Sobre mesóclises, mediocridade e a ameaça fascista

Todo fascista é, antes de tudo, um medíocre. Mas considera tal constatação uma afronta — e reage violento. Evitar que esta passionalidade torne-se perene é um desafio

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Todo fascista é, antes de tudo, um medíocre. Mas considera esta constatação uma afronta — e reage violento.  Evitar que esta passionalidade torne-se perene é um dos desafios centrais de hoje 

Por Fran Alavina | Imagem: Gerardo Dottori, Retrato de Mussolini (1933)

Não é apenas um golpe. Não é somente a sanha neoliberal que transformada em logística estatal precariza o trabalho e transforma direitos em bens de consumo. É tudo isso, mas além da faceta golpista e neoliberal há também o caráter fascista. O mais horrendo dos três âmbitos, com certeza. É golpe; é a volta do neoliberalismo ao poder; e, é também o começo da institucionalização de práticas fascistas. Aí reside a diferença com momentos anteriores: na perigosa passagem do campo da prática e do pensamento privado para o âmbito público da institucionalização.

Assim considerar, é não subestimar a História, pensando que ela se dá como em terreno plano, sem buracos, sulcos e depressões de superfície. Ela não é nem plana, nem linear. O próprio acontecimento do golpe nos mostra isso: quando se passou que o golpe político era uma prática do passado, ele retornou com toda força, emergindo no seio de uma jovem democracia que passava pela sua mais longeva fase de ampliação de direitos e redução de desigualdades. Por isso, nesse momento em que precisamos dimensionar o acontecido, sob os mais diversos aspectos, não se pode acreditar ingenuamente que práticas como o golpismo, o neoliberalismo e o fascismo para que possam prosperar sejam excludentes no campo da ação. Como se cada um desses âmbitos aguardasse na fila a hora de suas respectivas senhas. Ao contrário, provados e forjados em um passado recente, esses âmbitos se integram, ganhando maior vitalidade, pois não avançam isoladamente.

Desse modo, abre-se um precedente extremamente perigoso, um vácuo de sentido político que não pode ser subestimado. Uma vez que se vislumbra o risco de se criarem as condições para o surgimento de algo pior. O atraso e o conservadorismo sempre podem ser apresentados como vanguarda. Desde que além das condições materiais exista uma passionalidade coletiva que lhes sustentem subjetivamente. Ora, tal núcleo de sustentação subjetiva e pública é a formação de uma massa perene que se aglutina em torno não de um princípio de ação comum, de um programa estratégico, de um partido, de um movimento social uniforme, ou em prol de uma causa política particular, mas sim em torno de um sentimento: compartilhado e forte. É o campo passional que pode formar um laço uniforme de agregação, quando a massa que se formou não apresenta fortes liames internos de reconhecimento. Nesses casos, a paixão precede a razão, e a impede de operar, de modo que tudo tem que estar remetido ao campo afetivo-sentimental. A paixão torna-se a própria razão de ser dos gestos, das falas e dos atos. Se de nosso lado, dizemos que preponderou o ódio e o ressentimento; do lado de lá, a narração sempre tomava como ponto de partida a suposta existência de um grande sentimento de “indignação”. Se este era ou não o sentimento, o fato é que a razão tornou-se uma minúscula ilha cercada em todos os lados por um oceano de passionalidades. E não se tratava de qualquer passionalidade, era, e ainda é, uma passionalidade violenta, que não enxerga limites entre a civilidade e a barbárie. Uma passionalidade que por ser coletiva não se contenta com compensações individuais. Ela quer um grande espetáculo, que só o circo político-midiático, isto é, que só o real, contado na forma e com os recursos da imaginação, pode oferecer. É justamente o vínculo sentimental que faz com nas manifestações pró-golpe, se encontrem juntos em um mesmo espaço: torturadores, defensores da ditadura militar, monarquistas, integralistas, separatistas, e pessoas que dizem apenas querer mais democracia. Por isso, se por um lado, agora se inicia a fase da resistência ao golpismo, também não se pode deixar que essa massa pró-golpe eivada de passionalidade violenta se torne uma massa perene. Uma vez tornada perene, ela não apenas se apresentará como um dos núcleos de sustentação do golpe, como também fará com que o golpismo e o neoliberalismo sejam coisas pequenas, pois haverá um núcleo forte de sustentação coletiva do fascismo, que se tornará mais escancarado que agora. Como não deixá-la torna-se perene, esta massa da passionalidade violenta? Eis uma questão urgente, e que pensamos, pode começar com um diagnóstico e desnudamento de uma característica intrínseca ao ser fascista: a mediocridade.

É típico do ser fascista a mediocridade. Não há fascista que não seja, antes de tudo, um medíocre. Porém, não basta apenas ser, é preciso se identificar como tal. É na passagem entre “ser” e “se reconhecer como isto que se é” que o proto-fascista emerge violentamente. Pois, ele não quer ser chamado pelo o que é. Na verdade, considera a constatação de seu ser uma afronta pessoal, um desaforo. Veja-se o caso do interino que se tornou permanente: ele não quer ser chamado pelo que é: GOLPISTA.

O modo fascista de esconder sua mediocridade inerente apela sempre ao mundo da cultura, do conhecimento formal, das belas artes e das letras. Em outros termos, apela-se à erudição e ao gosto artístico de um certo bom fruidor. Continuemos, então, com o mesmo exemplo, porém outro caso. O caso do elogio das mesóclises, algo que qualquer um satisfatoriamente alfabetizado pode realizar. Somente alguém muito medíocre para ostentar um simples recurso discursivo como símbolo de distinção; e, somente outro medíocre o aplaudiria por isso. Dir-se-ia, no adágio da sabedoria popular, que compreende a natureza das relações sem precisar de mesóclises: “não sem motivo um gambá cheira outro”. Talvez o gosto das mesóclises seja um ato falho do inconsciente medíocre, que sempre o remete ao seu lugar natural: o meio. Mas, continuemos ainda com o mesmo exemplo personalizado, e em um caso semelhante. O bom gosto estético é desprovido de qualquer relação de caráter moral: o belo e o certo não são configurados sem qualquer laço de reciprocidade. Não esqueçamos, os fascistas históricos eram grandes admiradores das artes. No caso de agora, o ex-interino, que além de um amante das artes é também poeta (pelo menos é o que dizem) propõe a esdrúxula medida da redução dos gastos públicos por 20 anos, um medida não apenas cruel, mas desumana. Como nos fascistas de ontem; nos fascistas de hoje, a maldade e a beleza podem conviver lado a lado, sem maiores dificuldades.

Ademais, passando do campo do estético ao ético, veja-se que o fascista para esconder o vácuo do valor moral de suas ações, vácuo causado pela mediocridade, remete o fundamento de suas ações, não apenas aquelas de fórum privado, mais principalmente as ações feitas na esfera pública, à Deus e à família. Medíocre que é, o fascista não se responsabiliza por suas próprias ações. Caso mais exemplar disso pode ser medido na ínclita professora e egrégia advogada do golpe, que muitas vezes nos aparece como uma personagem tragicômica de uma bufa encenação barroca. Gesticulando como o rábula da província: sempre a defender ou acusar, pois vê em toda oportunidade de fala a chance de um cliente novo. Certamente, sua gesticulação (não podemos esquecer que o gesto é um dos signos mais expressivo que os fascistas se utilizam) cinicamente passional, que vai da aparente temperança ao fingindo furor em um átimo, como se sempre estivesse perante um júri de tribunal, é a expressão máxima  de sua faceta fascista que se alinha perfeitamente ao discurso. Gesto e palavra se unem para dar a forma dos atos. Mas, é no conteúdo do discurso que se confirma a forma. Quando na tribuna do senado ela atribuiu à Deus a “formação de um complô”; e, depois disse que fazia tudo aquilo por “seus netos”.

Ora, para o fascista, o fundamento da ação nunca pode está no sujeito (lembremo-nos do funcionário nazista que dizia apenas cumprir ordens), porém sempre no além de si mesmo: no espaço transcendente da deidade, ou no lugar temporal do futuro familiar. O fundamento não pode estar no sujeito, pois este está no meio, no meio está a mediocridade, e esta nunca pode ser arrolada como princípio da ação honrosa. Não pode passar despercebido que justamente uma advogada não reclame como princípio de sua ação a Lei. Perceba-se, pois, que não estamos mais no campo da política, uma vez que a Lei, ou até mesmo um falso legalismo, não é chamado como critério de justificação das ações. Tal, não é senão o fascismo na sua essência conteudística e na sua forma retórica. O abandono da esfera política, uma vez que o fascismo é a negação da política, se recorre a duas esferas, que são consideradas por princípio fora da regulação política: Deus e a família. Estão, pois, formados os círculos concêntricos das justificações morais do fascista, que nas perversidades que justificam se assemelham muito aos círculos do inferno de Dante. O desejo megalomaníaco do fascista é diretamente proporcional à sua mediocridade. Logo, a advogada do golpe afirmar após o desfecho dos ritos legais que o medíocre (tão medíocre, que tem medo de vaias) está em “dívida” com ela. Como o rábula da vila, após o fim exitoso do processo, se apressa em cobrar a fatura. Todavia, não se trata de uma dívida qualquer: ele, o medíocre letrista das mesóclises, dever ser, segunda sua credora: “o melhor de todos os presidentes”. Mas, como pode alguém medíocre ser o melhor de todos? Só mesmo um outro medíocre, para esperar que da mediocridade nasça grandeza. No reino escuro das mediocridades até quem tem um olho é cego.

Nesse sentido, o golpe, por seu caráter fascista, quando desnudado, não é outra coisa que o elogio da mediocridade. Mediocridade dos que o fizeram, mediocridade dos que o aplaudem. Caso você se oponha ao reconhecimento da mediocridade, e ousar dizer que o medíocre não é aquilo que diz ser ou não ser, mas sim àquilo que é, medíocre, não espere outra coisa que a violência. Medíocres não gostam de ser contrariados. Fascistas de ontem, fascistas de hoje: violentos, pois sempre medíocres.

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18 comentários para "Sobre mesóclises, mediocridade e a ameaça fascista"

  1. Excelente, adorei o texto. …

  2. Prezado Otto. Para os esquerdopatas (comunistas, nazistas e fascistas) a verdade dói. Dói muito!!! Não admitem outras palavras e opiniões. Consideram-se donos da verdade absoluta. Quando surge alguém que os contestem – com fundamentação mínima – ficam “perdidos no espaço”. Não tem argumentos para rebater. Nem os mínimos possíveis. É uma lástima!! A realidade é que a maioria dos países desenvolvidos – que detem o poder econômico – praticam o liberalismo econômico. Infelizmente, continuamos “deitados em berço esplêndido”, esperando – ansiosos – que investidores externos – dos países que praticam o liberalismo econômico – venham aplicar os seus recursos financeiros para promover o nosso bem estar. Vivemos na utopia de fraternidade universal. Ledo engano. Se continuarmos assim, seremos eternamente explorados pelo capital estrangeiro. Sou de opinião de que voce precisa de fazer uma auto-subversão para enxergar a realidade da vida. Enquanto isso: DEIXE O DALLAGNOL E O MORO TRABALHAREM!!

  3. Otto disse:

    É o disfarce dele, Arthur. É um buldog. “Liberalista” moderno usa disfarces intelectivos. Se você o contesta, a depender do nível e da força da contestação, aí ele assume a “buldoguice”, pela simples razão de que sua real identidade sócio-política foi percebida. São os novos (e piorados) fascistas. Nada mais. E a Fran ainda perde o seu tempo em tentar dialogar com um fascista disfarçado. O latido “buldoguiano” deste tipo de gente é inevitável.

  4. MILTON JORGE disse:

    “…mas não é de meu feitio ser simplório…” Fran para melhor entender o debate com o velho Roldão, você é doutoranda(o)?

  5. Prezada Fran. O comentarista sempre ocupa uma posição privilegiada em relação à do articulista. O comentarista tem a liberdade de apresentar contrapontos e emitir opiniões sem a necessidade do esmero argumentativo do articulista. Cabe ao articulista defender o seu ponto de vista sobre determinado assunto com a fundamentação adequada, robusta e sem obrigar o leitor a posicionar-se favoravelmente, tachando-o de imbecil, de medíocre, caso discorde do teor do artigo. Cabe ao comentarista, à luz do senso comum, procurar esgarçar o texto para expor as mensagens cifradas e escondidas pelo autor, visando a auxiliar o leitor na exata compreensão do texto. Quando disponíveis, costumo ler os comentários antes de passar à leitura do texto. Sou de opinião que o comentário, por mais insignificante que seja, contextualiza a leitura do artigo. A norma culta exige que o autor respeite os seus leitores, mas não limita a abrangência do comentário. Da leitura do seu currículo, contata-se que é doutoranda de instituição de ensino superior que goza de excelente conceito na comunidade acadêmica internacional. Não sou especialista no assunto. Nunca participei de bancas de mestrado ou de doutorado. No entanto, o senso comum – que não deve fundamentar as dissertações acadêmicas – permite o meu posicionamento no sentido de que artigos de cunho científico elaborados no seio da comunidade acadêmica, mesmo que no lato senso, não devem carecer do devido respaldo doutrinário e nem ser redigidos com passionalidade, que é própria dos romances, sob o risco de incorrer na mediocridade. A passionalidade cega a racionalidade que é um dos pilares da produção científica que, certamente, será a razão da sua vida profissional no pós-doutorado. Ao ler, detidamente, o seu artigo – com olhos de comentarista – percebi as três vertentes que abordei no meu comentário das quais discordo, terminantemente, a saber: a tese de golpismo, a repulsa pelo retorno do neoliberalismo econômico e a institucionalização de práticas fascistas. Lançando mão da minha cultura política rasteira procurei alinhavar, despretensiosamente, alguns argumentos do senso comum com a finalidade precípua de refutar essas vertentes. Das três vertentes, a que mais me chamou a atenção foi a tese de golpismo que você defendeu com passionalidade medíocre e descabida dado a sua condição de doutoranda em ciências sociais. Ao acadêmico cabe o provimento de argumentação robusta da produção científica. Na defesa da tese do golpismo, você falhou imperdoavelmente uma vez que o impedimento do primeiro mandatário da República do Brasil – da forma que foi perpetrada – consta da nossa Carta Magna vigente (art. 52 da CF/88). No seu artigo não existe a alusão a esse argumento robusto, nem mesmo para refutá-lo, demonstrando a sua má intenção em ocultar do leitor a verdade dos fatos. Essa é uma prática fascista.

  6. Fran Alavina disse:

    Caro Roldao Lima Júnior,
    antes de qualquer coisa, agradeço a leitura do texto. Mas também devo confessar que ponderei muito se responderia aos teus comentários. Em primeiro lugar, em virtude dos paradoxos e contradições da argumentação, por um lado; por outro lado, os argumentos quando são tentados a sair destas contradições acabam por entrar no terreno da idiossincrasia, alcançado um momento de transe conceitual que se revela, como não poderia deixar de ser, mistificador. E contra mistificações, a argumentação que apela ao razoável, demandando leitura e paciência sempre está em desvantagem. Não porque ela, a argumentação razoável, seja fraca ante o estado de transe e a mistificação, mas porque opera em um terreno bem distinto. Em segundo lugar, ponderei se responderia aos teus comentários, pois do que se pode depreender dos mesmos, e como você confirma no segundo comentário ao responder ao Arthur, parece-me que tua leitura do texto, ou foi por demais interessada, isto é, com preocupações críticas antecipadas, ou, de fato, não foi um boa leitura, ou seja, houve uma considerável distância entre a leitura e a correta interpretação do que é dito, alongando-se, desse modo, para questões que estão além do escopo do texto. Dessa forma, esta última questão, de carência interpretativa por parte do leitor, se exemplifica de forma expressiva, na sua afirmação de não compreensão da questão da “mesóclise”: sua relação com o tema e seu uso no título. Questões que são extremamente claras ao longo do texto, e que mais de uma leitura, sei que demanda tempo e paciência, mas essas são essências ao bom e sério debate, poderão sanar. Se ela ainda persistir, repita a leitura, sem escusar-se na “idade” ou na “modernidade”, uma vez que a veracidade dos argumentos não é aferida nem da idade de quem argumenta, nem meramente de como classificarmos o nosso tempo: se moderno, ou atrasado. Sobre as desculpas ancoradas na idade, que podemos interpretar como cinismo ou preguiça, te recomendo a leitura do De Senectute, de Cícero. Ademais, se a dúvida sobre a mesóclise persistir, a leitura de um bom um Dicionário de Filologia poderá te ajudar, bem como enriquecer teu vocabulário: algo que nunca é tarde para se começar.
    Nesse sentido,em virtude da carência interpretativa do leitor, considerei responder os teus comentários.
    Tu já inicias caindo em um paradoxo, se escusa dizendo que seu conhecimento não vai além da “altura da canela”, mas seu longo comentário mostra que isso é falso. Quem argumenta como você o fez, não está com o conhecimento na “altura das canelas”, mas bem acima da cabeça. O problema é justamente isto, supor que está aquém, quando se está além, bem além do razoável. Em outros termos, tua contradição é a mesma do humilde que se orgulha da própria humildade. Nesse aspecto, um bom livro de iniciação à Lógica Formal te ajudará a não cair em falácias, nem começar a argumentação já em perene contradição. Aliás, você se contradiz de novo, ao afirmar que: “perdeu a esperança de viver num país mais justo e desenvolvido socialmente”, e termina, mais uma vez em um tipo de declaração sem qualquer rigor lógico com o que você tinha mencionado antes, pedindo que: “DEIXEM O DALLAGNOL E O MORO TRABALHAREM!!!”. Nesse caso, pedir que o judiciário continue trabalhando mostra que de fato você não perdeu as esperanças. Ademais, em nenhum momento do artigo pedimos que se impedisse o trabalho dos supra-citados. Aqui, se vê que de fato sua leitura é interessada, e apesar de você ter velado o cinismo argumentativo, mostra-se seu real interesse no debate com as afirmações feitas ao fim do comentário. É no fim, juntando-se às próprias idiossincrasias, que, aliás, você faz com maestria, tu as transfere para o quadro história mais amplo. Ora, mas isso é próprio da lógica idiossincrática: considerar o mundo de sentido histórico-social a partir de si mesmo, fazendo do particular o universal. Tal também é aferido das expressões que você utiliza como: “Basta lançar um olhar despretensioso no mapa-mundi para percebermos, facilmente (…)”; “Isto não é uma verdade?”. Todas expressões de uma pobre retórica falaciosa, que apela à tudo, exceto à veracidade intrínseca que demanda a boa argumentação. Por conseguinte, repetem-se expressões do senso-comum (“vira-latas”, “Sorbone-Ibiuna”, e o argumento da “jabutica”). Expressões que tentas usar em tom de ironia, mas a ironia delas é que tu acusando-me de ser medíocre a minha argumentação ao fim do teu comentário, mostras que a mediocridade está em ti, ao usar chavões pretensamente irônicos, e recursos argumentativos elaborados por outros, e não por ti. Assim, tu exemplificas a mediocridade que apontamos no texto, porém ironicamente. Algo que te agradeço, pois procurei um exemplo que fosse medíocre e irônico, e tu acabas de nos dá-lo no teu comentário. Com você, o texto ganha em vivacidade, e podemos aferir a razoabilidade daquilo que apresentamos. No momento histórico-social que demanda novas leituras e a criação conceitual, é tipo do medíocre recorrer aos chavões e argumentações prontas. Dessa forma, demonstra-se também a pobreza das tuas teses, que aliás só podem ser comentadas até o momento que você problematiza a questão do golpe, pois é justamente ali, ao se remeter a argumentação de outros, portanto, saindo da idiossincrasia, que você consegue comentar razoavelmente. Depois, quando você argumenta por si mesmo, isto é, pelas próprias idiossincrasias, temos o momento do transe e da mistificação. Daí, ao fim, confirmando-se o teu transe idiossincrático, o espírito de “vira-latas” em que tu se auto-denomina, explode em uma epifania individualista de gozo maneirista auto-referencial e egoísta, ao afirmares: “o autor defende essa contradição grotesca, de uma forma ostensivamente medíocre, correndo o risco de ser tachado de ridículo por brasileiros vira-latas”. Vê-se assim que tu escreves não para debater, mas para tua própria promoção. O que, de fato, se coaduna com tua convicção neoliberal, a saber, expressando o empreendedorismo da imagem e o narcisismo. Sobre este aspecto, te recomendo a leitura de o Egoísmo Madura e a Insensatez do Capital, de Pietro Barcellona. Já sobre a contradição que tu supões apontar, te recomendo duas leituras: A Nova Razão do Mundo, Pierre Dardot e Christian Laval; e de Pasolini, os Scriti Corsari e as Lettere Luterane, estes últimos estão em italiano: caso tu não leias na língua de Dante, nunca é tarde para começar. Por fim, não poderei comentar o conteúdo das tuas afirmações porque se tratando do transe, elas beiram o ilógico, e se aproximam da paranóia. Sobre este aspecto recomendo a leitura do livro de Remo Bodei, As lógicas do Delírio. Ademais, sendo uma mescla de idiossincrasia e senso comum, tuas considerações se afastam enormemente do meu texto, que se põe completamente fora do senso comum. Desculpe-me se este comentário foi longo, mas não é de meu feitio ser simplório, nem repetir chavões. Também deves ter reparado que ti fiz recomendações de leituras ao longo do comentário, o fiz para que tu possas, apesar da tua idade, sair daquilo que Kant denominava de “menoridade intelectual”, que faz com que tu te contradigas, argumentando mediocremente. Com os melhores cumprimentos, Fran.

  7. Fran Alavina disse:

    Alexandre, sou grato pela leitura e por ter “replicado” o texto. Um abraço.

  8. Fran Alavina disse:

    Edgar Rocha, sou grato pela leitura e pelos apontamentos. Com estes, embora discorde em alguns pequenos pontos, concordo em grande parte deles, particularmente nos aspectos relativos ao papel da classe média e ao consumo. Este último concorre grandemente para um novo tipo de fascismo, diferente do fascismo institucional, porém não menos perverso. Foi o que Pasolini, argutamente, denominou de “fascismo de consumo”.

  9. Fran Alavina disse:

    José Carlos, obrigado pela leitura. E sigamos com razão e paixão, pois a razão sem paixão é “intelectualismo”, entendimento frio e seco; e, a paixão sem razão é a violenta passionalidade fascista. Um abraço.

  10. Heleni Miranda Charneski disse:

    Adorei o texto, queria compartilhar e o facebook não deixou.

  11. Prezado Arthur.
    Reflita sobre essa parte do meu comentário de brasileiro “vira-lata: “Infelizmente, a História (…) Mostrou, também, que a esquerda não aceita ser contrariada, nem mesmo pela esquerda. A esquerda é presunçosa. Considera-se a dona da verdade absoluta. Não admite contraposições. Daí, o embate eterno entre nazismo, comunismo e fascismo no âmago do Socialismo. Todos são de esquerda, porém inconciliáveis. É uma idiossincrasia do Socialismo, para não dizer que se trata de mais uma de suas contradições históricas.”. Isto não é uma verdade? Os nazistas, os comunistas e os fascistas não vivem às turras uns com os outros? São todos da mesma “família”. São todos da esquerda inconciliável. São os verdadeiros “medíocres” que o autor do artigo se refere, entre as “mesóclises” do texto.
    PS: Confesso que não entendi a relação de “mesóclise” com o tema. Achei meio estranha essa inclusão no título do artigo. Meio “sem pé e sem cabeça”!!! Coisas da modernidade!!! Estou ficando velho!!

  12. Arthur disse:

    Realmente, o comentário acima só pode partir de algum vira latas.

  13. Inicio o meu comentário, apresentando-me como o típico brasileiro “vira-latas”, dotado de cultura política que não vai além “da altura da minha canela”. Não sou especialista no tema. Por ter mais de 65 anos, sou um dos muitos brasileiros que perdeu a esperança de viver num país mais justo e desenvolvido socialmente. No artigo, o autor articula as suas ideias, explorando, diante da atual conjuntura política brasileira, as vertentes, a saber: a ocorrência de golpe de estado, a volta do neoliberalismo como supedâneo de política econômica e a institucionalização de práticas fascistas. Da leitura de artigos especializados sobre esses assuntos, depreende-se que: 1) Quanto à ocorrência de golpe de estado: No concerto das nações democráticas, pressupõe-se o estrito cumprimento de arcabouço jurídico fundamentado em texto constitucional. No Brasil, continua vigente uma constituição federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, da qual consta o art 52 que prevê a possibilidade de impedimento do Presidente da República de exercer o seu mandato por ter cometido crime de responsabilidade. Além da leitura do dispositivo constitucional supracitado, recomendo compulsar o artigo de autoria do Professor Gabriel Marques, postado no link http://gabrielmarques.jusbrasil.com.br/artigos/172450520/o-que-e-impeachment. Da literatura especializada sobre o assunto, compulsa-se que o golpe de estado afronta – radicalmente – a constituição vigente. Ao consolidar essa afronta radical, cabe ao grupo político golpista, quase sempre escudado pelas forças armadas, estabelecer novo texto constitucional – com ou sem a participação de assembleia constituinte – cuidando de incluir dispositivos que possibilitem a sua permanência no poder por tempo indeterminado. No período compreendido entre 1964 e 1985, o Brasil viveu essa conjuntura política, sob a égide da CF/67, que substituiu a CF/46, em decorrência de um golpe de estado perpetrado em 1964, com a presença ostensiva das forças armadas. No caso brasileiro, os julgamentos dos mandatários, em 1992 e em 2016, que redundou nos respectivos impedimentos para o exercício da Presidência da República, cumpriram, estritamente, o texto constitucional que regula o assunto (art 52 da CF/88). Em ambas as situações, não houve a afronta ao texto constitucional, a promulgação de nova constituição, tampouco a participação de forças armadas, mesmo que velada. Esses pressupostos derrubam a tese do articulista de golpismo em curso no Brasil. Portanto, sob a égide da CF/88, não houve golpe de estado e ponto final. 2) Quanto à volta do neoliberalismo como supedâneo de política econômica: A minha experiência na vida pública, tornou-me um liberal/neoliberal convicto e consciente que não acredita na Turma da Sorbonne/Ibiúna. Basta lançar um olhar despretensioso no mapa-mundi para percebermos, facilmente, que as nações que adotaram as teorias liberais/neoliberais como suportes de suas respectivas políticas econômicas são as mais desenvolvidas social e economicamente. O exemplo mais gritante da atualidade, malgrado o atraso no desenvolvimento social, particularmente quando se trata de trabalho escravo e meio ambiente, é o da China que, para evitar o risco de convulsão social com dimensões planetárias, decidiu adotar – radicalmente e a qualquer custo – as teorias liberais/neoliberais para alavancar o seu atual crescimento econômico. Uma das virtudes do liberalismo/neoliberalismo econômico é afastar a intervenção estatal dos setores produtivos, concentrando-a naqueles setores que promovam, de fato, o bem estar social (wellfare state). No caso do Brasil, a segurança, a educação e a saúde públicas são os setores de desenvolvimento que carecem da intervenção estatal. Na minha opinião, a volta do liberalismo/neoliberalismo econômico é muito bem vinda ao Brasil e para a sociedade brasileira. 3) Quanto às práticas fascistas: Não vislumbro tais práticas, mesmo porque uma das características da ideologia fascista é o horror declarado pelas teorias liberais/neoliberais econômicas. Fascista que se preza detesta o liberalismo/neoliberalismo econômico. Compulsando a literatura especializada sobre o assunto, verifica-se que, juntamente com o socialismo nacional (nazismo) e com o socialismo democrático (comunismo), o fascismo compõe o tronco das teorias socialistas abraçado pela esquerda mundial. Os acontecimentos políticos na Europa, durante o primeiro quartil do Século XX, foram fortemente influenciados pelo socialismo, particularmente, na Alemanha (nazismo), na Rússia (comunismo) e na Itália (fascismo). Todos esses movimentos políticos foram, conceitualmente, de esquerda, por defenderem a intervenção estatal nos meios de produção, visando ao sequestro da mais-valia do proletário com a finalidade proporcionar o seu bem-estar. Infelizmente, a História mostrou que tudo isso foi uma utopia. Mostrou, também, que a esquerda não aceita ser contrariada, nem mesmo pela esquerda. A esquerda é presunçosa. Considera-se a dona da verdade absoluta. Não admite contraposições. Daí, o embate eterno entre nazismo, comunismo e fascismo no âmago do Socialismo. Todos são de esquerda, porém inconciliáveis. É uma idiossincrasia do Socialismo, para não dizer que se trata de mais uma de suas contradições históricas. Como teoria econômica, o Socialismo é antagônico em relação ao Capitalismo. O capitalismo moderno tem como seu carro-chefe o liberalismo/neoliberalismo econômico. Na minha opinião, as teorias liberais/neoliberais surgiram como uma resposta ao “capitalismo selvagem” praticado ao longo dos séculos XIX e XX, graças ao surgimento do Socialismo. Pode-se inferir que o Socialismo “domou” o “capitalismo selvagem” pela invenção e pela prática das teorias liberais/neoliberais econômicas. No Brasil, curiosamente, os mandatários acusados – pela esquerda brasileira conservadora – de fascistas e de praticarem as teorias liberais/neoliberais são, historicamente, da esquerda conservadora. Todos integrantes da Turma da Sorbonne/Ibiúna. Vejam a contradição: fascistas que praticam o liberalismo/neoliberalismo!!! É uma situação parecida como a da jabuticaba – fruta que só existe no Brasil. Infelizmente, o autor defende essa contradição grotesca, de uma forma ostensivamente medíocre, correndo o risco de ser tachado de ridículo por brasileiros vira-latas, que acompanham – de longe e apreensivos – as travessuras da elite conservadora de esquerda brasileira que resolveu apoderar-se do Brasil. Enquanto isso: DEIXEM O DALLAGNOL E O MORO TRABALHAREM!!!

  14. Também gostei bastante. será replicado no blog Novo Exílio.
    Aproveitem e vejam porque o Golpe não resistirá:
    http://novoexilio.blogspot.com.br/2016/09/o-golpe-na-amendoeira-por-alexandre.html
    Compartilhe. Democratize-se.

  15. Edgar Rocha disse:

    O artigo é ótimo. E se me permite o apontamento, acredito ser possível chegar ao mesmo ponto quando o objeto analisado é a classe média burguesa. Não acredito que a mesma seja apenas o efeito colateral da ascensão do pensamento fascista. Ela o precede e o forja. Sua semente está no pensamento do burgo, na figura do burguês, do fidalgo, do vilão. Vejamos: a mediocridade, o auto-isolamento em relação aos outros nichos sociais, a megalomania, a auto-estima como valor e princípio desprovido de lastro moral e ético, o culto à imagem e à superficialidade das formas em todas as suas manifestações (artísticas, estéticas, corporais…), o ódio de classe e de tudo que for diferente como resposta à repulsa natural advinda dos demais atores sociais, seja em função de sua mediocridade, seja por sua superficialidade, seu esnobismo descarado ou a ausência de princípios éticos. A classe média é filha do novo-rico proto-capitalista, do sujeitinho asqueroso e sem modos que dita novas regras, novos padrões sociais tendo como argumento o mesmo jargão dito por figuras imbecilizadas e imbecilizantes do mainstream nacional: “Tô pagaaaaano!” O burguês suburbano que imita com exagero a tudo que lhe digam ser moderno na ânsia de sofisticar-se e, assim, esconder sua falta de requinte, de raízes, de conhecimento de causa sobre aquilo que dizem ter intimidade.
    É esta cultura, esta gente, movida pelo ódio e pela compulsão megalômana que forjou, forja e forjará – para a desgraça alheia e alegria dos que descobriram a mina de ouro nas profundezas de seu inconsciente doentio – as inúmeras revoluções levadas a cabo com sangue dos pobres, a fim de garantir-lhes migalhas de aceitação nos círculos dominantes.
    A classe média, por ser a encarnação do medíocre, obviamente, nunca alcançará o domínio que tanto sonha. Contenta-se desta forma, em ter a desgraça alheia como medida de seu sucesso e a opulência de seus donos como utopia acalentada. Sua única estratégia é a eterna sabujice aos poderosos e a prontidão em colocar no lugar de sempre os que tentarem de alguma forma, alcançar um lugar ao Sol pelos meios da temível dignidade. Dignidade esta que nada tem a ver com a tal “meritocracia”, outra sofisticação, outro sofisma mal arrematado, outro eufemismo para “estômago de avestruz e paladar de hiena” sem os quais não se poderia dizer-se “classe média” em termos capitalistas.
    Enfim, acredito ser este o motor que alimenta a odiosa parcela da sociedade disposta a abraçar qualquer discurso violento. É esta gente frustrada em sua realização moral, ética e afetiva, porém, atavicamente incapaz de autocriticar-se, que dá ao mundo momentos gloriosos desde a Revolução Francesa.
    A desgraça da esquerda nestes últimos anos foi ensinar aos que ascenderam do nada a agir como parte integrante desta classe de imbecis. Foi como uma queda para o alto. Lula conseguiu transformar uma geração fadada ao ostracismo perante o mercado, numa geração fadada ao ostracismo perante a própria vida. Bom seria se os conflitos de classe ocorressem dentro das universidades, na luta por legitimar seu ângulo de visão “diferenciado”. Infelizmente, a briga foi pelo direito de fazer “rolezinho” em shopping center. Fazer o quê? Tão pagaaaano!!! Somada tal atitude à indiferença perante os debaixo e à construção do “mérito” de se fazer o que o mestre manda, sempre, e temos o solo para a germinação da “semente do mal” denunciada por Hannah Arendt.
    Meus respeitos.

  16. José Carlos disse:

    Muito boa a análise. Adorei o texto, Fran. Com paixão (e com razão).

  17. Fran Alavina disse:

    Rita Lama, antes de qualquer coisa, meu sincero agradecimento pela leitura do texto. De fato, como você bem apontou, a pergunta continua, persiste; e, persistindo nos desafia. Tenho tentado compreender ainda mais os aspectos passionais dessa massa, pois é fundamentalmente pela passionalidade agressiva que ela se move. Disto resultará algumas hipóteses para pensarmos a impossibilidade da sua perenidade. Penso que, por enquanto, assumirmos o protagonismo da rua nesse momento impedirá que ela volte a se reunir. Ademais, sabemos que a rua lhe é um espaço pouco usual, usando apenas no momento em que ela é chamada a sair da posição reativa. Sem a rua, a aparência de legitimidade da massa proto-fascista se desfaz com certa rapidez. Porém, cientes de que apenas isso não basta. Por fim, a rua deve ser expressão de que nossa paixão política mais forte nesse momento tem de ser, e deve ser, a resistência.

  18. Rita Lama disse:

    Muito bom artigo! Gostei! Mas, ainda fica a pergunta: como evitar que a “‘massa pró-golpe’, eivada de passionalidade violenta, se torne uma ‘massa perene'”? Espero que Fran continue a nos mostrar os caminhos.

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