Oxfam: Brasil, vulnerável a novas pandemias?

• Indústria da saúde e vulnerabilidade a pandemias • Hemobrás quase completa • Vacina antidrogas brasileira ganha prêmio • Inteligência Artificial fará bem à medicina? • Comissão Nacional de HIV/aids • Tang não faz bem à saúde •

Foto: Opas
.

Um documento produzido pela Oxfam Brasil em parceria com a Fiocruz Amazônia indica o principal flanco brasileiro na preparação para o combate a futuras pandemias: a insuficiência dos atuais investimentos no complexo econômico-industrial da saúde (Ceis). A nota técnica “Capacidade de produção de vacinas no Brasil”, lançada na última quarta-feira (25/10) e noticiada pelo Brasil de Fato, ressalta que 90% dos insumos para produção de medicamentos ainda são importados pelo país. 50% dos equipamentos médicos e 60% dos medicamentos finais também só estão disponíveis por meio da importação. Um dado é particularmente ilustrativo das deficiências de nossa soberania sanitária. Enquanto no Brasil só existem hoje 15 fábricas que produzem ingrediente farmacêutico ativo (o IFA), esse número já chega a mais de mil na China. Para reverter este quadro, as recomendações da nota técnica se alinham ao que movimentos e entidades da saúde vêm defendendo há anos: um pacote massivo de investimentos no Ceis e maior cooperação regional na América Latina em Saúde.

Hemobrás prestes a tornar-se autônoma em produção de hemoderivados

A fábrica de biotecnológicos da Hemobrás, em Pernambuco, de fato deve ficar pronta em dezembro deste ano. É o que atestam representantes do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU), que fizeram uma visita técnica aos blocos produtivos da fábrica de hemoderivados e também na do recombinante. A nova fábrica colocará o Brasil no grupo de países com tecnologia avançada nesse campo, promovendo a produção nacional de medicamentos essenciais para o tratamento de hemofilia A. Além disso, a Hemobrás está finalizando a fábrica de hemoderivados, que deve estar pronta em 2024, permitindo a produção nacional de seis dos hemoderivados mais consumidos no mundo. A independência na produção de hemoderivados é um passo crucial para o Brasil, que atualmente depende da importação para fornecer os medicamentos ao SUS. A saúde privada, no entanto, pressiona no sentido oposto. Sua investida mais recente veio com a chamada PEC do Plasma, que almeja permitir que empresas comprem processem o sangue dos brasileiros – entenda seus riscos aqui.

Calixcoca ganha prêmio internacional

Em evento na semana passada, a vacina brasileira contra crack e cocaína ganhou 500 mil euros de uma premiação que apoia projetos de inovação em saúde na América Latina. O valor será destinado “ao avanço dos estudos” do grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que a desenvolve. A Calixcoca, como foi batizado o imunizante, pretende ajudar pacientes a deixar a dependência por meio do estímulo à criação de “anticorpos que se ligam à droga e impedem que ela entre no cérebro” e ative a sensação gratificante que a caracteriza, de acordo com o psiquiatra que coordena a equipe. A próxima etapa dos estudos com a vacina será a de testes em humanos: até aqui, segundo os pesquisadores, 3 mil voluntários já se inscreveram para participar dessa fase. Primeira vacina antidrogas do mundo, a Calixcoca é pensada por seus desenvolvedores como um apoio às abordagens de psicologia e assistência social hoje empregadas junto aos dependentes – e eles ressaltam que não a vêem como uma “panaceia” administrável em todos os usuários.

A inevitável chegada da IA na medicina

Em princípio, a Inteligência Artificial começou a ser vista como um vilão da medicina, cuja evolução estaria pronta para eliminar empregos em massa, em especial em ocupações tidas como coadjuvantes na área, como análises de exames de imagens ou mesmo ministração de remédios. Agora, matéria da Nature fala em uma onda de otimismo. Com o advento de tecnologias como o Chat CPT, e mesmo o aperfeiçoamento de algoritmos de pesquisa, capazes de desenvolver mais rapidamente uma vacina, por exemplo, o panorama parece começar a mudar e a IA passa a ser vista como uma inescapável parceria para um aperfeiçoamento das práticas médicas. São muitas as especialidades em que a boa capacidade de analisar imagens ou opções de terapias são necessárias e a IA pode oferecer rapidez e ganho de tempo no tratamento. Claro, o artigo talvez seja um pouco otimista ao desconsiderar as razões de mercado. É claro que uma IA a serviço do bem estar, de usuários de serviços de saúde e seus profissionais, tem muito a contribuir para a sociedade. No entanto, no mundo regido pela lógica da acumulação, este é um campo de uma batalha ainda a ser disputada.

Governo recompõe Comissão Nacional de HIV/aids

Constituída pela primeira vez em 1986 no governo Sarney, a Comissão Nacional de HIV/aids (CNAids) terá sua composição reformulada, segundo decisão do Ministério da Saúde (MS) publicada no Diário Oficial da União. Como informa a Agência Brasil, a nova configuração da CNAids prevê que ela seja coordenada pelo Departamento de HIV/aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do MS e tenha suas cadeiras preenchidas por “órgãos de saúde, conselhos profissionais e redes e movimentos da sociedade civil”. Uma novidade relevante é a retomada da participação da Comissão de Gestão em HIV/aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Coge) na CNAids. A Coge, reinstalada em julho, havia sido desativada por governos anteriores – dificultando a articulação do MS com os Estados e municípios nessa área. As comissões participativas tendem a ser importantes espaços – seja a partir das sugestões ou do embate – para que a sociedade incida sobre as políticas do governo.

Suco em pó tem vitaminas

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) denunciou a marca Tang por publicidade enganosa em seus refrescos ultraprocessados. A denúncia foi motivada pelo uso de publicidade que associa os produtos a alimentos saudáveis devido à presença de vitaminas e minerais específicos, apesar de conter edulcorantes, excesso de açúcar, sódio e aditivos alimentares cosméticos. O Idec destaca que a associação dos refrescos com alimentos saudáveis pode levar os consumidores ao engano, uma vez que esses produtos são classificados como ultraprocessados e podem ser prejudiciais à saúde. Além disso, a marca foi acusada de práticas abusivas ao usar imagens de crianças em suas publicidades, o que desrespeita normas do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e do Código de Defesa do Consumidor. A nutricionista do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec ressaltou que as alegações de ser “rico em vitaminas” e “fonte de zinco” não tornam o produto nutricionalmente adequado devido à presença de ingredientes prejudiciais não enfatizados nas embalagens.

Leia Também: