Resenha Semanal

9 a 16 de agosto 2019. Enquanto o Brasil arde, inéditos escatologismos do presidente recolocam o discurso político nacional. Mobilizações populares buscam romper o impasse.

Esta semana, o fluxo da política me fez doente e tentei me afastar do noticiário. Tudo é um bololô que rola pesado, lento e fedido pelo campo devastado da política nacional. A escatologia do neofascismo atingiu o seu próximo nível, insuportável, elevando a merda a glórias escatológicas públicas a alturas que nunca antes nesse país.

Sinto que nada mais somos que a mosca de todo esse cocô, tentando escolher sobre qual monturo pousar para não morrer.

É que Bolsonaro usou a figura do cocô para falar de meio-ambiente e poluição, comunismo e indígenas…

As reações foram muitas, mas a melhor foi de Gore Vidrado: inventou brinquedos pornopolíticos (https://colostrom.blackblogs.org/) para lidar com o Brasil de hoje.

Autor: Gore Vidrado

Parece que o país, ou pelo menos a esquerda, está paralisado num presente catastrófico. Não está claro se os micromovimentos do tabuleiro do diz-que-diz-que noticioso confugiram um gradual avanço ao fechamento neofascista, uma reação criptotucana ou um ressurgimento da esquerda reinventada.

Ele tem tido força para impor lealdade ao clã em todos os níveis da administração, e até Sérgio Moro se desidrata ao hesitar em aderir total e subalternamente.

Há uma pouca reação dita centrista, mas com os mesmos problemas do lulismo: não tem capitalismo para sustentar um novo neoliberalismo globalista: a socialdemocracia ruiu junto com o neoliberalismo. O capitalismo só se resovle com híper-exploração e híper-repressão – isto é, com guerra. Além disso, Bolsonaro propicia a pauta dos liberais, que não têm anticorpo contra o extremismo de direita. O fascismo espelha o liberalismo, e não é “o comunismo de sinal trocado”. Uma derrubada de Bolsonaro implicaria no envolvimento dos militares. Ciro Gomes chegou a sugerir que eles assumissem a contenção do presidente, o que soou como um chamado ao golpe. Deu medão.




“Ao contrário do que alguns formadores de opinião defendem, parece que a lógica do confronto de Bolsonaro com o Centrão e a esquerda vem dando resultados. O Brasil avança, a Argentina não. Macri, possivelmente, começou a entender que não se negocia com aqueles que querem te destruir e viver às custas de mamatas estatais.

Em suma, basta Bolsonaro continuar a dar carta branca para Guedes e continuar na onda liberal que o Brasil avançará. Esta é a receita para não virarmos uma Argentina.”

Na esquerda, parece que a dependência de Lula ainda é geral, mesmo entre os autonomistas e não-petistas. Nenhuma potência parece se tornar ato concreto sem a resolução da prisão política do ex-presidente. Os erros do PT esmagam a esquerda, mas ela não sabe superar o partido antes hegemônico. O PT não vai ser o berço do futuro, no máximo vai restaurar um passado melhor, e está difícil avançar com esta dívida com o ontem. Mas as potências do presente vão se tornando as potências do passado…

Faz recordar as primeiras comunidades cristãs da Palestina imediatamente após a morte do jesus: ele tinha prometido, mais de 5 vezes na escritura, que ele voltaria antes que a geração que o ouvia morresse. Esse adventismo de iminência teve que se reinventar a cada ano para explicar aos fiéis, que tinham abandonado tudo para ser os judeus radicais que eram os primeiros cristãos, como é que o dito cristo nazareno não voltava, apesar dos anos passarem… e os discípulos morrendo de morte natural! O ano de 2013 vai ficando distante, e toda aquela potência…

9-16 de agosto

Parte da movimentação no cenário brasileiro foi propiciada de fora: a vitória do peronismo na Argentina, a Vaza Jato – e a tensão China x EUA. Parte vem de dentro, indígenas e mulheres. A Marcha das Margaridas, com 100 mil trabalhadoras do campo de todo país, caminharam pela capital federal, às quais se juntaram os indígenas, para dizer não ao desmonte das políticas públicas voltadas ao campo e a reforma da Previdência.

Já a Marcha pela Educação não bombou – pelo menos em São Paulo. Talvez seja o formato passeata, talvez seja a falta de legitimidade das entidades estudantis e a mistura de pautas gerais de resistência (como o Lula Livre) afastando quem ainda está antipetista. Mas as massivas mobilizações de maio escorreram por entre os dedos. Estive lá e escrevi o relato:

A Vaza Jato revelou que Moro, por ocasião da prisão de Eduardo Cunha, não quis reter o celular do ex-deputado, ao contrário do que fizera com todos os outros presos. Além disso, saiu que Dallagnol conspirou contra ministros do STF e também que sabia que Onyx é corrupto mas fingia não saber. A Procuradoria o investiga e ele pode cair, mas deu mais tempo para sua defesa. Bolsonaro parece que não quis nomeá-lo para a PGR.

de um depoimento de membro do PCC que insinua que o PT e a organização criminosa mantinham diálogo. Os esgotos digitais da direita fizeram muita festa, e a criminalização do partido pareceu iminente.

Mas já vai achar guarida em outra sigla. Já o governador de São Paulo, João Dória, prometeu trazer Sérgio Moro para São Paulo, se sair do ministério – o ministro da Justiça está sendo fritado lentamente. A COAF, a Polícia Federal e a Receita Federal agora estão sob o domínio do presidente, o que alivia para seu filho Flávio e abafa o caso Queiroz.

A Alemanha e a Noruega suspenderam seus fundos de proteção à Amazônia.

Passou a lei contra o Abuso de Autoridade, uma derrota de Moro, mas o presidente pode vetar.

Passou uma mini-reforma trabalhista, que “flexibiliza” o trabalho ainda mais.

Saiu que Susan Ackerman já foi chamada por Dallgnol de “a maior especialista em corrupção do mundo”. E ela assinou o manifesto de juristas contra a prisão de Lula! Seu marido foi professor de Dallagnol.

O presidente volta a atacar a ANCINE por financiar filmes de conteúdo de orientação sexual.

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