Cartas da Guanabara: Abram alas

“Ele desce antes dos outros passageiros? E toda vez a gente tem que parar para que ele passe”? “Ué, não tem sido assim há mais de 50 anos?”

160323-SantosDumont

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Por Daniel Cariello

O ônibus lotado que levava os passageiros do avião até o terminal do Santos Dumont deu uma parada para deixar passar um carrão de filme, escoltado por duas viaturas policiais. Encucado, perguntei ao condutor.

– Quem vai ali? A presidente?

– Enta.

– O quê?

– É presidenta, o certo.

– Que seja. É a presidenta ali, seu motoristo?

– Não, é o rei.

– Rei de onde?

– Daqui mesmo. É o nosso Rei Roberto Carlos.

– Ele desce antes dos outros passageiros?

– Você tá brincando, né? Ele não pega vôo comercial. O cara tem o próprio avião particular, aquele ali, ó.

– Gente coisa é outra fina…

– E quando ele vai viajar, o motorista pára o carrão ali na entrada da pista e a escolta logo chega para acompanhá-lo até o jatinho.

– E toda vez a gente tem que parar para que ele passe?

– Ué, não tem sido assim há mais de 50 anos?

Concordei com o raciocínio, tem mesmo sido assim há muito tempo, minha avó já parava para olhar quando o cantor aparecia na TV em preto e branco, e alardeava um suposto e distante parentesco: “Ele é de Cachoeiro de Itapemirim, cidade vizinha à minha Castelo.” Mas desconcordei do fato de sermos obrigados a aguardar a travessia real para seguirmos adiante.

– Ainda mais levando em consideração a produção musical dele dos últimos 30 anos, uma verdadeira tristeza.

Mas o chofer nem ouviu, estava entretido assoviando Detalhes, no que o acompanhei quando chegou o refrão.

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