Paulo Kliass: Conservar a unidade, sem esquecer autocrítica

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“Estamos pagando hoje o preço do abandono do trabalho popular e de massas, que foi substituído pela ilusão de ter chegado aos postos da máquina do governo federal”

Por Paulo Kliass

Outras Palavras está indagando, a pessoas que pensam e lutam por Outro Brasil, que estratégias permitirão resgatar o país da crise (Leia a questão completa aqui e veja todas as respostas dos entrevistados aqui).

Estamos a um ano da operação de impedimento de Dilma Rousseff. A consolidação do golpeachment e o período que se seguiu apenas vieram a confirmar uma tendência de aprofundamento autoritário dos grupos que se apropriaram de forma ilegítima do governo federal.

A continuidade da política do austericídio, no entanto, só fez aumentar ainda mais a impopularidade de Michel Temer junto à maioria da população. Além disso, confirmou-se a falácia de que bastaria tirar Dilma para que o espetáculo do crescimento tivesse início. O desemprego é fenomenal, a falência de empresas é generalizada e a crise socioeconômica reduz as margens de manobra do governo no interior de sua própria base aliada no Congresso Nacional.

O sucesso da greve geral de 28 de abril abre uma nova fase na luta contra as medidas de desmonte patrocinado pelo governo ilegítimo. O governo tem recuado a cada dia que passa em sua proposta inicial da “reforma” da Previdência na Câmara dos Deputados, ao mesmo tempo em que enfrenta dificuldades para votar a “reforma” trabalhista no Senado Federal.

A impopularidade do governo se soma à ampliação das denúncias envolvendo partidos como o PMDB, PSDB, DEM e outros da base de Temer. As classes dominantes não conseguiram emplacar nenhum de seus candidatos com capacidade eleitoral em outubro do ano que vem. Lula segue liderando as intenções de voto, seguido por alternativas como Bolsonaro, Marina e Dória. Apesar de todos os três apresentarem perfil conservador, de nenhum deles se pode dizer que seja da cozinha dos patrocinadores do golpe.

Não deve haver contradição entre as lutas imediatas contra o atual desmonte das conquistas embutidas na Constituição e a construção de alternativas político-eleitorais no interior do campo progressista. O segredo da boa luta é a unidade de todas as forças políticas envolvidas. Por isso é essencial manter a postura unitária no interior das lideranças e entidades do amplo movimento que prepara a mobilização do dia 24 de maio.

Isso não significa abandonar a necessária articulação e discussão de alternativas programáticas e candidaturas para 2018. Virar a página significa também promover um amplo e profundo processo de reflexão e autocrítica a respeito dos avanços e debilidades ocorridas ao longo do período que se seguiu a janeiro de 2003. Estamos pagando hoje o preço do abandono do trabalho popular e de massas, que foi substituído pela ilusão de ter chegado aos postos da máquina do governo federal. Estamos sentindo no dia a dia a falta de medidas estruturais regulando o sistema financeiro e os meios de comunicação.

Virar a página significa barrar o retrocesso em curso, por meio de avanços na luta política cotidiana contra as medidas encaminhadas por Temer. Mas significa também avançar na tentativa de impedir que esse programa conservador tenha sua consolidação pelo voto nas eleições do ano que vem.

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Um comentario para "Paulo Kliass: Conservar a unidade, sem esquecer autocrítica"

  1. Ruy Mauricio de Lima e Silva Neto disse:

    Sem dúvida alguma, regular o sistema financeiro e os meios de comunicação é fundamental para que um próximo governo progressista (de preferência, veramente socialista no sentido original de Jaurès e Rosa Luxemburgo, e não este socialismo escroto, atual e de várias décadas já. dos europeus – Mitterand, Jospin, Willy Brant, Hollande,etc) seja bem-sucedido.A “pequena” dúvida é: quem formulará o programa de um tal governo e quem conduzirá a sua implantação? Já combinamos com os russos? Precisaremos de “aliados” no Congresso (Jucá, Renan,Padilha, Moreira Franco, Geddel, Temer) para garantir a “governabilidade” ?(sinceramente não entendo como é que tanta gente supostamente experiente e com discernimento se deixa enredar por novos conceitos-fetiches e palavras-chaves maliciosamente criadas por Elite & Mídia para emperrar qualquer esforço realmente progressista. Ou é burrice ou é mau-caratismo, espírito alienante e argentarismo mesmo).

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