Vinte anos Carandiru e a violência do Estado no Brasil

Massacre de 111 presos é lembrado com escracho na casa de ex-governador e ato na Sé. Mas país ainda não age para por fim aos crimes do poder público contra os mais pobres

Por Piero Locatelli, na CartaCapital

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Massacre de 111 presos é lembrado com escracho na casa de ex-governador e ato na Sé. Mas país ainda não age para por fim aos crimes do poder público contra os mais pobres 

Por Piero Locatelli, na CartaCapital

No dia 2 de outubro de 1992, policiais invadiram o presídio do Carandiru e mataram ao menos 111 presidiários usando metralhadoras, fuzis e pistolas. Vinte anos depois do massacre, cerca de 50 pessoas protestaram em frente à casa de Luiz Antonio Fleury Filho, governador de São Paulo à época das execuções. Os manifestantes pediam a responsabilização dos criminosos pelos assassinatos. Até hoje, apenas o comandante da operação, o coronel Ubiratan Guimarães (morto em 2006), foi condenado, mas a decisão foi anulada pela Justiça.

O protesto foi organizado pela rede 2 de outubro, grupo que busca manter o caso em evidência, e o Levante Popular da Juventude, mesmo grupo responsável pelo protesto contra o suposto torturador da presidenta Dilma Rousseff. A calçada em frente à casa de Fleury foi pichada com a frase: “aqui mora o assassino que ordenou o massacre do Carandiru”. Os militantes cantavam músicas com letras como “do Carandiru eu não vou esquecer, quero ver a justiça acontecer”.

“Infelizmente, a repressão continuou com a redemocratização. A gente viu não só a continuação da lógica de genocídio contra as populações pobres, mas a intensificação disso”, diz Danilo Daro, militante do movimento 2 de outubro. “O massacre do Carandiru mostra isso nas duas dimensões mais trágicas: a política de extermínio e o encarceramento em massa”.

Com o protesto, os manifestantes esperavam constranger Fleury e também pressionar a Justiça para que tome atitudes sobre o massacre. “O Estado acaba se eximindo por não ser o executor direto. Existe uma política de não responsabilizar quem de fato deu a ordem”, diz a militante Juliane Furno.

Fleury Filho foi procurado pela reportagem. O segurança da casa onde ele mora disse inicialmente que iria perguntar se o ex-governador desejava dar uma entrevista. Em seguida, disse que ele estava viajando. Em entrevista ao Estado de S. Paulo no último final de semana, o ex-governador disse que não deu a ordem para a polícia entrar no presídio, mas que o faria se estivesse no local. Em janeiro, a Justiça vai julgar 28 policiais acusados pelo massacre. O caso foi transferido da justiça militar para a justiça comum em 1996 porque havia indícios de responsabilidade de Fleury e do então secretário de Segurança Pública, Pedro Franco de Campos. A Pastoral Carcerária defende que ambos deveria constar como réus no processo.

Outros protestos

Para relembrar o Massacre do Carandiru, movimentos sociais e a Pastoral Carcerária fazem nesta terça-feira 2 um ato na Praça da Sé, no centro da capital paulista. “O ato não é apenas um resgate da memória dos 20 anos do Carandiru, uma situação clara de que não esquecemos e não esqueceremos jamais do que aconteceu, mas é também uma denúncia pública sobre todas essas políticas de massacre das populações periféricas, pretas e pobres, que ainda acontece nos dias de hoje”, disse Rodolfo Valente, advogado da Pastoral Carcerária em São Paulo e integrante da Rede 2 de Outubro.

A denúncia, segundo Valente, não é só do Massacre do Carandiru. “É também uma denúncia ao massacre dos Crimes de Maio, ao massacre dos Eldorados de Carajás”, disse à Agência Brasil. Nos ataques de 2006, que ficaram conhecidos como Crimes de Maio e que ocorreram entre os dias 12 e 20 de maio, 493 pessoas foram mortas, entre elas, 43 agentes públicos. Um estudo feito pela organização não governamental (ONG) Justiça Global, divulgado no ano passado, apontou que, em 71 desses casos, houve fortes indícios do envolvimento de policiais que integram grupos de extermínio.

Já em Eldorado dos Carajás, no Pará, a ação da Polícia Militar causou a morte de 21 integrantesdo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Dezenove sem-terra morreram no local e dois a caminho do hospital. As mortes ocorreram durante o confronto com a polícia no quilômetro 96 da Rodovia PA-150, na chamada Curva do S.

Com informações da Agência Brasil

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