Software livre: A galáxia plural do GNU/Linux

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Ao contrário do que ocorre com o Windows e o similar da Apple, há inúmeras versões de sistemas operacionais livres. Por que isso ocorre? E quais as peculiaridades destas “distribuições”?

Por André Solnik*

Textos anteriores da coluna:

Para proteger-se da vigilância

Por que usar formatos abertos

Você também pode migrar

Carta aberta a Bill Gates

Se você leu os outros textos da série, é provável que já tenha baixado e experimentado alguns softwares livres multiplataforma, tenha sacado a importância dos formatos abertos e tenha entendido que segurança e privacidade não combinam com softwares proprietários. Que tal agora experimentar um sistema operacional livre na sua máquina?

Quando compramos um computador, é batata (a não ser que seja maçã…): ou vem com Windows ou com OS X, ambos proprietários. Apenas uma porcentagem ínfima já sai de fábrica com o GNU/Linux – este sim, livre – instalado. Se esse não for o seu caso, o jeito mais fácil de testá-lo é baixando uma de suas distribuições. Confuso? Então senta que lá vem história.

A comunidade de software livre é composta por diversas comunidades, que se articulam em torno de <i>projetos</i> e desenvolvem ferramentas de maneira razoavelmente independente. A conjunção de várias destas ferramentas forma um sistema operacional com tudo que o usuário precisa. Acontece que não é preciso utilizar necessariamente as mesmas ferramentas: para construir um sistema, é possível incluir uma e deixar outra de fora, substituir a ferramenta X pela Y ou ainda criar uma versão modificada da Z, por exemplo.

Nesse sentido, o GNU/Linux assemelha-se a um quebra-cabeça. Como nem todas as peças são fixas, não existe uma versão “oficial’; o que há são distribuições de GNU/Linux, que aglutinam certos componentes para compor um todo coerente. Cada distribuição, portanto, constitui um sistema operacional completo.

O Windows é sempre Windows, o OS X é sempre OS X. Eles também são quebra-cabeças, mas daqueles que já vêm montados e emoldurados de fábrica. O GNU/Linux, ao contrário, assume formas mil. Talvez você já tenha ouvido falar do Ubuntu, certo? Muita gente acha que Ubuntu e GNU/Linux são a mesma coisa, mas na verdade ele é apenas uma das centenas de distribuições que existem por aí prontas para serem baixadas.

Como as peças do quebra-cabeça são livres, ou seja, podem ser estudadas, copiadas, modificadas e melhoradas, várias distribuições surgem a partir de outras, criando verdadeiras famílias. Dê uma olhada nesta “árvore genealógica” das distribuições de GNU/Linux para você entender melhor como a coisa funciona. Achou o Ubuntu? Ele é uma cria do Debian, uma das distribuições mais antigas e prolíficas ainda em atividade.

Com tantas opções, qual distribuição escolher? Impossível responder assim, de bate-pronto. Para que você comece a esboçar uma resposta é preciso levar em conta as particularidades de cada uma delas. O percurso que eu trilhei até aqui talvez possa fornecer algumas pistas.

Minha primeira experiência foi com o Ubuntu. Popularidade, documentação detalhada e boa oferta de softwares foram os fatores que me levaram a tomar essa decisão lá nos idos de 2007. Quando passei a me interessar pela filosofia que embasava o movimento software livre, descobri o Trisquel, uma das distribuições totalmente livres recomendadas pela Free Software Foundation.

Assim que passei a recomendá-lo, dei de cara com uma dificuldade técnica: se, por exemplo, uma placa de rede sem fio precisasse de um driver ou firmware proprietário para funcionar – o que, infelizmente, ainda é bastante comum –, sua instalação não seria tão simples. Isso me fez finalmente migrar para o Debian, uma distribuição mantida por uma grande e ativa comunidade de voluntários, eticamente comprometida com o software livre, estável e segura. É atualmente a distribuição que eu uso e indico, mas não deixe de incluir outras na sua pesquisa antes de tomar uma decisão.

O Fedora, focado em inovação e segurança, é mantido com o patrocínio da multinacional Red Hat, que utiliza os resultados para produzir o Red Hat Enterprise Linux, distribuição paga oferecida como solução para grandes empresas. O Arch Linux é uma distribuição minimalista e altamente configurável. Não é à toa que é a queridinha dos usuários mais avançados. Para quem quiser uma experiência “out of the box”, com praticamente todos os drivers, codecs e principais programas já instalados, uma opção bem popular é o Linux Mint.

Algumas distribuições são voltadas para necessidades/públicos específicos ou são plataformas para testar novas ideias. É o caso do elementary OS, que deixa qualquer usuário de OS X se sentindo em casa. Se você achava que aquele seu computador velho e poeirento não tinha mais jeito, saiba mais sobre o Lubuntu e o antiX.

Para quem tem uma preocupação especial com privacidade e segurança, o Tails foi criado para simplificar o acesso à internet de forma anônima, enquanto o Qubes minimiza as chances de ataques remotos à sua máquina. O Ubuntu Studio e o AV Linux são otimizados para o uso de aplicações multimídia, como editores de áudio, vídeo e fotografia. Para jogos, o Steam OS, ainda em fase beta, promete. Caso você ainda esteja a fim de conhecer outras, perca-se navegando pelo DistroWatch.

Não é preciso instalar todas elas para decidir sua favorita. Boa parte das distribuições pode ser rodada a partir de uma mídia removível sem que o HD do seu computador sofra qualquer alteração. O passo a passo para fazer isso não é exatamente o mesmo para todas as máquinas, por isso fica difícil indicar um link que vá te guiar no caminho até o pote de ouro. Os fóruns, tutoriais e manuais das próprias distribuições costumam ser ótimos pontos de partida para quem quiser se aventurar nessa. Boa sorte!

*André Solnik é estudante e ativista do movimento pelo software livre

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2 comentários para "Software livre: A galáxia plural do GNU/Linux"

  1. Igor Brauns disse:

    Eu uso Arch, apesar de não me considerar “power user”. O controle que ele coloca nas suas mãos para ir moldando o sistema à sua imagem é imenso. Pra quem tem bom conhecimento em inglês, ele possui uma vasta documentação muito bem formatada (há muito artigos em português, mas não todos). No entanto ele não vai tirar qualquer “gap” de conhecimento que você tiver em relação a arquitetura do próprio OS. Você precisa manjar alguma coisa.
    Para quem tenha interesse, uma leitura introdutória, que serve para qualquer distribuição: http://linuxcommand.org/tlcl.php
    Aprendi mais com esse livro do que com qualquer outro. É gratuito e acredito que um dia sairá uma versão em português.

  2. Luis disse:

    Gosto muito do Elementary OS. Talvez o mais amigável para os novos usuários.

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