Boulos: Tudo o que é sólido desmancha no ar

Sistema político está em franca dissolução. Mas pode recompor-se em mais do mesmo, se não surgirem saídas a partir de baixo. Não basta estar podre, para cair

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Por Guilherme Boulos

A delação premiada de Sérgio Machado expôs a nu o governo interino de Michel Temer. Toda a cúpula do PMDB foi diretamente comprometida, sem excluir o próprio presidente.

“Pro Michel eu dei”, disse o delator, explicando que se tratava de R$1,5 milhão acertados pessoalmente com Temer na Base Aérea de Brasília, em repasses de propina da empreiteira Queiroz Galvão. O dinheiro ilícito teria sido destinado à campanha de Gabriel Chalita à prefeitura paulistana.

É verdade que delação não é prova. Não era quando se tratava do PT e não será agora porque o alvo é Michel Temer. Deixemos a incoerência para quem vive dela.

Mas não custa lembrar que por muito menos que isso, Lula foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal. E Dilma — sob o fraco pretexto das pedaladas — destituída da presidência da República mediante um golpe parlamentar.

Nenhum depoimento até então apontou a presidenta como recebedora de propinas. Já Temer, em apenas um mês de governo, tem o nome diretamente ligado ao esquema. O ambiente é de corrosão.

Quem prometia a “salvação nacional” precisa preocupar-se agora em salvar seu pescoço. Do presidente interino a seus ministros, passando por metade do Congresso, todos estão na corda bamba. E se Sérgio Machado está fazendo esse estrago, imaginem então o que não faria uma delação de Eduardo Cunha, caso seja mesmo cassado e preso.

Tudo o que é sólido se desmancha no ar. Isso vale para o governo Temer e também, é claro, para o sistema político brasileiro, em franca dissolução.

Mas o que se desmancha no ar pode ser recomposto em mais do mesmo, se as forças vivas da sociedade não forem capazes de apresentar saídas.

Não basta estar podre para cair. A crise entre os “de cima” precisa vir acompanhada da mobilização decidida dos “de baixo”.

DEVOLVAM OS COBERTORES

Cinco pessoas em situação de rua morreram em São Paulo nos últimos dias em decorrência do frio. Por si só isso seria motivo de indignação, numa cidade com tantos imóveis vazios: muita gente sem teto e muito teto sem gente. Mas indignou ainda mais a denúncia de que a GCM (Guarda Civil Metropolitana) tem atuado deliberadamente tomando cobertores e colchões dos sem-teto e desmontando suas barracas precárias, com as quais tentam se proteger do frio, sob o argumento de evitar a “favelização”. É inaceitável a conduta dos agentes municipais. O prefeito Fernando Haddad deveria vir a público, não para tentar justificar a prática, mas para condená-la veementemente e apresentar um plano emergencial de acolhimento, que evite novas mortes.

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4 comentários para "Boulos: Tudo o que é sólido desmancha no ar"

  1. Arthur disse:

    É bem verdade que as enormes distorções e equívocos praticados pelos governos liderados pelo PT(política de conciliação com as elites, falta de vontade para estabelecer políticas de democratização da midia, reforma tributária para criar o imposto progressivo etc) contribuiram para que chegassemos a esta situação, mas, está mais do que evidente que o grupo de abutres que se apossou do governo do país representa o que há de pior , de mais atrasado e criminoso, tendo a incumbência de implementar um projeto de terra arrasada em termos sociais,bem como de soberania nacional. É mais do que necessário que todos os setores da população que estão sendo e serão afetados por tal projeto reajam enquanto é tempo e digam não a tudo isso.

  2. Meu caro, Boulos.
    O seu Partido, o PT, desviou a luta histórica dos trabalhadores, acomodando-os na Social democracia tardia Brasileira, na qual quem recebe 100 reais de bolsa família já é classe média. O seu grande lider, LULA, não só enterrou a luta e resistência dos trabalhadores através dos corruptos e pelegos da CUT, como usou os trabalhadores para se locupletar no palácio. Felizmente o ” chute no traseiro” veio mais cedo do que se esperava. Os ” MORDOMOS da BURGUESIA” se foram, e agora os trabalhadores precisam estar atentos pois tentarão convence-los a defender
    os mesmos que os trairão. A luta histórica dos trabalhadores continuará, companheiro, apesar do PT.
    Josafá.

  3. Enio José disse:

    A cada dia cai a mascara de Temer, e, da direita hipócrita.
    Eis os “heróis” do MBL:
    http://www.cartacapital.com.br/blogs/direto-de-sao-paulo/mbl-herois-com-pes-de-barro

  4. Inês Pereira disse:

    Você disse tudo, Guilherme Boulos. Mas ainda tem muita gente que prefere enfiar a cabeça embaixo da terra para não enfrentar, quem sabe a vergonha de ter se posicionado tão equivocadamente no que se refere ao impedimento da presidente Dilma; talvez por preguiça de pensar (dá trabalho, demanda tempo e disposição para se confrontar com a própria consciência). Quem se recusa a aceitar o golpe, que engrosse a voz das ruas. Resistir é preciso!

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