Manual para resistir ao machismo em 2014

Big Brother, Carnaval, Copa, eleições. Como encarar, sin perder la ternura jamás, um ano muito traiçoeiro?

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Big Brother, Carnaval, Copa, eleições. Como encarar, sin perder la ternura jamás, um ano muito traiçoeiro?

Por Marília Moschkovich, na coluna Mulher Alternativa | Imagem: Alice Soares

Para muita gente o ano engrena de verdade esta semana. Quem volta ao trabalho sente a rotina de novo, quem voltou na semana passada já começa a acostumar. O número de piadas sobre a quantidade de eventos públicos e políticos importantes neste ano revela que brasileiros e brasileiras já perceberam algo diferente. Além disso, as manifestações políticas de meados de 2013 não deixam dúvida: a resposta da população a esses eventos também pode ser outra. Diante de tanto auê, é preciso também um olhar atento. Temos pela frente um ano cheio de oportunidades para fortes e nojentos machismos, assim como a chance de combatê-los.

Em 14 de janeiro, começou o Big Brother Brasil. Claro, isso ocorre todo ano, há 14 anos. E todo ano é um show de machismo. No programa, obviamente, mas sobretudo nos comentários cotidianos sobre as participantes mulheres. É também no cotidiano que podemos agir contra esse machismo. Questionar as opiniões senso-comum sobre “aquela periguete”, recusar a graça de certas piadinhas ou simplesmente emitir opiniões não-machistas sobre o programa e os participantes são algumas estratégias para lidar com a situação.

Em seguida, vem o carnaval. É muito comum que as pessoas confundam “liberdade sexual”, no carnaval, com “liberdade de exercer poder sobre as mulheres”. Liberdade sexual pressupõe consentimento, exercício de poder não. Os comentários típicos são mais ou menos aqueles que ouvimos no BBB, mas na vida real. “Estava pedindo”, “ninguém mandou ir no bloco”, etecétera, etecétera, etecétera. Combater a cultura do estupro é também recusar, no dia-a-dia, essa mentalidade que subjuga mulheres de todos os grupos sociais e raciais todos os dias (mesmo que nem sempre da mesma forma).

O machismo desenfreado que veremos este ano não se limita, obviamente ao BBB e ao carnaval. Convencidos de que os homens são todos heterossexuais, machistas e máquinas biológicas irracionais guiadas por imagens de mulheres nuas, os grandes portais de notícias certamente produzirão enxurradas de pseudo-matérias sobre as “gatas da arquibancada” ou “musas da torcida” durante a Copa do Mundo. As páginas desses sites serão forradas de fotos de torcedoras, funcionárias de estádios, vendedoras ambulantes, gringas, não-gringas, familiares e amigas de jogadores, modelos reivindicando posição de “musa” e, enfim, toda e qualquer mulher que julgarem “bonita” em padrões extremamente racistas, cissexistas e machistas de beleza. Caso você não seja diretamente envolvido na produção dessas pérolas do jornalismo punheteiro, resta recusar-se a endossar essa babaquice, e questionar as pessoas próximas que repassam links, comentam “as gatas” e coisas afins. Não é uma revolução, mas é um começo.

A Copa ainda trará de bandeja a lembrança de que a seleção feminina de futebol é absolutamente ignorada, de que quase não há mulheres arbitrando, narrando, comentando, treinando, e muito menos na posição de técnico. Nosso país não apenas se curvará aos interesses de grandes empresas e da máfia da FIFA (como já vem fazendo nos últimos anos), mas também a uma ideologia estupidamente machista. O país simplesmente para, se reforma, se adapta, para que um bando de homens possam, entre homens, fazer uma coisa considerada culturalmente “de homem”. Desculpa, não consigo não ter nojo.

Além desses casos mais óbvios, neste ano veremos também – muito provavelmente – um espetáculo de opiniões machistas na época das eleições. Já falei sobre isso aqui, e é importante lembrar e manter na cabeça a seguinte pergunta: “eu faria o mesmo comentário ou me incomodaria com a mesma coisa sobre um candidato homem?”. Sempre que a resposta for “não”, pare e repense, pois você provavelmente está sendo machista. Questionar as próprias opiniões e atitudes é o passo número zero de qualquer transformação real na sociedade.

Para terminar, é importante lembrar que, seja qual for a situação em 2014, o questionamento do machismo precisa ser estrutural. É importante criticar as ideias, posicionamentos e atitudes das pessoas, e não os indivíduos em si. Cada pessoa é mais do que suas atitudes machistas, racistas, elitistas, e é importante não levar a discussão para o lado pessoal. Ainda há gente disposta a dialogar, de fato, se questionar, aprender, se transformar. Quando ficar evidente, porém, que quem está diante de você não é uma dessas pessoas, o melhor conselho que eu posso dar é: fuja. Ignore. Não leve a sério. Não vale a pena gastar sua energia com essa gente. Melhor se poupar, porque este ano você definitivamente vai precisar dela.

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8 comentários para "Manual para resistir ao machismo em 2014"

  1. Thereza disse:

    Nossa, por que os homens se doem tanto quando uma mulher expõe de forma coerente sua opinião? Será pelo fato de perceberam que não exercem poder sobre todas elas? As coisas já mudaram, as mulheres já correram atrás e essa mentalidade arcaica já tá mais que ultrapassada.

  2. Yume disse:

    Fico pasma como vocês feministas conseguiram inverter os valores.Agora,a mulher se expor como mercadoria sexual,que alimenta o tráfico de mulheres e meninas e aumenta o turismo sexual no Brasil é liberdade feminina???É esse nosso potencial: sermos bundas e peitos para consumo sexual masculino?? Ser passista pelada é ser valorizada agora?? Nunca percebeu que as negras e mulatas desse país só servem para isso e nada mais??Por que será que s homens não o valorizados desse jeito,já parou para pensar nisso coleguinha?? Depois não querem que os estrangeiros nos vejam coo putas,não façam propagandas e camisetas nos retratando como putas!!
    Engraçado que depois vocês querem que a CONAR tirem mulheres peladas das propagandas de cerveja…como,se vocês mesmas nos incentivam a ser mercadorias sexuais???
    Esse feminismo piriguete só tem nos atolado na lama,mas vocês insistem nos mesmos erros,taxando de machista todos e todas aqueles que se recusam a compactuar com essa bosta de machismo camuflado de “escolha” e “liberdade sexual feminina”. Nossa sexualidade nunca esteve tão mercantilizada,tão exposta,e vocês irresponsavelmente continuam nessa!Imagina quantas adolescentes pobres não foram iludidas no tráfico de mulheres com essa de usar o corpo/sexualidade para subir na vida! Nojento,não é a toa que os evangélicos estão a todo o vapor e que tem tanta mulher com nojo de feminista!
    Conservadores de verdade são aqueles que querem que nós mulheres continuemos sendo os eternos objetos sexuais.,e hoje,glamorizam a objetificação da mulher para atingir seus objetivos,e vocês,tão “espertas” que são.caem nessa!!

  3. juanpablo776 disse:

    Sou contra machismo, mas acho que mulheres podem jogar futebol, se apresentar em passarela com biquínis ultra finos. Mulher é a coisa mais linda do mundo e devemos valoriza-las e dar-lhes carta aberta para tudo que tenham vontade de fazer, sem consultar homens. . Coisa linda é ver mulher em passarelas, sambando e desfilanando, mostrando seu alto potencial. Um parabéns a todas as mulheres, ricas ou pobres, pretas ou brancas ou amarelas. Elas são as que criam o mundo, tendo seus filhos e educando corretamente. Abraço.

  4. Diego disse:

    Na boa Marília, acompanho bastante seus textos e gosto muito, mas acho que vc não estava num dia muito feliz quando escreveu isso. Repetiu clichês bobos e se direcionou aos homens de maneira generalizada e tosca utilizando jargões beeem ralés como “bando de homens”, “nojo”, etc.; ridicularizou um esporte que é legal, goste vc ou não, embora eu concorde com todas as observações sobre a Fifa, etc. Também não gosto do “jornalismo punheteiro”, mas não vejo problema algum na admiração pública da beleza de homens e mulheres, desde consigamos aparar o que vc chama corretamente de machismo estrutural.
    Sei lá, aqui, acho que vc cruzou a linha que divide o feminismo puro e engajado, de uma manifestação de ódio, tal qual o machismo. Uma pena. Mas vc tem crédito.
    Cuide dele.
    abs

  5. Marcio Ramos disse:

    Grande Marilia, de boas intenções. O seu texto é o óbvio do protestismo xororô.
    É um repeteco sem fim.
    Marilia concordo que o machismo é estrutural assim como o racismo. Disso ninguém escapa mas…
    Eu sou machista, ja saquei isso faz tempo, e quem me mostrou este “grande problema” que poderia me envergonhar mas não envergonha foram as blogueiras feministas. Obrigado, aprendi bastante.
    Nasci na roça, vendo homem fugir com a mulher, ou “roubar a mulher” como se falam, para não precisarem pagar ou bancar um casamento. As meninas com 15, 16, 17 anos fazem de tudo para se casar logo, conheci e conheço varias que hoje estão com seus 30 anos e são felizes, outras nem tanto, é a vida e a cultura do local. ( Luxuria e Pudor ja leu o livro?)
    Entrei no judô aos 6 anos para aprender a me defender, coisa de pai machista?, minha mão não faltava em uma competição. Logo cedo aprendi a atirar, tenho uma cartucheira 22 ate hoje que guardei de recordação, ja tive uma 12 cano cerrado e um trinta e oito que eu amo. Que eu saiba Marilia nunca bati em mulher ou matei alguém, aprendi em casa que em mulher não se bate nem com uma flor e sou a favor do desarmamento da população civil. Complicado minha cara socióloga?
    Nunca tive TV, desde que sai de casa com 16 anos, este BBB nunca assisti, mas as minhas amigas, muitas delas não perdem o famigerado programinha. Por isso nem vou falar nada. As mulheres adoram…
    Quanto ao futebol, eu adorava jogar bola, ate que comprei uma prancha de surf e esqueci a pelada. Um dia fui ao campo de futebol, no Morumbi, aquilo me pareceu tão ridículo, sem graça que não quis outra experiencia. Futebol de mulher não dá, assim como os homens surfam bem melhor que a mulherada eu adoro uma gatinha de body board ali ao lado… delicia!!!! Pode elogiar?
    Quanto a politica, esta sim, me da nojo. Não me sinto bem e nem gosto de gracinhas do tipo a Dilma é sapatão, a Tatcher foi uma mal comida e outras.
    Agora do carnaval eu participo, ja fotografei diversas escolas, e vc não tem ideia de como as mulheres são valorizadas nas escolas, das baianas as passistas, tudo recheado com o bom e velho machismo educado. As meninas piram em ser a Rainha de sua escola, a Rainha do carnaval e assim por diante. Na escola de samba tem lugar pra todo mundo, as que sambam mais e que tem perfil serão passistas, as que curtem um instrumento ritmistas, as fofinhas ou idosas geralmente baianas, outras trabalharão na harmonia e assim por diante. Mas as fofinhas jamais serão rainhas, se bem que eu conheço algumas gordinhas que são lindas e mereceriam o “prêmio”, mas tradição é tradição, muda lentamente e eu ja tentei algo a respeito mas fui ignorado ali na Vai Vai, Perola Negra, Tom Maior… http://www.marcioramosfoto.com.br/luz/?p=964
    De resto o seu texto teria que levar em consideração o Brasil todo, eu nem vou me adiantar, mas o Brasil é bem maior que a rua Augusta.
    Não vejo com bons olhos esta generalização do termo machista, não porque eu seja um, mas porque isso não vai mudar a estrutura. O cara que estupra é estuprador e este vira mulherzinha na cadeia e morre pelos machistas de lá. O homem que mata mulher é um assassino, covarde e pronto. Se isso for machismo ok, fica assim. O babaca que faz gracinhas idiotas na rua é um babaca e pronto e tenho visto muitos homens parando com as tais gracinhas e muitas mulheres reclamando que já não são cortejadas ou que os homens estão muito devagar. Isto em São Paulo porque no norte é comum o fiu fiu alto em bom som na rua, as mulheres nortistas também fazem gracinhas na maior, sem neuras e não costumam levar desaforo pra casa.
    No mais aguardo a musa feminista deste 2014. Ou isso seria uma vergonha para as tais feministas? vamos lá Marilia, vocês também podem.
    Ja imaginou um mundo de feministas com este seu discurso?
    Axé!!!

  6. oi, os links não estão abrindo

  7. Ivan Garcia disse:

    Ver também
    Manual cristão para “disciplinar” sua esposa
    https://plus.google.com/108082702492460776598/posts/5zqpXuTzEaT

  8. Claudio disse:

    Breves comentários de um homem que bem que tenta, mas que no fundo é machista.
    BBB – Não assisto essa desgraça nem que me paguem. Só fico sabendo que o programa existe pelos blogs (olha a ajuda que vc está dando hein) da vida. Nem mesmo as ultrapopozudas siliconadas da vez conseguem me fazer assistir a mais um freakshow da tv brasileira. E também não tenho um amigo sequer que assista esse programa. Acho que o ibope vem das mulheres (c me cutuca, eu te cutuco…rs) .
    Carnaval – Acho que é mais fácil para as feministas se mudarem para o Tibet nesses dias. O fato é que os brasileiros não sabem tirar proveito da liberdade da mulher, gostam de mandar. Quando encontram mulheres livres e desencanadas se assustam e fazem vergonha. Falam um monte mas quando encontram uma mulher que assumidamente gosta da coisa, correm pra Pacheco atrás da pílula azul. Como diria vóvó: um monte de borra-botas!
    Copa – O futebol feminino não existe porque as meninas não curtem jogar futebol. Se isso acontecer um dia, acho que o esporte crescerá como o volei feminino, único esporte que me fez visitar o maracanãzinho. O futebol é essa paixão para os homens não por causa dos clubes, mas porque ainda não fizeram um esporte que os homens gostassem tanto de jogar como o futebol. Como a maioria não leva jeito pra coisa, acabam torcendo feito loucos por seus clubes, mas o que queriam mesmo era estar disputando a pelada. Prova disso é que raramente se encontra um menino fanático pelo seu clube, isso só vem no fim da adolescência, mas a maioria adora jogar uma bola desde que começam a andar. E uma observação. O futebol foi criado por homens para homens. O mundo do futebol foi feito por homens e para homens. E não vejo nenhum problema nisso. Tem um monte de programas de mulheres que os homens fogem mais do que o diabo da cruz. Se eu não gosto de algo não participo, não vejo, leio, etc. Mas não tô nem aí pra quem gosta. Sejam felizes! Se algum dia alguém me ver em um desfile de moda, podem me internar ou mandar me prender. Mas não faço oposição aos fashionsweeks da vida. Só tenho pena mesmo é daquelas meninas esfomeadas.
    Política – Dessa então ja desisti há uns 10 anos. Há duas eleições que sequer saio de casa pra votar. Nesse ano meu Estado virá com o novo crente e ex-revolucionário de açucar da finada Une, Lindberg, o santo Crivela, o monstro do pé grande e Antony Molequinho. Morri!
    Abraços e desculpe as gracinhas, só assim pra sobreviver no Rio de Janeiro sem enlouquecer.

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