No palco, o dominador e o dominado

Em sua quinta temporada, no Rio, a comédia dramática “Jacques e a Revolução” alinha tirania, manipulação e jogos de poder num tempo e espaço que poderiam ser aqui e agora

Atores Abílio Ramos, Patrícia Bello, Marco Hamellin e Katia Iunes | Foto: Flávia Fafiães

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Em sua quinta temporada, no Rio, a comédia dramática “Jacques e a Revolução” alinha tirania, manipulação e jogos de poder num tempo e espaço que poderiam ser aqui e agora

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De 14 de setembro a 8 de outubro de 2018

Sextas, sábados, domingos e segundas-feiras, às 20h.

Teatro Glaucio Gill, Praça Cardeal Arcoverde s/nº, Copacabana (Metrô Cardeal Arcoverde)

R$ 40 e R$ 20 (meia).

80 minutos | 14 anos

Vendas: https://www.ingressorapido.com.br/

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Jacques e a revolução ou Como o criado aprendeu as lições de Diderot é uma inspiradíssima comédia dramática, com diálogos que flertam com a condição humana contemporânea. Num mundo atravessado por subornos, apropriação indébita de capital público, zero apreço pelo cidadão, mulheres em luta e intolerância cultural, a narrativa alinha tirania, manipulação, jogos de poder. Os diálogos de Jacques, um empregado de segundo escalão, e seu patrão, o Empresário, são repletos de sexo e sedução. E de conversa em conversa, qualquer sentido de moral desaparece.

Jacques e o Empresário passam em revista as suas próprias histórias, ambições e derrotas. O público é colocado diante de uma dialética envolvendo dominador e dominado, na qual há trânsito e alternância de posições. Quem estava por baixo vê-se por cima e vice-versa. A direção acentua esse jogo de espelhos, numa encenação que exercita o poder da síntese, ao trabalhar com quatro naipes de personagens: dois homens e duas mulheres. Essa composição permite revelar mais claramente o jogo presente no próprio texto. A história se passa num tempo e espaço indefinidos – em Brasília, numa empresa pública, numa corporação do agronegócio.

A peça foi escrita a pedido de Luís de Lima (1925-2002), ator português notabilizado por sua grandeza na mímica, mas ele nunca a encenou. “Luís sugeriu em 1989 que Ronaldo elaborasse um texto para teatro a partir de ‘Jacques, o Fatalista, e seu amo’, de Diderot. A ideia era que o centenário da Revolução Francesa estivesse no centro da peça. O que Ronaldo fez, porém, foi estabelecer um diálogo intenso com a obra do filósofo francês iluminista Denis Diderot”, assinala Theotonio de Paiva, diretor e dramaturgo carioca com mais de 30 anos de trabalho que foi orientando de Ronaldo Lima Lins no mestrado e doutorado.

 

 

 

 

 

Ronaldo Lima Lins – poeta, ficcionista e autor de livros de ensaio, professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ – elaborou com humor construções provocadoras e deliciosas, que trazem à mente acontecimentos ligados a outras épocas: histórias de amor, traição, armadilhas. Somos surpreendidos pela forma vigorosa e desconcertante com que se desenvolve a conversa entre os dois personagens, entremeada de sucessivas histórias que relatam um para o outro. Por outro lado, a peça é recheada de pistas falsas, com espelhamento de situações e de personagens, levando-nos a querer saber, de fato, o que é verdade ou mentira.

“Apesar de escrito num momento diverso, porém igualmente perturbador – início do processo de democratização do país, à época da queda do muro de Berlim –, o texto parece dialogar mais intensamente com os tempos atuais, como se estivéssemos diante de uma espécie de expressão premonitória das sucessivas crises hegemônicas e representativa dos poderes. Para examinar um conjunto de ideias delineadas pelo iluminista francês, a peça reinaugura questões antigas na dinâmica dos últimos séculos da modernidade”, afirma Theotonio de Paiva.

A cada nova temporada, Jacques e a Revolução – vencedora do Prêmio Maurício Távora 1989, da Secretaria de Cultura do Paraná – torna-se mais atual. Esta é sua quinta temporada, em montagem inaugural da Todo o Mundo Cia de Teatro e direção de Theotonio de Paiva. As quatros temporadas anteriores foram no Parque das Ruínas (2016), Teatro Ziembinski (2017), Serrador (2018) e Café Pequeno (2018). Artistas de várias gerações compõem a Todo o Mundo Cia de Teatro: Abílio Ramos, Katia Iunes, Marco Aurélio Hamellin e Patrícia Bello, que atuam sob a iluminação de Renato Machado, com a trilha sonora original de Caio Cezar e Christiano Sauer e direção de arte de Marianna Ladeira e Thaís Simões, além da direção de movimento da coreógrafa Carmen Luz.

Ficha Técnica

Texto: Ronaldo Lima Lins | Direção e dramaturgia: Theotonio de Paiva | Atores: Abílio Ramos, Katia Iunes, Marco Aurélio Hamellin e Patrícia Bello | Trilha sonora original: Caio Cezar e Christiano Sauer | Direção de arte: Marianna Ladeira e Thaís Simões | Direção de movimento: Carmen Luz | Iluminação: Renato Machado | Design gráfico: Nicholas Martins | Fotos de divulgação: MarQo Rocha e Flávia Fafiães | Assessoria de imprensa: Valéria Souza | Auxiliar administrativo: Bruna Mota | Direção de produção: Katia Iunes | Realização: Todo o Mundo Cia de Teatro | Produção: Nonada – Arte e Cultura Contemporânea.

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