Boulos: sobre o Plano Temer e convulsão social

“O povo vai sangrar”, dizem apoiadores do vice. Com sólido apoio entre parlamentares e blindagem da mídia, ele já faz cálculos para além do golpe. Talvez se esqueça do fator asfalto

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“O povo vai sangrar”, dizem apoiadores do vice. Com sólido apoio entre parlamentares e blindagem da mídia, ele  já faz cálculos para além do golpe. Talvez se esqueça do fator asfalto

Por Guilherme Boulos

O Brasil amanheceu nesta quinta-feira (28) com mobilizações em avenidas e rodovias de nove Estados. A jornada foi organizada pela Frente Povo Sem Medo e levou às ruas milhares de pessoas. Foi uma demonstração da resistência organizada ao descaminho que o Parlamento parece querer impor ao país.

Se de fato concretizar-se o golpe político em curso e a tentativa de aplicação do “Plano Temer”, o que ocorreu na manhã de hoje poderá se tornar rotina.

O caráter espúrio do processo de impeachment de Dilma evidenciou-se mais uma vez com a escolha da comissão do Senado na última terça.

Não bastava o processo ter sido iniciado e conduzido por alguém da estirpe de Eduardo Cunha. Não bastava o espetáculo lamentável daquela tarde de domingo, onde os deputados falaram de tudo, menos de crime de responsabilidade. Não bastava. Para completar o escárnio, precisavam também colocar Antonio Anastasia na relatoria do processo no Senado.

Anastasia é o fiel escudeiro de Aécio, candidato derrotado em 2014 por Dilma. Anastasia foi governador de Minas Gerais e ficou conhecido por usar e abusar das ditas pedaladas fiscais, que em seu relatório ele colocará como razão suficiente para a destituição da presidente. Aliás, foi ainda mais criativo ao contabilizar vacina de cavalo nas despesas com saúde pública. Uma verdadeira cavalgada fiscal.

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Com essa sucessão de hipocrisias, que desmoralizam por completo o Parlamento – aqui e lá fora –, fortalece-se a descrença popular em qualquer saída institucional para a crise. Restam apenas as ruas.

Mas a mobilização popular, evidentemente, não se pauta apenas pela política: “É a economia, estúpido!”. Como disse num descuido o senador Hélio José (do próprio PMDB), “o povo vai sangrar” com o plano arquitetado por Michel Temer, os “Chicago boys” e a Fiesp.

Nos últimos dias, Temer falou na necessidade de “cortes radicais”, mantendo apenas os investimentos públicos em andamento e não realizando nenhum novo empenho. Ou seja, deixar de construir casas, obras de saneamento e infraestrutura etc. Traduzindo: aumento do desemprego e desestruturação das políticas sociais.

Falou também que um de seus primeiros projetos para o Congresso Nacional seria a desvinculação das receitas obrigatórias do Orçamento da União, o prolongamento e ampliação da DRU. Traduzindo: redução dos já raquíticos investimentos em saúde e educação, que tem vinculação mínima legalmente prevista.

E, como cereja do bolo, falou nas reformas trabalhista e previdenciária, iniciando pela desindexação do salário mínimo para as aposentadorias.

Ora, alguém duvida de que uma agenda econômica como essa, de regressão social sem precedentes, irá convulsionar a sociedade brasileira?

Ainda mais sendo aplicada por um eventual presidente sem a legitimidade do voto, um presidente biônico.

Se de fato vier a assumir, Temer terá uma maioria parlamentar robusta, um apoio consistente do mercado e uma blindagem da maior parte da mídia. Isso talvez lhe permita aprovar medidas hoje heréticas, como a CPMF, diante do sorriso envergonhado de Paulo Skaf e dos patos que o seguem.

Mas essa trégua dos de cima poderá não vir acompanhada de uma trégua dos de baixo. Se consolidada a aprovação do impeachment no Senado no próximo dia 11, deverá abrir-se um período longo de instabilidade.

A descrença popular nas instituições, um governo sem legitimidade e a aplicação de um programa de profunda regressão social formam a combinação explosiva capaz de convulsionar o Brasil.

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2 comentários para "Boulos: sobre o Plano Temer e convulsão social"

  1. MARIA MERCEDES MERRY BRITO disse:

    O governo atual e anteriormente o de Luiz Inácio da Silva tem patrocinado a instalação em suas entranhas de um poderoso instrumento que funciona 8 horas por dia ” contra si mesmo “, em centenas de municípios do território nacional. São as TVS de LED que chegam a ter 40 polegadas e boa qualidade de imagem e de som principalmente nas instituições públicas das regiões Centro, Sul e Centro Oeste. Há muito tenho observado esse “cochilo” do Estado, por exemplo, nas UBS nas UPAS e nos orgãos da Receita Federal. Em todos eles os cidadãos encontram modernos equipamentos de TVS, instalados e ligados exclusivamente na REDE GLOBO ou outras poucas similares que vem fazendo juntas, sistematicamente, abertamente, despudoradamente campanha a favor da quebra do Estado de Direito conquistado a duras penas pelo povo brasileiro. Resultado: Os cidadãos vão ás UBS, demoram menos de duas horas para serem atendidos em suas demandas. Tomam suas vacinas. São acolhidos e atendidos pelas equipes de ESF . Passam no setor odontológico, para uma limpeza básica de dentes e pegar pasta e fio dental. Participam da academia da cidade. Pegam remédios nas farmácias, e voltam para casa falando mal, mas muito mal mesmo,
    de Dilma Rousseff.

  2. Arthur Araujo disse:

    Bastou a volta às ruas de diversos movimento populares para protestarem contra o golpe do impeachment para que os chamados coxinhas e os “indignados” da classe média alta as deixassem. Na verdade os setores populares jamais deveriam ter deixado as ruas, porém, isso comprova um dos equívocos das políticas dos governos Lula e Dilma que buscaram desmobilizar os movimentos de trabalhadores e dos demais setores populareres, o que acabou por abrir espaço para os setores elitistas, conservadores e até mesmo fascistas. E tudo isso em nome de uma pretensa governabilidade que agora se desmonta, comprovando mais uma vez que é impossível conciliar os interesses de explorados e de exploradores, de oprimidos e opressores. Os embates que têm ocorrido ultimamente reafirmam o fato de que as elites brasileiras continuam mantgendo uma mentalidade escravocrata, atrasada, e, ao mesmo tempo, impregnada pela teoria da dependência externa, no caso emkj relação ao imperialismo ianque. A esperança é que tudo isso sirva de lição aos setores progressistas e populares no sentido de que seja retomado o protagonismo das ações políticas e sociais nas ruas e em todos ou lugares, por todo o país de forma permanente para procurar evitar noovos retrocessos sociais e políticos independentemente do desfecho da atual crise política.

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