A alternativa das grandes reformas

Diante de direita radicalizada e hesitações de Dilma, MTST aposta nos ecos de Junho – e promete enorme manifestação S.Paulo, hoje

141113-Junho

Milhares protestam contra aumento das passagens de ônibus na avenida paulista, em junho de 2013. Será possível uma nova onda de mobilizações sociais?

.

Diante de uma direita radicalizada e das hesitações do governo Dilma, MTST parece apostar nos ecos de Junho – e promete reunir 15 mil em São Paulo, esta tarde

No novo cenário político brasileiro, que parece cada vez mais incerto e surpreendente, entrará um novo ator, às 17h de hoje. Uma mobilização “contra a direita e por direitos”, convocada pelo MTST mas já engrossada por um leque amplo de organizações e pessoas, partirá do vão livre do MASP, em São Paulo. Os organizadores preveem que reúna15 mil pessoas, e desfile pelas principais avenidas da cidade. Tanto a velha mídia quanto os sites e blogs alinhados com o governo Dilma estão silenciosos. Mas há potência na iniciativa. Ela busca forças nos ecos das imensas manifestações de Junho de 2013. Procurando captá-los, construiu, num notável exercício de criação política, uma pauta de cinco grandes reformas. Foi capaz de abrir diálogos com novos e velhos movimentos. Crescerá? A resposta será construída a partir desta tarde.

Três incógnitas essenciais merecem ser observadas. A primeira é a própria capacidade de mobilização do MTST. Pouco conhecido até 2013 (apesar de existir desde 1997), o movimento reintroduziu, no imaginário das metrópoles brasileiras, o signo da luta das maiorias por igualdade e por direitos. Há cerca de um ano, mobilizou 30 mil pessoas, na ocupação de um imenso terreno, reservado à especulação imobiliária, na periferia Sul de São Paulo. O local foi chamado, emblematicamente, de Nova Palestina – e o MTST continuou a causar. Realizou outras ocupações gigantes, entre as quais a Copa do Povo, que denunciava a desproporção entre os recursos públicos oferecidos a “mega-eventos” e os destinados à garantia de vida digna. Pressionou a Câmara de Vereadores por mudanças importante no Plano Diretor de São Paulo – exercendo papel mais ativo que o dos movimentos da classe média intelectualizada.

Guilherme Boulos, sua principal referência, nunca escondeu o objetivo por trás de tais atos. Muito mais que o direito a um teto, o MTST luta pela emancipação das periferias, por algo como uma Revolução Urbana, suficiente para desfazer a divisão das metrópoles brasileiras entre pequenas Casas Grandes e enormes Senzalas. Agora, Boulos e seus companheiros parecem ter encarado um desafio maior. Na manifestação de hoje, o MTST pretende lançar um conjunto de grandes reformas: Política, Tributária, Urbana, Agrária e Democratização da Mídia. A proposta suscita questões que foram esquecidas, mas dialogam com dramas reais de diversos setores. Reforma Urbana inclui controle do preço dos aluguéis. Reforma Agrária aponta uma saída não-ortodoxa para o aumento dos preços da cesta básica. A pergunta é: os sem-teto manterão, em torno desta pauta muito mais ampla (e, em certo sentido, abstrata) a mesma capacidade de manter unida sua base?

141113-MTST

A segunda incógnita remete ao cenário político geral. Em condições normais, uma grande mobilização popular, em torno de uma pauta ousada de reformas, seria motivo para manchetes. Nos protestos contra a Copa do Mundo, quando interessava aos conservadores desgastar o governo Dilma, reuniões de 300 pessoas iam à capa dos jornais e recebiam muitos minutos na TV. Agora, silêncio: a mídia busca criar escândalo em torno de questiúnculas, com o novo cálculo do superávit primário proposto pelo governo. Mas… e a própria esquerda histórica, no Palácio do Planalto: dialogará com a pauta das cinco reformas? Qual a presidente em exercício? A que assumiu, no discurso de vitória, o compromisso com as mudanças (em especial, a Reforma Política)? Ou a que sinalizou, dias depois, estar disposta a concessões à direita, como elevação dos juros, corte dos gastos públicos e “ajuste fiscal”? Quais as probabilidades de o governo – pressionado pelos grandes interesses econômicos mas ao mesmo tempo ligado a eles – apoiar-se na nova mobilização social e assumir uma postura menos ambígua?

A terceira incógnita tem a ver com resgatar os ecos de Junho de 2013. Para estimular mobilização social autônoma, o MTST não pode apostar apenas nos sem-teto. Precisa dialogar com outros movimentos, num leque social e ideológico muito mais amplo. Os grandes protestos de há um ano fizeram história porque foram capazes disso. Há indícios de que um processo semelhante está em curso. A mobilização de hoje atraiu a CUT (ligada ao PT), diversos sindicatos urbanos e também o Juntos (que reúne a juventude do PSOL). Entre as pessoas que confirmaram presença estão Luciana Genro, Leci Brandão (cantora a deputada pelo PCdoB) e Leonardo Sakamoto (blogueiro contra o trabalho escravo e as pequenezas de certa classe média). O MTST parece ter ido além do círculo a que a velha mídia procurava restringi-lo.

Até que ponto este esforço poderá mudar o cenário brasileiro? Talvez seja a hora de seguir a recomendação de um velho filósofo. Não basta interpretar a História – há momentos em que é preciso transformá-la…

Leia Também:

2 comentários para "A alternativa das grandes reformas"

  1. Fernando Fidelis Vasconcelos disse:

    E continuam de olho em nossas commodities, hoje incrementadas com enorme barril de petróleo.

  2. Fernando Fidelis Vasconcelos disse:

    É necessário maior articulação, assim como o fazem os direitistas, reacionários, psdbêstas, seja lá o nome que se dê. As metralhadoras, tanques, quartéis, patentes, continuam nas mãos destes reacionários. Os quartéis de ontem não são os mesmos de hoje, mas seu instinto sim. Poucos de hoje participaram de um ou outro lado, mas as máquinas de fabricar sonhos em forma de dólar dos Estados Unidos continuam azeitadas e sem mudanças, que o diga a Síria. Se o MTST não se preocupar com uma mobilização ampla conforme cita o texto seu poder de alcançar massa relevante será perdido, e o povo mais uma vez pagará com sangue e retrocesso. A possibilidade de reorganização reacionária nos molde de 64 continua real, não se iludam.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *