Resenha Semanal

20 a 27 de março 2020. A crise do coronavírus desafia a sociedade como um todo e revela novas e antigas facetas do país. O presidente aposta no caos e força sua mão, enquanto a face maligna do empresariado brasileiro aparece horrenda.

Foi a primeira semana de quarentena, cenário de um poker político macabro onde a extrema-direita aposta com vidas humanas. Difícil avaliar se Bolsonaro está cavando um golpe contra si, se está farto do poder ou se está esgarçando o caos para consolidar seu lugar de poder. Agora nas redes fervem mobilizações governistas.

Testemunhei, na última manifestação bolsonarista de 15 de março, uma celebração do matrimônio da extrema-direita com a morte, um casamento público, macabro e insurrecional. Foi um transe muito louco, uma guinada antes apenas implícita. Eles não vão ter medo de ir às ruas e vão tentar arrastar a luta política para os campos da morte, e a oposição vai hesitar de entrar aí.

Um veículo bolsonarista foi apreendido em Guarulhos, na Grande São Paulo, nesta quarta-feira (24). Com alto-falante, quatro membros do grupo pediam para que a população voltasse ao trabalho. Em Maringá e em Santa Cagarina teve carreatas contra a quarentena. Parece que há movimentação de caminhoneiros pró-Bozo. A base bolsonarista se recuperou parcialmente depois do feitiço haitiano e tenta ganhar as ruas.

Mas há insegurança nas classes médias e altas: barril de pólvora chamado Brasil pode ser incendiado pelo aventureiro-presidente, e não vai dar para fugir para Miami. Chile está no ar. Fala-se muito em impeachment: a direita e centro-direita acordaram de sua soneca política…

Anagrama: desembaralhe as letras e decifre quem é o playboy que não tinha medo de perder o emprego e perdeu.

Para a esquerda, está difícil, já que o confinamento e distanciamento social impedem ações públicas de massa. As redes continuam com alarido bolsonarista, mas os mapas de fluxo estão mostrando que o presidente sentiu o baque da crise – e está dobrando a aposta contra a quarentena, contando que a percepção dos efeitos econômicos da crise superarão a percepção dos efeitos sanitários.

Há na esquerda uma avaliação de que a crise revelou o valor do serviço público e que o neoliberalismo colapsou frente a necessidade de uma sociedade humana e solidária. A escabrosa atitude de certos empresários aclarou muito a falsidade dos mitos neoliberais. Bolsonaro busca reverter essa avaliação, fazendo colar o binômio “saúde x economia” e buscando identificar um inimigo que impede o Brasil e o trabalhador de sobreviver..

O presidente lançou um vídeo e campanha hoje (sexta-feira): “ O Brasil não pode parar”, contra a quarentena.

Anagrama: desembaralhe as letras e decifre o estado atual das coisas

Se em certas cidades a vida selvagem vai tomando as ruas, no centro de São Paulo há enorme população sem-teto, armando suas barracas e cobertores pelas vias. Há forte presença policial.

Anagrama: desembaralhe as letras e decifre um lugar contemporâneo de vulnerabilidade e de quase-escravidão.

Bolsonaro busca sabotar a quarentena, encorajando ou chantageando as pessoas a saírem de casa.

Anagrama: desembaralhe as letras e decifre o que tem repicado nas panelas.

De qualquer forma, é muito notável que nas ruas de São Paulo ainda tenha muita gente transitando: porteiros, entregadores, vigias, faxineiras, trabalhadoras de telemarketing. Acho possível o presidente consiga falar à essa gente que se sente abandonada pela sociedade que ficou em casa pedindo pizza e que os trabalhadores, também nas ruas da morte, incendeiem a oposição dentro dos prédios.

Anagrama: desembaralhe as letras e decifre a transição Hipócrates-fantoche.

Boa notícia que um seguro de R$600 foi aprovado pelo Congresso, para alívio de trabalhadores autônomos, sem renda e de baixa renda. A oposição parlamentar colocou como grande vitória, e o valor de fato é maior do que propunha o Planalto ou Maia. Mas o salário mínimo é mais de R$1.000, e chama-se mínimo por ser o menor valor viável para a existência… Mas enfim.

Anagrama: desembaralhe as letras e decifre quem tem medo de perder os pescoços.
R$600 não chega no mínimo

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