Exposição prolongada ao estresse na pandemia afeta funções cerebrais, mostram estudos

Comprometimento da memória e da aprendizagem, oscilações de humor, sentimentos de medo e incapacidade para concentração, realização de tarefas e tomada de decisões são alguns dos efeitos do “cérebro pandêmico”. Estudos mostram que estresse de longo prazo pode reduzir o volume cerebral

Arte: BBC
.

Por Leila Salim

Esta nota faz parte da nossa newsletter do dia 10 de agosto. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Não apenas a infecção pelo coronavírus e as sequelas da covid podem impactar nossas funções cerebrais. Cientistas têm mostrado que a exposição prolongada ao estresse crônico causado pela pandemia, independentemente da infecção pelo vírus, pode provocar efeitos que vão desde redução da memória e da concentração até atrofia de algumas partes do cérebro. 

É o que vem sendo chamado de “cérebro pandêmico”, um termo não científico que os pesquisadores adotaram para descrever o fenômeno. Como reportou a BBC,  especialistas explicam que lidamos agora com algo bem diferente do estresse “bom”, aquele com período de início e fim, vinculado a situações pontuais. O estresse no contexto da pandemia é crônico, intenso e mais grave porque se renova diariamente. Nossas mentes lidam com a situação sem a perspectiva de um “fim à vista”. 

O resultado é a liberação intensa do cortisol, um hormônio que, se desregulado em nosso organismo, pode provocar consequências como perda de massa muscular, dificuldade de crescimento, falhas na aprendizagem e, segundo os atuais estudos, também afetar o volume de algumas áreas do cérebro. 

Uma pesquisa da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, analisa os efeitos do distanciamento social e da ansiedade durante a pandemia em nossos cérebros. Exames de imagem detectaram mudanças no volume das regiões temporal, frontal, occipital e subcortical, assim como no hipocampo e na amígdala,segundo os cientistas. 

É importante lembrar que a prevalência de níveis elevados e prolongados de cortisol foram associados a transtornos de humor e encolhimento do hipocampo em momentos anteriores à pandemia, especialmente em pacientes com depressão. A questão é que os efeitos do “cérebro pandêmico” são mais amplos e atingem um número consideravelmente maior de pessoas. Além do comprometimento da memória e da capacidade de aprendizagem, estão associados aos efeitos do “cérebro pandêmico” as oscilações de humor frequentes, os sentimentos de medo ou incapacidade de concentração, de realizar várias tarefas ao mesmo tempo ou tomar decisões sem hesitação.

Segundo os pesquisadores, o fenômeno não é irreversível, mas, como tudo que nos aguarda no contexto pós-covid, exigirá tempo, paciência e esforços combinados para seu enfrentamento. 

Esta nota faz parte da nossa newsletter do dia 10 de agosto. Leia a edição inteira. Para receber a news toda manhã em seu e-mail, de graça, clique aqui.

Leia Também: