?️ A periferia na rota de colisão

Nas margens das metrópoles, primeiras mortes por covid-19 são registradas. O risco é duplo para população: faltam condições de prevenir doença e assistência do Estado para ficar em casa. Ignorados pelo poder público, resta-lhes auto-organização

João Sette Whitaker em entrevista a Rôney Rodrigues, no Tibungo

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O coronavírus já chegou à periferia. Diversos casos começaram a ser registrados e uma catástrofe pode estar em marcha. Favelas e periferias enfrentarão a pandemia em condições muito adversas: o descaso de governos, problemas no abastecimento de água, no saneamento básico, na coleta de lixo, a falta de habitação adequada e falta de urbanização, espaços insalubres, transporte público precário e falta de hospitais e postos de saúde. A lista é grande – e as soluções propostas pelo governo, seja federal, estadual ou municipal, são poucas. Faltam ações estruturais e emergenciais para impedir esse iminente extermínio da população pobre e negra.

Mas, como as respostas à crise não consideram essas realidades, a própria periferia começa a se articular em autogestão popular. Estão formando redes de solidariedade para distribuir alimentos, carros de som com mensagens de conscientização, instalação de torneiras e sabonetes na comunidade, monitoramento e auxílio de pessoas já doentes, fazendo compras para idosos… O Centro de Estudos Periféricos (CEP) divulgou, na última semana, uma carta com 23 medidas para conter a pandemia a partir da realidade das periferias de São Paulo. Incluem ações como caminhões pipas, hospitais de campanha em terrenos ociosos e distribuição gratuita de kits de higiene, limpeza e prevenção, a suspensão da cobrança de contas de água e luz, o congelamento do preço do botijão de gás e dos alimentos da cesta básica e usar a rede hoteleira para abrigar população periférica em risco, como pessoa com doenças crônicas e idosos.

Mas como resistir quando governos ignoram as dinâmicas peculiares da periferia e recusam-se até mesmo a ações simples e baratas como campanhas para informar população, distribuição de materiais para higiene e prevenção? Para analisar a segregação espacial frente a pandemia, conversamos com arquiteto e urbanista João Sette Whitaker, professor da FAU/USP e ex-secretário de Habitação na gestão Fernando Haddad.

Para João Whitaker, mesmo com ações mitigadoras, importantíssimas principalmente para a conscientização da população da seriedade da pandemia, uma tragédia é inevitável — e milhares morrerão na periferia brasileira por culpa das ações nefastas de Jair Bolsonaro. 

Sem ajuda financeira emergencial adequada, já que a Renda Mínima aprovada só atingirá parte da população, muitos terão que trabalhar: correndo risco de contágio pessoal e de suas famílias. Quando chegarmos ao colapso da saúde e até do sistema funerário, como vimos no Equador, com pessoas mais pobres morrendo em suas casas e nas ruas, será tarde demais. 

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