A intervenção no Rio e sua face (muito) lucrativa

Mídia já começa a insinuar: Estados devem gastar mais em segurança, esquecer as áreas sociais e, quem sabe, privatizá-las sem delongas…

Sorrisos e interesses: no dia de sua posse, Temer recebe Cláudio Lottemberg, presidente da United Health/Amil. Saúde privada aposta no sucateamento dos hospitais e redes de atendimento públicos

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Por Artur Araújo

Primeiro se provoca uma gigantesca recessão, com a desculpa de controle da inflação. O resultado é o único possível, a arrecadação tributária despenca e os investimentos e despesas do Estado têm que ser drasticamente reduzidos. Os verdadeiros objetivos – ampliação do desemprego para redução forçada do preço do trabalho humano e colapso proposital do setor público como “prova” de sua ineficácia estrutural – ficam mascarados.

Aí vem o segundo passo, o famigerado “teto de gastos” via emenda à Constituição, que fixa a base dos dispêndios em um patamar calculadamente deprimido. A continuidade de um Estado Nacional sem poderes de investimento e de prestação de serviços decentes está assegurada, independente do cenário econômico. Exige-se de municípios e estados engessamento idêntico.

O terceiro momento é o da repercussão amplificada e por saturação da crise no aparato de segurança pública. Operando a partir do senso comum – “há criminalidade descontrolada porque as polícias não agem com o rigor devido” – o sucateamento do setor, fruto da falta de dinheiro (artificial e propositalmente criada) é soterrado na barragem de comunicação.

A capa do Valor impresso de hoje escancara a quarta etapa: para “resolver” os problemas de segurança pública os estados “terão” que reduzir ainda mais seus investimentos e despesas. Manchetando que “Penúria é principal causa da violência nos Estados”, o jornal rasga o véu e afirma cinicamente que:

“A piora dos resultados fiscais foi a principal causa do aumento da violência no Rio e o problema pode se repetir em outros Estados. Dados de relatórios fiscais mostram que de 2016 para o 2017 o déficit primário agregado dos Estados quintuplicou. Mesmo levando em conta as características específicas da falta de segurança na capital fluminense, o Rio não é considerado por analistas como um caso único, mas somente como a face mais aguda de uma verdadeira penúria fiscal que afeta os Estados de forma geral. O ajuste estrutural é o caminho apontado para evitar a disseminação do descontrole.

(…)

‘Eu não diria que só a crise fiscal gerou o problema de segurança no Rio, mas o desequilíbrio fiscal deteriora a capacidade de planejamento e de investimento. Há impactos na qualidade dos serviços públicos, em particular na saúde, segurança e educação’, diz a economista Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman. O problema, ressalta, não é restrito ao governo fluminense. ‘O Rio é somente a face mais aguda da crise do desequilíbrio fiscal dos Estados.’

Para Ana Carla, a única forma de evitar um colapso geral é fazer um ajuste estrutural, especialmente olhando as despesas. Ceará, São Paulo, Espírito Santo e Alagoas, exemplifica Ana Carla, estão entre os Estados que estão aplicando medidas de maior rigor fiscal. ‘Se não corrigirmos o problema estrutural que hoje afeta os Estados brasileiros, vamos assistir a problemas desse tipo no país todo, como já vimos pipocar no Rio Grande do Norte e em Goiás.'”

O que se seguirá na formuleta liberal é mais do que conhecido. A título de “mais investimentos em segurança”, serão ainda mais reduzidos os recursos destinados à educação, à saúde, à habitação, ao saneanento e às obras públicas.

O quinto elemento surgirá “naturalmente”: onde falta Estado, haja mercado, em nova onda de privataria nos investimentos e de oferta de serviços privados “populares”.

Para além da jogada politiqueira, eleitoreira e oportunista da intervenção federal na segurança publica no Rio de Janeiro, que explora demagogicamente o justo sentimento popular de insegurança contínua, o rentismo quer escancarar para o mercado o atendimento das necessidades dos cidadãos, operando a inviabilização artificial da universalidade do Estado de Bem Estar definido pela Constituição de 1988.

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2 comentários para "A intervenção no Rio e sua face (muito) lucrativa"

  1. josé mário ferraz disse:

    Disse bem dona Sonia Diemer. A humanidade precisa acordar para a realidade de estar superada a atual fase de civilização e passar para uma quinta etapa de sua existência porquanto a perversidade dos líderes políticos é tão grande que consideram haver pessoas que não precisam comer.

  2. Sonia Diemer disse:

    Olá.
    O Povo precisa acordar e assumir sua cidadania, dizer não as politicagens e os interesses de “amiguinhos”, que insanidade aceitar isso, o que o Rio no caso teria de diferente dos outros lugares do País? Nada, só interesses de alguns das sombras, Vamos dizer não, não vamos pagar segurança para ninguém, pois estamos na insegurança com essa politicagem e não com os ditos “bandidos”, quem são na verdade?

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