Juarez Xavier: Hora de autocrítica efetiva

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“A conciliação de classes foi a falta mais grave. Devemos concentrar esforços no movimento social, nas ações políticas disruptivas da juventude, e nas iniciativas de negras e negros, mulheres, gays, lésbicas, trans”

Por Juarez Xavier

Outras Palavras está indagando, a pessoas que pensam e lutam por Outro Brasil, que estratégias permitirão resgatar o país da crise (Leia a questão completa aqui e veja todas as respostas dos entrevistados aqui).

Que estratégias políticas permitirão virar a página do golpe e dos retrocessos?

Creio que três ações articuladas fazem parte dessa estratégia: A primeira é a mobilização dos segmentos sociais atingidos pelas medidas. Esse segmento não se encontra organizado, apenas, no campo da economia formal. Na periferia do sistema do mercado de trabalho, há uma malha de milhões de pessoas que lutam pela sobrevivência diária, e são classificadas como descartáveis pela grande capital. Se no passado essa massa formava um exército de reserva, que deprimia a massa salarial ao nível mais baixo, na atualidade, esse grande contingente de milhões de pessoas não ingressará no mercado e nem nas linhas do exercício da cidadania. Incorporá-lo numa ação conjunto com os trabalhadores organizados torna-se fundamental. Para isso, é preciso compreender que, no estado atual, como mostram os dados e pesquisas sobre o perfil sócio-econômico desse contingente humano, raça/etnia informa classe social; gênero informa classe social; classe social informa relações raça/etnia; classe social informa gênero. Os altos índices de violência que atingem essa população evidenciam a necessidade de tê-la como parte da ação política social. Segundo, a desobediência civil. A ilegitimidade desse governo desmoraliza suas ações institucionais. O congresso corroído pela corrupção estrutural desmoraliza suas ações políticas, e deslegitima qualquer medida aprovada. Em especial, as que visam desestruturar as conquistas obtidas deste 1988, no processo de democratização. Por fim, a terceira ação permanente e contínua contra o governo golpista e seus aliados, em todas as frentes políticas e sociais.

Como superar, além dos tempos ásperos de hoje, os erros do passado recente?

O instrumento da autocrítica é fundamental. Mas não a autocrítica formal, desidratada e covarde. Uma autocrítica efetiva e capaz de transformar “boas intenções em ações políticas transformadoras”. Os valores comprados no mercado da “classe média branca, urbana, escolarizada, patrimonialista, urbana e protofascista” devem ser abandonados em favor dos valores políticos que articularam o movimento popular ao longo dos anos de 1980 e 1990. A venda da conciliação de classes como ferramenta imprescindível para superar a segregação hedionda da sociedade brasileira – herdeira da brutal máquina de repressão material e imaterial de destruição de corpos não brancos — foi a mais grave falta cometida, e precisa ser superada com urgência. Ela mostrou-se desastrosa, para a consolidação dos avanços e para a resistência ao desmonte.

Onde devemos concentrar esforços?

No movimento social dos trabalhadores – do campo e da cidade –, nas ações políticas disruptivas da juventude, e foco nos movimentos sociais de negras e negras, de mulheres, de gays, de lésbicas, de trans. Em síntese: no movimento dos deserdados no mercado de trabalho e dos que são vítimas sistemáticas dos processos do racismo social brasileiro.

Nas eleições de 2018? Num processo mais profundo de lutas sociais? Mas, neste caso, começando por onde?

Em todas as frentes de ação! As eleições são um meio para as transformações sociais e não um fim em si mesmo. No cardápio estão as eleições, as ações profundas no movimento social, que devem começar já!

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