pois as chamadas fake news são hoje um instrumento amplamente utilizado na luta política, que adquire evidente relevância como estratégia de guerra psicológica. [8]

5. Neste sentido, vale enfatizar, é fundamental garantir a maior isenção na descrição dos fenômenos por parte tanto dos jornalistas quanto dos pesquisadores, pois a verdade existe e está do lado da classe trabalhadora. As evidências produzidas através dessa análise isenta – não neutra, ou “objetiva”, como nos manuais de redação das grandes empresas de mídia, cuja função não é outra senão controlar o trabalho dos jornalistas – ajudarão a compor o quadro geral da institucionalidade capitalista referida no ponto 1 e das articulações de interesse (do ponto de vista da propaganda) entre as diferentes empresas midiáticas que constituem o sistema global de comunicação. Eventuais diferenças de ênfase ou enfoque indicam diferenças de interesse, nacional ou empresarial, de posição na hierarquia do sistema etc.

6. Um exemplo é o da Apple, que decidiu deixar de ofertar seus produtos na Rússia, mas manteve a venda de aplicativos e outros serviços, segundo reportagem da Deutsche Welle (DW), transmitida em 4 de maço de 2022. Katie Harbath, da International Republican Institute, entrevistada pela emissora, avalia que é importante que as plataformas tecnológicas sigam operando na Rússia em meio ao boicote, pois seriam “uma das poucas ferramentas dos ativistas que não estão controladas pelos meios estatais”, ou ainda, “uma das poucas formas de tentar apresentar informação para contrapor o que vem do governo”. Assim, elas “tentam ser úteis ao país, mas sem ir muito longe para que Putin lhes permita continuar disponíveis”, operando assim um “delicado equilíbrio” entre, segundo os autores da reportagem, “as pressões ocidentais” e “as atuais regras do jogo da informação na Rússia”.

7. Análises comparativas entre a cobertura desta guerra e de outras – Iraque, Líbia, Iugoslávia, Afeganistão, Iêmen – por parte dos meios hegemônicos também poderão ajudar a entender as vinculações entre eles e o funcionamento da máquina de propaganda do imperialismo, seu modus operandi, que inclui a denúncia de uma ofensa aos direitos humanos, antes do ataque, seguida da criação de um clima favorável à intervenção, com a criação de uma imagem negativa da liderança que se vai atacar etc. O caso do Iraque é certamente o mais conhecido, mas se trata de um padrão que deve ser estudado com cuidado e da forma mais objetiva. Afirmar que o controle da informação, a desinformação e a mentira sempre fizeram parte das guerras e que os dois lados em confronto sempre se valem desse tipo de estratégia, não tem nenhuma utilidade. É preciso conhecer os mecanismos concretos, caso a caso, padrões de funcionamento e assimetrias constitutivas da estrutura de poder na quais estão inseridas.

8. Um aspecto fundamental para entender essa estrutura na atualidade refere-se ao fato, já mencionado, de que ela se encontra em transição, ganhando centralidade no seu interior as chamadas redes sociais que, como bem lembrou Ignacio Ramonet, em entrevista à Telesur (10-3-2022), não estão submetidas às formas conhecidas de regulação democrática dos meios de comunicação convencionais e, ademais, não se organizam prioritariamente como meios de comunicação com o objetivo de transmitir informação, mas como mecanismos de mobilização de sentimentos, o que as torna particularmente adequadas para a ação da propaganda. O que não está muito distante de mecanismos como o da hibridação entre informação e ficção, muito conhecido dos estudiosos do mercado brasileiro de televisão. Numa situação de guerra, como a que estamos vivendo, o controle da informação, a propaganda e a vigilância apresentam-se apenas de forma mais radical e mais exemplar em relação ao funcionamento, digamos, normal, do sistema, visível também em outras situações, como os processos de lawfare referidos acima, ou a ação dos oligopólios da comunicação nos processos eleitorais e na vida política cotidiana.

A guerra comporta complexos jogos de interesse – econômico, político, ideológico – entre uma multiplicidade de atores, que atuam nas diferentes esferas de poder em que se articulam as hierarquias constitutivas do sistema imperialista e nos diferentes mercados que compõem o capital na sua totalidade. A boa compreensão dessas estruturas é fundamental para entender a lógica dos movimentos estratégicos de cada um dos atores envolvidos, os quais, em algum momento, promoverão alterações de ordem estrutural que podem colocar o sistema todo em xeque. A situação com que nos defrontamos é particularmente grave porque se trata de um processo destinado a alterar profundamente a estrutura do poder econômico, no sentido acima indicado, em nível mundial. A crise de hegemonia dos Estados Unidos – cuja gravidade fica patente na tomada de uma decisão de tão alto risco, de consequências graves e imprevisíveis, potencialmente catastróficas, para a economia mundial – está no centro da questão, pois, na medida em que o problema não se resolve no plano econômico, deve lançar mão do seu poderio político-militar, o que exige, previamente, uma subordinação mais estrita dos seus aliados.

Nos marcos do capitalismo monopolista, especialmente na sua etapa atual, a comunicação social desempenha um papel fundamental para a legitimação dos movimentos de cada um dos agentes que desfrutam de poder econômico. Seguindo o desenvolvimento histórico dos sistemas de comunicação social, o campo acadêmico da comunicação, da sua parte, surgiu e se desenvolveu à sombra das guerras quentes e frias que marcaram o desenvolvimento capitalista ao longo do século XX. A economia política da comunicação e da cultura, por sua vez, é um campo de produção de conhecimento que tem se dedicado, ao longo das últimas décadas, à compreensão, em perspectiva marxista, de uma daquelas esferas de poder crescentemente importante à medida que a sociedade se massifica e o capital se globaliza. As reflexões sobre o imperialismo não podem excluir mais o conhecimento desse elemento chave das estratégias de poder.

O tronco hegemônico da epistemologia da comunicação, dadas as suas vinculações históricas com as estruturas de poder econômico e político internacional, não é capaz de revelar as contradições daquela complexa estrutura. A (crítica da) economia política da comunicação e da cultura tem, ao contrário, a capacidade de fazê-lo de forma cabal, na medida da sua herança marxiana, mas isso exige entender que não se trata de mero exercício teórico de construção de modelos mais ou menos sofisticados, como alhures, mas de reflexão fundada na realidade, visando a transformá-la radicalmente, o que só será possível, dadas as condições objetivas mais que maduras prevalecentes sob o impulso de uma classe trabalhadora organizada e consciente do seu papel histórico. À falta dessa condição subjetiva fundamental, as chamadas esquerdas seguirão iludidas com a engenhosidade do mainstream epistemológico global e enredadas em disputas discursivas de quinta ordem para caracterizar o momento atual, muitas vezes buscando no passado das disputas entre os grandes vultos do marxismo, uma lição, quando, de fato eles só nos deixaram, no fundo, duas: o método de Marx e a sua inquebrantável fidelidade aos interesses da classe trabalhadora. Sobre essa base, podemos julgar nossos antecessores, sobre essa base, seremos julgados.

Referências

BOLAÑO, César (2002). Trabalho intelectual, comunicação e capitalismo. In: Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política. Rio de Janeiro, n. 11, dez., p. 53-78.

BOLAÑO, César; LOPES, Ruy; NARVAEZ, Ancizar (2019). Apuntes sobre la economía política de la información, la comunicación y la cultura latinoamericana. In: Chasqui Revista Latinoamericana de Comunicación, 141, ago.-nov.

FURTADO, Celso (1967). Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

FURTADO, Celso (1978). Criatividade e dependência na civilização industrial. São Paulo: Paz e Terra.

KURZ, R. (1991). O colapso da Modernização. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1993.

PIMENTA, Rui; PIMENTA, João (2021). A era da censura de massas. São Paulo: Democritus

TAVARES, Maria da Conceição (1997). A retomada da hegemonia norte-americana. In: TAVARES, Maria da Conceição; FIORI, José Luís (org.) (1997). Poder e dinheiro: uma economia política da globalização. Petrópolis: Vozes.

Notas

[1] Fatos documentados no filme Ucrânia em Chamas, produzido por Oliver Stone, disponível no Youtube.

[2] Um exemplo é dado pelo caso dos principais veículos da mídia alternativa brasileira nas redes sociais (Pimenta, Rui; Pimenta, João, 2021).

[3] O anúncio, por outro lado, no início de 2022, durante os jogos olímpicos de inverno de Beijing, de uma aliança de amplo espectro (“amizade sem limites”) entre a Rússia e uma China que tem exibido todo o seu poderio econômico através de um ambicioso projeto global de integração (a Nova Rota da Seda) era sinal de que as cartas estavam postas para o jogo da polarização.

[4] Não creio que a ação bélica russa seja contra o nazismo. Minha análise trata de mostrar as determinações materiais de todo o processo. Mas é perturbador o fato de que, não apenas a Otan, mas o conjunto dos países europeus estejam armando e apoiando na sua propaganda, as milícias nazis da Ucrânia. Nesse sentido, o objetivo da desnazificação, declarado pelo presidente Putin, não é mero artifício de propaganda, mas atende a uma necessidade estratégica de garantia da segurança. Pode-se entender a atitude leniente da Europa em relação ao tema sob o argumento de que, enquanto travam a guerra econômica, os membros da Otan podem eximir-se de colocar as botas no terreno, desovando apenas na Ucrânia farto material bélico e oferecendo aos seus aliados envolvidos diretamente no conflito, os recursos financeiros de que necessitam, usados, por exemplo, para a contratação de mercenários. Pode-se entender também que essa seja uma forma de manter o conflito aceso, o que pode estar de acordo com interesses estratégicos do bloco dito ocidental. Mas isso agrava a crise humanitária na Europa e cria o caldo de cultura em que se choca o ovo da serpente.

[5] Do ponto de vista da crise interna, tal como ela se manifesta nos Estados Unidos, a fragilidade do governo Biden – ou eventuais interesses pessoais ou familiares na Ucrânia como denunciado no documentário citado – conta-se também como determinante na tomada de decisões.

[6] Dados recentes podem ser encontrados na matéria de David Leonhardt e Ian Prasad Philbrick, no boletim “The Morning”, do New York Times, de 11-3-2022, intitulada “The economic war”.

[7] Também nos setores da cultura e dos esportes está ocorrendo um amplo cancelamento da Rússia, o que não revela senão a complexa teia de atores que compõem a institucionalidade do imperialismo em todas as suas dimensões. No campo da comunicação, até uma instituição acadêmica tão tradicional como a International Association for Media and Communication Research (IAMCR), que foi capaz de manter a autonomia durante o período mais quente da guerra fria, acabou manifestando-se, através de uma carta assinada pelo seu presidente, contra a Rússia, colocando-se, assim, significativamente, ombro a ombro com entidades como a Federação Cinológica Internacional, que eliminou os russos das suas exposições de cães, ou a Federação Felina Internacional, que proibiu a entrada de gatos criados naquele país eurasiano. Ao contrário, a ULEPICC-Brasil lançou uma oportuna nota sobre mídia e propaganda de guerra. Vide em https://ulepicc.org.br/nota-sobre-a-midia-como-propaganda-de-guerra/ (acesso em 10 de março de 2022).

[8] Uso a expressão fake news aqui, por comodidade, para referir-me à disseminação de mentiras com fins estratégicos, que ganha evidentemente notoriedade numa situação de guerra como a atual. O caso talvez mais discutido ao longo dos primeiros 14 dias de conflito a partir do início da intervenção da Rússia na Ucrânia seja o do bombardeio à maternidade em Mariupol, quando o próprio secretário geral da ONU aceitou a versão falsa divulgada pelos ucranianos, embora ela já tivesse sido contradita pela outra parte (https://www.viomundo.com.br/politica/jeferson-miola-midia-hegemonica-ucrania-e-otan-propagam-fake-news-sobre-ataque-russo-a-maternidade-apesar-de-a-farsa-com-modelo-fotografica-ter-sido-desmascarada.html – acesso em 10-3-2022). Estas não são, entretanto, as únicas formas, nem as mais importantes, mas as mais visíveis, de uso estratégico da informação com fins de propaganda. Mais esclarecedor talvez seja o caso da denúncia, por parte do comando militar russo, da existência, na Ucrânia, de vinte e seis “biological research facilities” como reconheceu Victoria Nuland, subsecretária de Estado dos Estados Unidos (que tem destaque, aliás, no documentário de Oliver Stone sobre os eventos de 2014 na praça Maidan) em informe ao senado. Será preciso acompanhar os desdobramentos do caso para saber como se comportarão os grandes meios de comunicação de massa na sua cobertura. De momento, o que temos são as denúncias publicadas pelo Ministério de Defesa da Federação Russa (thesaker.is/ministry-of-defence-of-the-russian-federation-statements-and-those-biological-labs/ – acesso em 10-3-2022).

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Um comentario para "Ucrânia: imperialismo e guerra da informação"

  1. João Santos disse:

    Este artigo é um pouco faccioso , não?

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