Resenha Semanal

23 a 30 de agosto 2019. Pela primeira vez interesses econômicos importantes foram prejudicados pelo “jeitão Bolsonaro”. A economia não decola e a receita atual brasileira fracassa na Argentina. Até os sumidos apareceram!

A semana acabou com a aparição de Queiroz, localizado pela revista Veja. Agora só falta a Polícia Federal achar também. A semana começou com manifestação pela Amazônia, panelaço contra Bolsonaro, e as repercussões políticas das queimadas continuaram por dias. Achei bom que deu para falar do desmonte das estruturas de proteção à Amazônia e das consequências mais imediatas do governo Bolsonaro – isto é, o estrago é real e é agora! A Previdência vai rasgar mesmo daqui a décadas, e o esforço da oposição envolve conseguir fazer visualizar o futuro temido. Mas dessa vez o desastre é agora.

Fazer panelaço deu um certo receio, pois as lembranças que ele suscita são as piores. Mas foi importante furar a couraça presidencial, quebrar o encanto de invencibilidade que ele parecia ter. O panelaço é um canal de expressão que ele não controla e faz estrago. Tanto que ele postou um vídeo onde ele mesmo bate panela, visivelmente irritado com o fato. O poderoso do panelaço é que ele é imprevisível e indomável.

Já o uso das cores e símbolos nacionais estão em discussão de novo dentro da esquerda. Tem esse tema no relato da manifestação pela Amazônia, onde recolhi algumas opiniões. No geral acho inevitável que as bandeiras voltem, mas fica de fato uma questão: mas como impedir que esse abraço verdeamarelo escale e dê novamente em Bolsonaro?

O ato pela Amazônia em São Paulo (clique na foto para o texto):

O presidente sofreu desgaste com a Amazônia, mas teve relativo sucesso em forçar o Eu x Macron, numa chave nacionalista, inclusive com vozes militares de confirmação. Mas para quem viu o pré-sal ser vendido a estatais europeias, viu os termos do acordo de concessão da base militar americana de Alcântara, viu a venda da Embraer…. soa tudo muito hipócrita.

Mas as consequências econômicas são reais: empresas estrangeiras deixaram de comprar couro brasileiro, e o estrago político internacional foi considerável, malgrado a dubiedade das posições de países hegemônicos em relação aos seus compromissos ambientais. O governo brasileiro negou e depois desnegou ajuda para combater as queimadas. Trump ofereceu total apoio.

Enfim, o que parece começa a se esvair é aquela ilusão do isentão e do liberal que pode ser expressa assim: “o Bolsonaro é tosco mas faz as reformas necessárias”. Ele é tosco e vai explodir na sua cara.

O cordão das madalenas arrependidas continua a engrossar. Continuo sabendo que é uma atitude algo escrota, contraproducente e egótica, mas tendo passado pelo que passamos, as agressões, a injustiça, o medo… EU AVISEI!

A atriz Maitê Proença é uma das madalenas da semana, ao lado do ex-procurador da Lava Jato Carlos Fernando. Ela fez campanha para o presidente Jair Bolsonaro, mas esteve na manifestação pela defesa da Amazônia em Ipanema. Ela foi considerada para o ministério do MEio ambiente. Agrava sua posição o fato de que ela não abre mão da pensão vitalícia de mais de R$ 26 mil que recebe da aposentadoria do pai, que foi juiz e procurador da Justiça de São Paulo. Enquanto por solteira, recebe. Se eu pessoalmente abriria mão de uma bonança assim na minha vida está em aberto, mas a defesa da moralidade requer casa limpa antes do dedo lavajatista apontar falha alheia. Lobão que agora pede o impeachment do presidente. Também Gilberto Dimenstein pediu desculpas (de novo!) por ter defendido Sérgio Moro.

Até João Dória está em guerra com o presidente…

Teve ato de apoio a Bolsonaro e à Lava Jato no domingo 25. No asfalto, vale ainda o casamento Bolsomoro. Fui lá e relatei (clique na foto):

Repercutiu a entrevista à Globo News do ex-procurador lavajatista Carlos Fernando. Ele admitiu que a Lava Jato tinha candidato e que este era Bolsonaro: “naturalmente, na Lava Jato, muitos entenderam que o mal menor era Bolsonaro. Eu creio que essa era uma decisão até óbvia, pelas circunstâncias que Fernando Haddad representava justamente tudo aquilo que nós estávamos tentando evitar, que era o fim da operação. Agora, infelizmente, o Bolsonaro está conseguindo fazer”. Rere, então o mito do PT corrupto era apenas… uma mamadeira de piroca!

Ricardo Salles foi abandonado pelo Partido Novo, ao qual o ministro é filiado. O partido negou que ele fosse indicação da agremição. Salles culpou os governos de Lula e Dilma pelos problemas da Amazônia e acabou a semana em um leito do hospital militar de Brasília, por “estresse ambiental”.

Na Argentina, o presidente Macri pediu moratória ao FMI, em humilhante derrota econômica e política do neoliberalismo em geral. Macri adotou política econômica que inspira Guedes e outros liberais. Eles (e a Globo, Estadão, FIESP etc) agora condenam o “populismo” de Macri e que afirmam que o que fracassou foi o “gradualismo” do argentino, que não fez o que Bolsonaro fez, que é ameaçar a república. Parece que o capitalismo só consegue sobreviver com híper-repressão e híper-exploração, com estado miliciano e gangsterismo: por isso liberal, Luciano Huck, PSDB, MBL, empreendedores, Doria não conseguem impedir ou confrontar ou anular o paramilitar que realiza as suas pautas com Paulo Guedes.

Andava pelo centro de São Paulo no fim da tarde e vi, na tela de um boteco minúsculo, o programa do Datena. O repórter relatava o caso do outdoor, revelado pela Lava Jato. Um procurador da Lava Jato pagou, ilegalmente, pela instalação de um outdoor em homenagem a si mesmo e à Lava Jato: a peça incluía os dizeres “República de Curitiba. Aqui a lei se cumpre”. Datena dava risadinhas e dizia: “Tenho respeito pelo MPF, mas…”. O repórter explicava a ilegalidade do outdoor.

Este foi um dos resultados de nova revelação da Vaza Jato da semana. A reação de Datena, agora contra a Lava Jato, pode ser significativa.

Bolsonaro chantageou a imprensa a falar do “caso Merval”. O jornalista da Globo teria recebido mais de 300 mil reais por uma palestra proferida no SESC. O presidente afirmou que não falaria à imprensa enquanto esta não investigasse o caso. Parece que o valor se refere, no final, não a uma palestra, mas a uma série de 10. Merval Pereira atacou muito as palestras de Lula, e pôs em dúvida se estas tinham sido realmente proferidas. Quem com ferro fere…

Bolsonaro e Macron duelaram no noticiário, com recuos e ataques. Marcas importantes, incluindo a Kipling e Timberland, suspenderam a compra de couro brasileiro. Bolsonaro se esmerou na baixaria, mas até que conseguiu manter a discussão na chave da soberania. Mas agora literalmente o presidente queimou as calças, seus pecados voltaram e cobraram a conta.

As novas revelações da Vaza Jato fez com que uma procuradora admitisse a veracidade dos vazamentos. Os diálogos revelados deixam ver como os procuradores foram escrotos em um nível muito pessoal, debochando da dor de Lula e da família frente às mortes de parentes seus, incluindo Marisa. A procuradora Jerusa Viecili, da Força-Tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, tentou depois dizer que não queria dizer que eram verdadeiros os vazamentos, mas era tarde:

“Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula”, escreveu em seu Twitter.

O Supremo Tribunal Federal anulou condenação de Bendine, ex-diretor da Petrobrás. Carmem Lúcia deu seu voto pela reversão, e parece estar “reflexiva” a respeito dos prcedimentos da Lava Jato. Gilmar Mendes falou muito contra os abusos da Lava Jato e a corrupção moral dos procuradores. Acho que se prepara o terreno para a libertação de Lula. Isso seria sísmico, pois é seria uma voadora dupla nos peitos de Bolsonaro e Moro.

Pela esquerda, o que Lula vai fazer uma vez em liberdade? Vai virar Black Block ou propor uma reconciliação com os convertidos de última hora? Por um lado sua libertação livraria a esquerda em geral de ter que lidar com o Lula Livre, o que causou muio ressentimento. Por outro lado, espero que isso libere a luta interna dentro do PT e que o partido seja hackeado pela militância e pelos jovens inconformados.

A Folha de São Paulo fez uma entrevista com Delgatti, um dos hackers de Araraquara. Ele afirma que nunca procurou o PT, como dito pelo outro preso. Apresentou uma visão cívica de interesse público, menos fraudador barato e mais ativista. Disse que tecnicamente não foi difícil hackear o Telegram. Restam ainda muitos buracos nessa história, incluindo determinar se foi de fato ele que passou o material para o Intercept. Tinha entendido que Glenn negara ter sido o Delgatti o seu informante. Tem gente até pedindo…

A Itália jogou a extrema-direita para o escanteio. Uma aliança da centro-esquerda (PD) com o 5 Estrelas deu um curto circuito em Salvini. O que exatamente será o resultado dessa aliança não se sabe, mas a ofensiva global da neo-direita está em cheque! Difícil saber de longe o que é o 5 Estrelas exatamente: MBL ou MPL? Rede ou RevoltadosOnline? De qualquer forma, chupa, Steve Bannon!

Manuela apresentou o seu celular para a Polícia Federal, mantendo sua versão de que apenas deu a Delgatti o contato de Glenn. Ela foi a única pessoa em todo o imbróglio que disponibilizou seu telefone para perícia…

A economia cresceu míseros 0,4%. O mesmo crescimento com Dilma foi atacado como o fim do mundo e a beira do abismo. Jornalões agora comemoram ou camuflam a situação grave em que o Brasil se encontra.

Vários sinais de alarme ressoam pela administração pública em muitas instâncias: o CNPQ não tem mais dinheiro para bolsas, o ministro da Educação pediu mais recursos, as universidades federais estão prestes a fechar as portas. A realidade da aliança neoliberalismo\extrema-direita mordendo forte…

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