Bolsonaro recuou. Por quê?

Aturdido pelos panelaços e isolado dos ministros, do Congresso e até dos militares, capitão deu, na fala de ontem, um passo envergonhado atrás. Era isso ou quebrar. Mas retrocesso também revela tentativa de se reposicionar no jogo

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1 – É a primeira vez que o Capitão bate em retirada. O discurso “colcha de retalho” mostrou que essa manobra é nova para ele. Todos esperavam um novo pronunciamento em rede nacional exaltando o Golpe de 64 e avançando na sua aposta contra o coronavírus. Ele surpreendeu o Brasil.

2 – Afirmou que se preocupa com vidas e com a economia, disse que não existe comprovação científica para a hidroxocloroquina e procurou capitalizar as ações do governo em tom de esperança para depois da pandemia. Valorizou os profissionais de saúde.

3 – Falou sobre os 600 reais por mês para trabalhadores informais e para os mais pobres, crédito para as microempresas, congelamento dos preços dos remédios por 60 dias e deu ênfase aos repasses de verbas para os governos estaduais.

4 – Por que fez isso? Seu isolamento chegou a um nível insuportável. Vinha perdendo apoio popular. Moro desapareceu. A aprovação de Mandetta explodiu. Até Guedes disse que preferia ficar em casa.

5 – Nestes momentos, para avançar e radicalizar é preciso contar as divisões. Circulou que nos últimos dias ele procurou desesperadamente por apoio no meio militar para sua aventura, sem sucesso.

6 – Tudo indica que o texto de Villas Bôas, interpretado como uma demonstração de apoio, foi um recado. Na política, quem está forte não precisa de nota de apoio. A nota do general, hoje, ficou clara: “estamos com você, mas não conte conosco para qualquer maluquice”. Só restou o recuo.

7 – O tuíte efusivo de Mourão saudando o Golpe de 64 pode ter pressionado também Bolsonaro. O vice lembrou às Forças Armadas e à extrema-direita que todos continuariam no poder com ele. O Capitão sentiu o risco de estar se tornando descartável.

8 – O presidente fez seu discurso mais equilibrado desde o começo da crise. Deu um verdadeiro “cavalo de pau”. Se reposicionou no jogo, claramente. A presença de Carluxo no Planalto teve um resultado inesperado.

9 – Tem gente do campo progressista comemorando. Recuo é sempre derrota, claro. E pode ajudar a salvar vidas, o mais importante. Mas o acerto do adversário, que se movimentou percebendo o risco do abismo, é motivo pra festa?

10 – Como se diz no mercado, o Capitão resolveu realizar o prejuízo e pular fora antes que quebrasse.

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Um comentario para "Bolsonaro recuou. Por quê?"

  1. GERALDO GOBITSCH NETO disse:

    O RECUADO

    Afirma -se que Bolsonaro está isolado. Afirma-se que seu pronunciamento ontem, (31.03.2020), em forma de colcha de retalhos, atestou seu recuo. Bolsonaro, na verdade, sempre esteve isolado, nunca mandou em nada, sempre foi refém das vertentes inconsequentes que, em conflito, disputam sua manipulação. Bolsonaro, o marionete, é um reflexo disso, é a própria colcha de retalhos. Bolsonaro, portanto, não recuou; Bolsonaro foi recuado. A vertente militar deu seu recado. Bolsonaro, o psicopata errático, além de descontrolado e isolado, agora está perdido. O som das panelas agora é outro. Que ele os paneleiros se estrepem abraçados! Dói né? E tomara que a dor não passe.

    GERALDO GOBITSCH NETO, Servidor Público, Brasília, 01.04.2020, 18:07h

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