Das críticas à esquerda ao isentismo

Erros não faltam ao PT e a tantos outros partidos que ascenderam ao poder em algum momento. Mas nenhum deles pode ser pretexto para se aceitar um golpe

170623-Temer

.

Por Celso Vicenzi

Há um argumento frequente nas redes sociais e nas conversas por aí, que embora falho, tem conquistado muitos adeptos. Diz-se, em linhas gerais, que o PT sabia quem era Temer e conhecia bem o PMDB e que, por isso, deve admitir que também errou, ou seja, aceitou correr riscos com essa aliança e, por conseguinte, justifica-se o golpe. Erros não faltam ao PT e a tantos outros partidos que ascenderam ao poder em algum momento da história. Mas nenhum deles pode ser pretexto para se aceitar um golpe.

Para governar é preciso obter maioria no Congresso e para isso recorre-se a coalizões políticas, aqui e em outros países. Errar na escolha das coalizões, no programa de governo ou no exercício do cargo, repito, não justifica um golpe.

Quem faz um mau governo é derrotado na eleição seguinte. É assim numa democracia. O PT pagaria o preço de suas opções políticas e econômicas.

Outra coisa, no entanto, é sofrer um golpe que uniu, entre outros, boa parte do  empresariado, da mídia, do Congresso financiado por corruptores como a Odebrecht, JBS e tantos outros, que obteve a conivência de boa parte do Judiciário, da Polícia Federal e, muito provavelmente, com apoio logístico da nação que considera a América Latina estratégica para seus interesses geopolíticos. Inclua-se, ainda, a traição torpe como poucas vezes se viu, em qualquer país, de um vice-presidente e do maior partido que dava sustentação política ao governo. Contra tudo isso, havia pouco a se fazer (é verdade que nem esse pouco o PT fez, confiando no Judiciário e na Divina Providência).

A crítica ao PT é necessária e deve ser feita, mas não pode ser usada para justificar o golpe. Numa democracia, maus governos ou escolhas políticas devem ser questionadas numa próxima eleição. Golpe é golpe. E os erros do PT não podem justificar o que se fez no país, de maneira ilegítima e arbitrária (apesar da roupagem jurídico-legal com que travestiram o golpe).

Portanto, é preciso separar bem as duas coisas. Críticas ao PT (que se afastou dos movimentos sociais, que optou por uma política econômica equivocada, que não democratizou a comunicação etc), aos dirigentes que se corromperam etc etc, são todas muito bem-vindas e necessárias, porque ajudam a aprimorar a política, a democracia, a sociedade. Mas aceitar que erros políticos de um partido ou de um governante deem pretexto a um golpe – com tudo que já se sabe agora sobre as suas motivações -, desculpem-me, é violentar duplamente a vítima. É estuprar a democracia.

E cá entre nós, toda a corrupção dos golpistas que tomaram de assalto o Palácio do Planalto para tentar livrar a pele e barrar a Lava Jato (recordemos Jucá: “A solução é botar o Michel, num grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo, aí parava tudo”), o ódio da classe média à ascensão dos mais pobres, os donos do PIB ávidos por destruir a Constituição e a proteção aos direitos sociais e dos trabalhadores para aumentar seus ganhos, os lucros com a privatização, o interesse de potências estrangeiras no pré-sal, nas riquezas nacionais –, tudo isso teve muito mais peso na motivação do golpe do que eventuais casos de corrupção do PT ou erros políticos e econômicos do governo da presidenta Dilma.

E mostrou-se ainda mais transparente depois que o golpe perdeu o rumo, a ponte para o futuro revelou-se uma frágil pinguela, defensores da ética mostraram-se igualmente corruptos, os golpistas desentenderam-se, a mídia e a justiça retiraram suas máscaras e heróis transmudaram-se em vilões da noite para o dia.

Leia Também:

2 comentários para "Das críticas à esquerda ao isentismo"

  1. Siebel disse:

    Diante da escandalosa violação de direitos básicos constitucionais e fundamentais que culminaram na condenação do Presidente Lula no dia 12/07/2017, uma resposta previsível (lembrando que vivemos no país das surpesas…), por tudo que vimos ao longo dos últimos anos atacando Lula nos jornais e conglomerados da midia-empresa das oligarquias jacus, um ataque não só a ele mas a todos os cidadãos deste país, já que afronta direitos básicos (juiz parcial, condenação sem provas incontestes, in dubio pro reu e tantos principios e regras básicas constitucionais desrespeitados no “caso Lula”).
    Como já era de se esperar, a grande mídia brasileira comemorou abertamente, ainda que em alguns casos timidamente, dada a crise política, a destruição dos direitos trabalhistas nessa mesma semana com a aprovação do Senado da falácia chamada “modernização trabalhista”, que grosso modo retira direitos dos trabalhadores, tornando-os ainda mais escravos de seus patrões, uma tendência mundial nos países de “primeiro mundo”.
    Estamos vivendo tempos sombrios há muito tempo…o que dizer disso? Como reagir a isso? Certo é que devemos reagir.
    Nada obstante as mentiras e chantagens e hipocrisias, a grande midia e seus afiliados, de UOL e Folha a Globo, GloboNews, Veja, Istoé, Exame e tantos outros tantos…nenhuma solução para o pais, é claro, apenas vingança daquele “nordestino ladrão analfabeto”, Alia-se a isso a falta de popularidade e envolvimento em crimes e chantagens dos seus candidatos protegidos (da grande mídia), e o povo brasileiro continua inerte e aceitando essas “verdades”.
    Além do mais, foi o tal do Lula que inventou essa história de colocar o Brasil nos Brics (Obs.: China é a economia mais proeminente e robusta do mundo, com reservas fabulosas, pavor para o eixo Atlanticista encabeçado por EUA/OTAN e por aí ai), BRICS que começou numa conversa Brasil-Russia. Agora não passamos de um enfeite feio nesse rol de notáveis players econômicos que trocam em parcerias comerciais riquezas fabulosas, especialmente dado One Belt One Road, projeto fabuloso chinês que injetará quantias impensáveis em vários países..o eixo agora é Eurasia…e a OTAN/EUA estão de cabelo em pé.
    Uma iniciativa para evitar monopólios, garantir o equilíbrio mundial de forças, pior pesadelo dos EUA e OTAN, que sempre apostaram em dividir para conquistar, mudanças de regime, terror em nome de poder e óleo e subjugar em nome da “democracia” para conseguir seus objetivos.
    Muito me assombrou (com honestidade? Nem tanto) um tal silêncio e algo me incomoda já há certo tempo: o silêncio do Intercept sobre a perseguição a Lula e agora o silêncio em relação a sua condenação E, muito pior e mais revelador de seu verdadeiro caráter “jornalistico”, me deparo com uma matéria publicada semanas atrás fomentando o mais do mesmo terror do pior “jornalismo” panfletário (atacando Lula!) a que estamos acostumados, dia após dia, na onda de lavagem cerebral adotada como estratégia pela grande midia.
    Seu editor mais proeminente, Glenn Greenwald, foi muito bem recebido no Brasil pela esquerda, que o ajudou na eleição para a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro de seu parceiro David Miranda, que contou até com video-propaganda de Edward Snowden.
    Ficou conhecido por “brigar com a Globo e os Marinho”…denunciar o golpe que retirou por uma mudança de regime a eleita Presidente Dilma Rousseff através de um golpe parlamentar e agora silencia quanto a condenação de Lula, que (não custa repetir), sabemos todos, foi perseguido pela justiça brasileira seletiva e o juiz Moro provinciano-homem-de-bem parceiro de Langley, Virginia: Moro e suas convicções de juiz justiceiro atendendo ao apelo das elites financeiras e os barões e oligarquias que governam o Brasil.
    O Intercept, fundado por Pierre Omidyar, um dos principais proprietários do site de leilão eBay e sua divisão bancária do PayPal. Omidyar é um bilionário e “filantropo” que é (evitando impostos) A Fundação Omidyar Network é “investindo” para “retornos”. Seu projeto de microcrédito para agricultores na Índia, em cooperação com pessoas do partido RSS fascista, terminou em uma epidemia de suicídios quando os agricultores não conseguiram pagar. A Rede Omidyar também financiou grupos de mudança de regime (fascistas) na Ucrânia em cooperação com a USAID (organização americana que promove mudanças de regime no mundo, entre outras atividades) (“coincidentemente” ao lado da Russia de Putin, de quem Glenn Greenwald se dedica a criticar intermitentemente o suposto ataque às eleições americanas – sem provas – o que já se tornou um vexame nacional e internacinal por parte dos grandes meios americanos e alinhados aos seus interesses (BBC, Le Monde….todos recebem verbas de CIA). O suposto ataque russo às eleições norte americanas ao qual a mídia norte americana, desde MSNBC e CNN a New York Times fazem uma campanha de terror 7 dias por semana 24 horas por dia, mais ou menos o que a nossa Globo faz em relação à Lava Jato. Omidyar teve relações acolhedoras com a Casa Branca de Obama. Alguns dos documentos da NSA retidos provavelmente implicam o PayPal da Omidyar.
    O Intercept foi financiado com cerca de US $ 50 milhões da Omidyar. Suas primeiras contratações foram Greenwald, Jeremy Scahill e Laura Poitras – todas envolvidas na publicação dos jornais Snowden e outros vazamentos. Sua primeira peça foi baseada em documentos da pilha NSA que foi vazada. Ele já publicou isso ou aquilo, mas não de forma regular. As peças são geralmente redimensionadas e tendem a ter uma tendência”liberal” dominante para a inclinação libertária. Alguns eram uma propaganda de mudança anti-Síria (alinhada com a agenda neoconservadora da política externa dos EUA e OTAN) / pró-regime altamente partidária. O site parece não ter nenhuma agenda de publicação regular. Entre uma e cinco peças por dia são publicadas, apenas algumas delas fazem ondas públicas. Algumas de suas contratações proeminentes (Ken Silverstein, Matt Taibbi) logo deixaram e alegaram que o lugar era executado em uma atmosfera caótica e com uma edição imprópria e altamente politizada. Apesar de seu rico apoio e supostamente alto salário por seus principais jornalistas (Greenwald é dito receber entre 250k e 1 milhão por ano). Nada obstante, tal publicação implora por doações. Atenção….estamos lutamos contra forças oponentes e chantagistas de TODOS os lados,,,,se não acordarmos pra isso, ocuparmos as ruas, nos inconformarmos, mais de milhões vão pra linha da pobreza e nosso pais ai ser mais um grande territorio fantasma, ainda mais do que se tornou SEM o PETÊ!

  2. Fábio disse:

    Enfim, a lucidez aporta no altermundismo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *